"O embuste da polarização"
A polarização não é nova; é uma velha ferramenta para demonizar a política e silenciar quem ousa questionar o sistema
Sinceramente, estou de saco cheio desse papo de polarização. Essa ideia é uma baita teoria despolitizadora, que mistura alho com bugalhos e relativiza tudo. Pior, é um parâmetro usado para análises políticas. De maneira geral, coloca a extrema-direita – com seus crimes reais, documentados e sistemáticos – no mesmo balaio de uma “extrema-esquerda” que só existe na cabeça de quem quer desviar o foco. Pior ainda: transforma qualquer crítica legítima em "extremismo" e joga o debate político na lama. Estou falando de fatos, não inventando. De um lado, temos ataques golpistas, ameaças de morte, mortes, produção industrial de fake news, assassinatos e até ataques físicos a quem se opõe ao bolsonarismo. Do outro, qual é o crime mesmo? Protestar? Ocupações? Apontar crimes? Isso aí não cola.
Essa ideia de polarização não caiu do céu. Ela é uma ferramenta velha, usada para demonizar a política, e especialmente aqueles que ousam questionar o sistema. A direita tradicional sempre recorreu a esse mecanismo para neutralizar qualquer tipo de mobilização popular que desafiasse o poder estabelecido, propriedade etc. Volta lá na Guerra Fria e está tudo lá: qualquer movimento que pedisse justiça ou igualdade era tachado de extremista. Hoje, reembalaram isso com um toque moderno e empurraram pro nosso colo. Enquanto a extrema-direita apronta barbaridades, a direita tradicional finge neutralidade, mas tá o tempo todo jogando o jogo. Eles adoram criar um falso equilíbrio, como se houvesse "dois extremos", só pra desviar a atenção e deixar tudo mais confuso, a ponto de ninguém mais saber o que realmente está em jogo.
E é essa confusão que serve ao propósito de demonizar a política como um todo, tornando a participação política cada vez mais desprezada, vista como inútil ou até perigosa. Se todo mundo é "extremo", então quem se importa em entender as questões reais? O que importa é que, ao igualar movimentos populares a uma extrema-direita que defende o ódio, a violência e o golpe, a política se esvazia e qualquer luta por justiça perde legitimidade. No fim, quem se beneficia é quem quer barrar avanços, e pode continuar fazendo o que bem entende, sem ser questionado. Isso já aconteceu antes, na história, e é só mais uma tentativa de causar confusão e estimular o déficit cognitivo.
E agora eu pergunto: cadê os tais crimes dessa “extrema-esquerda” que tanto falam? Tá cheio de exemplos do que a extrema-direita fez – dos ataques às instituições até assassinatos causados por fanatismo. E quem não lembra dos ataques físicos durante a era Bolsonaro? Não é só ameaça, é assassinato mesmo. Mas e a esquerda, onde estão os crimes? Tudo que apresentam são casos inventados ou distorcidos. É como se lutar contra injustiça fosse equivalente a pregar ódio ou golpismo ou estimular teorias alucinantes. Não dá pra aceitar esse tipo de coisa, como se polarização fosse um conceito consolidado.
Por isso, é preciso abrir os olhos. A polarização não é uma explicação, é uma cortina de fumaça, um embuste com intenções óbvias. Ela é usada pra empastelar a luta política real, tirar o foco do que está em jogo e esconder a violência política real. Se até pesquisas de opinião e trabalhos acadêmicos estão sendo contaminados por essa falácia, é porque a ideia é realmente eficaz em deslegitimar a luta por direitos, por democracia e relativizar ditaduras e obscurantismo. Não dá pra cair mais nessa armadilha. É óbvio que tem estúpidos e imbecis em todo o canto, mas estúpido e imbecis nem sempre são criminosos. A política tem lado, sim. E, no fim, quem está realmente polarizando, atacando e colocando em risco nossa democracia não é a esquerda, mas quem defende o caos e o autoritarismo.
É extremamente necessário desconstruir esse embuste.
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