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    Paulo Fiorilo

    Ele é deputado presidente do diretório municipal do PT

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    O esporte na corda bamba entre o ufanismo das redes sociais e a triste realidade do sucateamento das políticas públicas

    A cada modalidade, um sentimento. No pódio, a exaltação do atleta vencedor. Na eliminação, o registro do esforço e da superação. Basta abrir as redes sociais ou buscar os veículos de comunicação tradicionais para constatar que o esporte é tema prioritário em tempo de Olímpiadas. No Brasil de Bolsonaro e João Doria sobra ufanismo e falta investimento em políticas públicas para o setor.

    Pesquisadores do projeto Transparência no Esporte, da Universidade Federal de Brasília (UnB), apontaram que após uma explosão de investimentos públicos por conta das Olímpiadas do Rio, em 2016, o investimento público no esporte caiu R$ 350 milhões no ciclo para as Olímpiadas de Tóquio.   

    Desde o golpe de 2016 e o início do governo do ex-presidente Michel Temer as políticas públicas de esporte e de lazer foram sucateadas no plano federal e cada vez mais escanteadas também aqui no estado de São Paulo. 

    No governo de Jair Bolsonaro o que vinha ruim, piorou. Desde que assumiu, Bolsonaro acabou com o Ministério do Esporte, rebaixando a pasta a uma secretaria ligada ao Ministério da Cidadania e desmantelou a principal política pública do setor, o Bolsa Atleta. Programa criado em 2005, no governo do presidente Lula, o Bolsa Atleta consolidou um caminho importante para os esportistas brasileiros. O Bolsa Atleta tornou-se o maior programa de patrocínio individual do mundo e hoje, nas Olimpíadas de Tóquio, responde pelo financiamento de 80% dos competidores brasileiros. Em 14 anos, distribuiu mais de R$ 1,1 bilhão, criando condições para atletas se dedicarem em competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paraolímpicas.

    Para se ter uma dimensão da importância da política pública, dos 302 atletas que compõem a delegação brasileira em Tóquio, 240 são contemplados pelo Bolsa Atleta, segundo dados da Secretaria Especial de Esportes do Ministério da Cidadania. Das 35 modalidades olímpicas, em 19 delas 100% dos atletas são beneficiados pelo programa. 

    Em 2020, com a desculpa da pandemia, o governo federal concedeu apenas 274 bolsas, enquanto em 2019 foram 6.651 bolsistas. Bolsonaro também aproveitou a pandemia para cancelar o edital do Bolsa Atleta de 2020, alegando unificar com o de 2021. O benefício, que paga quantias de R$ 370 até R$ 15 mil a competidores de diferentes níveis, é muitas vezes a única fonte de renda dos esportistas. Sem a política pública, os atletas precisam equilibrar treino e trabalho remunerado ou garantir patrocínios. Uma jornada muito mais complicada. 

    No estado de São Paulo, o que nunca foi considerado prioridade para os governos tucanos foi sendo cada vez mais relegado com redução orçamentária. Nos últimos 10 anos o valor gasto com ações ligadas ao desporto e lazer caíram 54%: de R$ 308,9 milhões em 2011 para R$ 142,9 milhões em 2020, em valores corrigidos pela inflação. 

    No estado de São Paulo existe o programa Bolsa Talento Esportivo, instituído pela Lei nº 13.556, de 9 de junho de 2009, nas categorias Estadual, Juniores, Nacional e Internacional, que consiste no apoio financeiro aos atletas do desporto escolar e de rendimento, praticantes de modalidades olímpicas e paraolímpicas, individuais ou coletivas. Na Lei Orçamentária de 2020, havia a previsão de destinar R$ 3 milhões em bolsas para o projeto, com a meta de beneficiar 400 atletas. Encerrado o ano, a execução foi de 2,5 milhões. Em 2021, a previsão inicial para o programa era de R$ 5,3 milhões, mas após outra tesourada do governo tucano o orçamento passou a cerca de R$ 4,7 milhões. 

    Doria não sufoca o esporte apenas no plano orçamentário. Quer ganhar mais dinheiro privatizando os poucos espaços públicos de esporte e lazer. Desde que assumiu, o governador pautou e aprovou no legislativo paulista, com sua ampla base de apoio que inclui parte de bolsominions do PSL, a concessão do Ginásio do Ibirapuera e do Conjunto Desportivo Baby Barioni. 

    O Ginásio do Ibirapuera, espaço de treinamento e de hospedagem de grandes esportistas de várias partes do país, será convertido em um centro comercial, de entretenimento e de gastronomia. De lembrança esportiva, apenas a ideia de uma arena multiuso. Já o Conjunto Desportivo Baby Barioni, na Barra Funda, está em reforma desde 2014, e segue sendo promessa do governo do Estado para abrigar competições e treinamentos dos atletas que utilizam o ginásio. Certamente às custas de um valor que reflita os interesses comerciais dos concessionários.

    O fato é que o esporte pode e deve ser um espaço de oportunidades quando ressignificado como instrumento social, aliando políticas públicas transversalizadas em educação, saúde e bem estar social, para todos e todas, independente de gênero, raça e condição social.

    Se quisermos comemorar cada vez mais o surgimento de talentos e o sucesso de atletas brasileiros em grandes competições, como as Olímpiadas, sem dúvida devemos acompanhar a execução de políticas públicas para a área, especialmente o orçamento a elas destinadas. 

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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