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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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O estilo Marçal de ser

"A linguagem da violência pegou de tal modo que você ouve e sente esses reflexos nas ruas", escreve Miguel Paiva

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A elite se escandaliza, a bela imprensa reage ofendida, os bem-pensantes se horrorizam, e nós ficamos indignados, mas o pessoal da turma do Marçal, do Ramagem e de tantos outros continua. O nível em São Paulo é assustador. Pobre do Boulos, que tenta se manter na superfície programática, sem tanto sucesso. Quase se afoga por conta dos ataques que sofre.

Essa linguagem truculenta característica do Marçal já vimos antes começar a se desenvolver na turma do Bolsonaro. Deputados eleitos, assessores, vereadores, prefeitos e ministros, além do próprio presidente, baixaram o nível da discussão. Como o projeto era demonizar a política, tudo foi colocado no mesmo cesto e ateado fogo. Aliás, melhor não falar de fogo porque é a ilustração destruidora dessa linguagem. Vamos destruir tudo, queimar tudo, derrotar todos em nome de Deus.

Foi assim e continua sendo assim. A linguagem da violência pegou de tal modo que você ouve e sente esses reflexos nas ruas, no trânsito, nos serviços e na população em geral. Para que ter gentileza no trato se sou tratado como um animal? Pior. Animais, às vezes, são tratados de modo mais civilizado. Não adianta mais reclamar na cidade para que regras sejam cumpridas. Vale tudo. Vale tudo no trânsito na hora da transgressão, do avanço de sinal, do desrespeito generalizado. Vale tudo na convivência cívica, no respeito ao outro cidadão, que também deve te respeitar. Vale tudo no jeito de falar e se comportar das pessoas.

Viver numa cidade como Rio ou São Paulo hoje é um risco muito maior do que já foi. Além da violência social, da criminalidade, dos assaltos e da luta desesperada pela sobrevivência, temos a intolerância, a impaciência em relação ao outro, que logo se torna seu inimigo, ao invés de seu aliado. É um individualismo sem bases individuais para se sustentar. É um indivíduo desprovido de tudo, sobretudo de cidadania, educação e presença do Estado. Se privatizarmos esse pouco Estado que resta, aí sim, vamos viver no total abandono. Empresas privadas não têm princípios sociais. Querem o lucro. E tem gente lutando por isso. A extrema direita opta pelo neoliberalismo, pela economia de mercado e pelo Estado mínimo, quase inexistente, porque quer distância de qualquer compromisso social. Este é o grande problema que vivemos. Viramos uma selva privatizada, sem fiscalização e sem regras. "Salve-se quem puder" não é um lema construtivo. É um grito de desespero. Apesar de tudo que vem sendo feito, estamos quase lá.

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