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    Marcia Tiburi

    Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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    O fascismo desfila na Paulista

    "Fascistas precisam odiar e atacar quem odeiam, porque não conhecem o amor", diz Marcia Tiburi

    Ato bolsonarista na Avenida Paulista (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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    Alguns vêm chamando o fascismo brasileiro de “bolsonarismo”. É um termo circunstancial que não chega a estar errado, mas ameniza o maior problema expresso justamente pelo termo fascismo quando dito sem mascaramentos. Bolsonaro passará – e se for preso passará ainda mais rápido -, o fascismo não. 

    Podemos dizer que o sujeito do fascismo é um “não sujeito”, um corpo esvaziado de subjetividade, em ação automática, movido por codificações estéticas. Daí a constante prova de insensatez, a burrice presente nos discursos das pessoas na Paulista no último domingo. 

    Personalidades democráticas se perguntam como é possível que tanta gente venha a aderir ao fascismo. Freud já se perguntava sobre como as pessoas abandonam sua liberdade para aderir às massas. Adorno tentou explicar falando do papel da propaganda na manipulação das massas. Mas há outros elementos, como a função mimética na manipulação das massas. 

    Por exemplo, há tempos, as cores verde e amarela vêm sendo elementos de adesão mimética. A mimetização tem a principal função psicopolítica no processo, pois todo sujeito fascista está morto de medo e busca um lugar para se sentir seguro. Assim, mimetizar-se à massa na qual busca se proteger, é o caminho. 

    Criar a massa é a tarefa dos agitadores e líderes em geral. Os líderes sabem que não há massa sem estímulo e todo estimulo é, principalmente, estético, a saber, imaginário e vazio. A miséria estética - visual, musical, coreográfica - é sintoma. Ao mesmo tempo, a verdade da extrema direita está exposta nesse sintoma. 

    Os fascistas sofrem com a miséria sintomática. Eles gostariam de ter expressão, mas só alcançam a caricatura. Nesse sentido, curioso é o uso da histórica música de esquerda “Para Não dizer que não falei de Flores” (1968) de Geraldo Vandré no ato da Paulista. Imitar é preciso para quem não tem autenticidade. E essa é a tragédia do fascismo, o desejo de expressão que se faz como caricatura da expressão - que depende da performance e da cena estimulante para criar a massa odienta. 

    Sempre é bom lembrar que fascistas são aquelas pessoas que se podem definir como personalidades autoritárias. Sua principal característica é a submissão ao líder autoritário com o qual se identificam. A agressividade é parte disso. Ela é efeito do medo. Dirigida contra aqueles que podem ocupar o lugar de vítimas, ela expõe o ódio ao diferente: a mulher, o negro, o gay, o comunista, o judeu, o palestino, o indígena, o pobre, etc, mas também a projeção no outro daquilo que se teme e odeia em si mesmo. 

    Fascistas precisam odiar e atacar quem odeiam, porque não conhecem o amor. Não tiveram uma experiência densa com esse fenômeno, algo que não se alcança no conservadorismo e no autoritarismo. 

    Nas mulheres idosas que, na Paulista, portavam bandeiras de Israel afirmando que Israel era cristão, havia, além da admiração pelo Estado autoritário, praticamente um ato falho anti-semita que escapou nas palavras de ignorância prepotente dessas pessoas. A falta de amor se disfarçava em cristianismo, um cristianismo caricato que caricaturizava Israel. A ignorância sobre a diferença histórica e teológica entre cristianismo e judaísmo aparecia como a caricatura da própria opinião. 

    No meio de tudo, o show da verdade exposta para quem quiser ver. 

    O perigo fascista segue e o governo deveria se responsabilizar minimamente por isso. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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