O Etnocídio e o não lugar das e dos indígenas que lhes tem sido negado o direito à memória e identidade
“Mas como? O Joãzinho é índio? Não brinca! Ele nunca me disse nada. Ao contrário, ele mesmo nega” - “Os Óculos dos brancos”, Jornal Porantim do CIMI, 1979
Um novo velho debate, que se faz necessário e vem ganhando forma e força, que é o debate do Etnocídio indígena, esse que tem massacrado a subjetividade-alma-história e identidades de milhões de pessoas, que tiveram as suas identidades negadas, uma boa parte sequer tiveram o direito de acessá-la, já que por medo de ser pego a laço, de ser caçados, ou sofrer diversos preconceitos, seus ancestrais negaram as suas identidades, negando a diversas gerações, o direito à memória e a história por segurança, outra o colonizador aplicou sua política assimilacionista, que impõe a permanente negação de quem nós somos, ou ainda a burocracia do estado colono-capitalista, decidiu desde sempre que uma de suas tarefas é apagar as identidades daquelas e daqueles que podem se perceber.
Diversos foram as ações realizadas para esse intento, as inúmeras guerras foram a mais explícita determinação de subjugar as centenas ou mais de mil de povos, que não se curvaram e lutaram ferrenhamente para não se submeter aos interesses do invasor, que sofisticou as suas ações e encontrou no Etnocídio uma de suas ações mais eficaz no processo de subjugar os povos, utilizando táticas diferente, que começa nas ações eugenista e assimilacionistas do Marquês de Pombal,passando pela criminalização das línguas, proletarizando os indígenas em longos processos de deslocamentos forçados dos seus territórios e na manipulação do Censo, retirando a contagem da categoria indígena do Censo por 100 anos, já que em 1940, o IBGE introduz a cor parda e explica que foram contados como pardos, índios, caboclos, os descendentes de índios, os cafuzos e os mamelucos, avançando em seu projeto de apagamento Só voltando a figurar a categoria indígena no Censo de 1991., o último Censo que apareceu a categoria indígena , foi no fim do século XIX.
O trecho do artigo de 1979, trata de uma hipotética conversa criada entre dois funcionários público e a sua surpresa de ter um grande número de indígenas em Manaus, que surpreendia a população Manauara, ou na verdade setores, que já sabemos quais, a serena resposta do interlocutor foi:
“É verdade, e respeitável senhora, ele nega, eles negam, nós negamos por eles. O que acontece com Joãozinho e os seus 10 mil irmãos espalhados por Manaus é que colocaram óculos neles os mesmos óculos que colocaram em nós. Então, com esses óculos, eles não se podem ver como índios”
Esse processo que rasga a alma e o lugar de muitas e muitos, não ocorre sem resistências, só nesses últimos 50 anos, com o inicio do processo de articulação da União das Nações Indígenas, que teve papel central para mudar o status de tutelados pelo estado dos povos indígenas e fortalecimento das identidades, autoafirmação e retomadas, que ganhou impulso e se fortaleceu desde então, muitos foram os povos que passaram a se afirmar e retomar seus territórios ancestrais, que teve no nordeste uma das principais regiões das auto afirmação das identidades, chegando aos dias atuais quando diversas identidades silenciadas pelo colono-capitalismo, passam a reivindicar as suas memórias ancestrais, para voltar a caminhar guiado pelo farol de suas histórias, podendo fazer escolhas de caminhos,, a luz do passado e do presente.
No dia 28 de agosto, a I Conferência Livre e Popular de Indígenas do contexto urbano, inicia um seminário para aprofundar esses processos, será o Seminário para discutir o Etnocídio Indígena, que terá na abertura o Antropólogo João Pacheco de Oliveira, um dos grandes pensadores dos povos indígenas.
Link para mais informações https://www.instagram.com/conferenciapopularindigena/
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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