O exagero de um jornalismo obcecado pelo choro olímpico
"Apostar no dramalhão como meta jornalística indica precariedade na cobertura", avalia Tiago Barbosa
A Olimpíada é, sim, um período de afloramento natural de emoções.
Mas a cobertura excessivamente dramática e desequilibrada de parte da mídia descamba para um pastelão ridículo com tentativas forçadas de arrancar lágrimas e sobrepor o choro aos desempenhos.
Boa fração das entrevistas apela a abordagens perturbadas para emparedar emocionalmente os atletas, com o recorrente constrangimento de repórteres de voz embargada - descontrole evidente de corar os esportistas.
A “obrigação” de produzir relatos emocionados gera pedidos reiterados de abraços por jornalistas a competidores incrédulos quanto à fragilidade de quem entrevista.
A pressão cai na galhofa involuntária quando respostas seguras e serenas de atletas de ponta quebram a expectativa por depoimentos lacrimosos.
Rebeca Andrade dissipou o dramalhão sobre “o que se passa na cabeça antes da prova” ao revelar pensamentos em receitas culinárias.
A naturalidade tem espaço, sim - a despeito do clima de insanidade estimulado pela cobertura sufocante -, assim como o debate técnico livre da muleta onipresente da “superação”.
O exagero se alinha ao nervosismo extremo de parte dos narradores atormentados pela necessidade de dramatizar qualquer resultado para fazer da própria emoção um termômetro (equivocado) da qualidade da transmissão.
Não é.
A emoção, o choro, o extravasamento têm espaço entre atletas e, claro, contagia quem acompanha, mas apostar no dramalhão como meta jornalística indica precariedade na cobertura - reduzida a muleta para despejos emocionais descontrolados.
É de fazer chorar mesmo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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