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    Ivan Rios

    Sindicalista, historiador, crítico de cinema, escritor, membro do Comitê Baiano de Solidariedade ao Povo da Palestina, graduando em Direito, militante dos Movimentos de Promoção, Inclusão e Difusão Cultural no Estado da Bahia

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    O dia do grande “Estado de Sítio” na Gadolândia: uma semi-ficção tragicômica

    Ivan Rios imagina o Brasil tomado por um "Estado de Sítio" contra a "ameaça comunista"

    Ato bolsonarista na Avenida Paulista (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

    No dia 7 de setembro de 2021, o presidente Jair Messias Bolsonaro, em um ato digno de um grande Dom Quixote, decretou estado de sítio no Brasil, alegando uma ameaça comunista. As tropas militares foram às ruas, mas a maioria dos cidadãos não percebeu muita diferença em suas rotinas diárias, acreditando que fosse um grande mutirão para pintar meio-fio. A mídia foi sensivelmente cooptada, mas como a internet ainda funcionava, as pessoas continuaram a compartilhar memes, vídeos de gatos e dancinhas do TikTok.

    Ana e Pedro, os líderes da resistência, tentaram organizar protestos, mas a maioria das pessoas estava mais interessada em assistir às novelas e aos jogos de futebol. Os poucos protestos que ocorreram foram rapidamente dispersos pela polícia, e a resistência nunca ganhou tração.

    Durante os 15 anos seguintes, a população estava mais preocupada em enriquecer a base dos jogos do tigrinho e em “tabocar” terceiros em esquemas de pirâmides financeiras. Igrejas neopentecostais, por sua vez, ocupavam as bocas em todas as quebradas das periferias, onde fiéis ostentavam bíblias e fuzis. A vida no Brasil continuou de forma monótona, com as pessoas reclamando do governo nas redes sociais, mas sem fazer muito para mudar a situação.

    A Petrobras havia falido, e a gasolina se tornou um artigo de luxo. A elite ostentava gasolina em frascos de perfumes como prova inequívoca de elevado status social. Com os carros parados, Ana e Pedro decidiram deixar o país a pé, enfrentando uma longa e árdua jornada. Enquanto caminhavam, lembravam-se de como as propagandas e Fake News haviam dito que o Brasil se tornaria uma Cuba com a ameaça comunista, mas acabaram transformando o país em um Haiti.

    Com a extinção do Ministério dos Esportes em 2019, os atletas brasileiros tinham que ir a pé com antecedência para o Paraguai para pegar carona com a delegação daquele país, a fim de participar das olimpíadas. Por sua vez, o governo brasileiro alegava que essa situação era um grande incentivo à excelência no preparo físico dos atletas, promovendo um "treinamento" natural e rigoroso.

    Finalmente, em 7 de setembro de 2036, a resistência tentou organizar uma grande manifestação em Brasília. No entanto, apenas algumas dezenas de pessoas apareceram, e a maioria delas foi embora quando começou a chover. O governo Bolsonaro, vendo que a resistência não representava uma ameaça real, decidiu manter o estado de sítio indefinidamente.

    No exílio, Ana e Pedro, desiludidos e cansados, desistiram de suas tentativas de mudar o país. Ana voltou para a faculdade de direito, em uma universidade particular, já que não existia mais ensino público no Brasil, e Pedro começou a trabalhar como redator de um blog de fofocas. O Brasil continuou sob o estado de sítio, com a maioria das pessoas aceitando a situação como o “novo normal”.

    Enquanto isso, Bolsonaro, em sua armadura de papelão e montado em seu cavalo imaginário, continuava a lutar contra os moinhos de vento do comunismo, acreditando firmemente que estava salvando a Gadolândia de uma ameaça inexistente. E assim, a nação seguiu seu curso patético, com seus cidadãos mais preocupados e tendo como prioridade os memes e supostos lucros advindos das pirâmides financeiras do que com a realidade ao seu redor.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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