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    Josué de Souza

    Professor, Cientista Social e autor do livro Religião, Politica e Poder (EDIFURB)

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    O errático pós-Bolsonaro

    "Que os dias escuros que vivemos nos ensine o valor da democracia, da liberdade e da tolerância", escreve Josué de Souza

    Jair Bolsonaro faz pronunciamento 44 horas após resultado das eleições (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

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    Por Josué de Souza

    Quase 48 horas depois de se tornar o primeiro presidente a não conseguir se reeleger no Brasil, Bolsonaro finalmente decide pronunciar-se. O que a nação assistiu foi um presidente isolado, acompanhado apenas de núcleo mais radicalizado do seu governo. Com um olhar assustado, e visivelmente nervoso, Bolsonaro fez o esperado pronunciamento em pouco mais de dois minutos. O ato foi seguido com uma fuga desenfreada das perguntas da imprensa.  A lacônica cena contrasta com o Bolsonaro de 2018 que aos berros e xingamentos enfrentava a imprensa.

     Enquanto assistia a temperatura subindo nas ruas, os apoios ao presidente Bolsonaro derretiam. Com pouco mais de 49% dos votos no segundo turno, a leniência em pronunciar-se fez com que seus apoios ao mito, em seu primeiro ato público depois da eleição reduzissem a militantes ensandecidos por mensagens golpistas de redes sociais. Políticos e empresários que apoiaram Bolsonaro na eleição de domingo pularam da aventura golpista do mito.  

     Os bloqueios e manifestações pedindo intervenção militar na verdade são as primeiras expressões de um ator político que teremos que conviver nos próximos anos. Uma extrema direita nas ruas. Desde domingo o brasil transborda em violência contra pessoas comuns que tentam passar pelos bloqueios além de inúmeros caso de violência contra profissionais da imprensa.   O discurso de Bolsonaro foi voltado para estes. O mito já mira em 2026, porém, o derrotado Presidente da República terá que disputar espaço com outras lideranças deste campo. Exemplos são os senadores Sergio Moro (União), Magno Malta (PL) e Damaris Alves (Republicanos).  

     O ocaso do governo Bolsonaro coloca também em crise o comportamento político de lideranças e políticos religiosos. Mergulhados até o pescoço no governo do mito, inclusive nos seus escândalos do corrupção, apostaram seu deus na eleição presidente. Assistiu-se profanações religiosas de todos os tipos. Figuras nacionais e locais profetizaram e davam como certa a vitória do seu Messias. Fizeram isso com a mesma certeza que pregam suas mensagens religiosas. Afrontado com a realidade, vivem agora dias de comportamento erráticos. Uma parte engrossa a fila dos golpistas, outros, mais safos, repetem o mesmo comportamento desde a redemocratização. Já acenam para o presidente eleito. A preocupação com os banheiros unissex e a fechamentos das igrejas logo serão esquecidos. O importante sempre é estar próximo ao poder. Se necessário encontram até um texto sagrado para justificar seu comportamento.

     Não obstante a isso, o novo governo já começa a se compor.  Reconhecido por mais de 80 países, e pelas principais forças interna, tenta uma coalizão possível para um governo de transição. Desconfio que o Brasil pós-Bolsonaro será uma mistura de esperança com angustia. Recomeça no Brasil é o processo de reconstrução da nova república. Teremos pela frente um longo caminho que demandará aos eleitos maturidade política e muita participação democrática da população.  Que os dias escuros que vivemos nos ensine o valor da democracia, da liberdade e da tolerância.   

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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