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    Diego Ricoy

    Historiador, professor e mestrando em História pela UFSJ

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    O fim do PSDB

    O partido se apequena diante das ambições das elites econômicas que seguem em busca da rapina do Estado

    (Foto: ABr)

    O principal partido político da direita brasileira, que exerceu um papel decisivo em quase todas as eleições após a redemocratização do país, se vê hoje em ruínas. Com a desistência forçada de João Dória, ex-governador de São Paulo, à corrida presidencial, o PSDB encerra de vez seu ciclo de protagonismo na conjuntura política da Nova República brasileira.

    Fato é que a morte simbólica do partido está intimamente ligada a sua estratégia de contaminar o debate e a opinião pública com o discurso odioso e antissistema, a fim de criminalizar a política e, principalmente, o PT a partir da derrota de Aécio Neves nas eleições de 2014 (ocasião em que a ex-presidenta Dilma Rousseff foi reeleita com mais de 54 milhões de votos válidos).

    Aécio e seu partido apostaram no golpismo e contestaram a vitória legítima de Dilma no TSE, pedindo a recontagem dos votos. Não houve sucesso. Porém, a estratégia do peessedebista em seu intento passou a ser a de demonização do Partido dos Trabalhadores, tratando-o como organização criminosa já em sua primeira entrevista à Globo após a derrota nas urnas.

    A partir de então, o ódio passou a tomar conta do debate público e do país como um todo. Os discursos antipolítica e anticorrupção tornaram-se os motes principais da mídia convencional, contaminando a opinião pública e abrindo espaços para a consagração da Operação Lava Jato, que destruiria não só a legitimidade dos partidos, como a própria soberania popular. O desfecho já sabemos: o antipetismo, o golpe e o bolsonarismo. Porém, o que seria remédio tornou-se também veneno e a consequência desse desiderato seria a própria morte do PSDB com o surgimento da chamada “nova direita” brasileira.

    Essa “nova direita”, alimentada pelo ódio ao PT, pelo ressentimento às políticas afirmativas estabelecidas nos governos Lula e Dilma, e pelo (falso) moralismo conservador tratou de patrocinar uma agenda anti-establishment na intenção de promover uma “purificação ética” da política nacional. Os resultados práticos seriam: 1) a eleição de Bolsonaro (PSL) com mais de 57 milhões de votos; 2) o ostracismo de Alckmin (PSDB), que amargaria um 4° lugar na corrida presidencial de 2018; 3) a grande vitória parlamentar do PSL, que se tornou a segunda maior bancada da Câmara naquele ano; e 4) o desastre do PSDB, que encolheu drasticamente sua bancada de deputados federais, deixando a terceira para ocupar a nona posição no Congresso. Os resultados das eleições de 2018 eram o prenúncio da morte do PSDB.

    Em 2020, nova derrota: juntamente com o MDB, o partido de Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso foi o que mais perdeu prefeituras nas eleições municipais daquele ano. Os abalos sísmicos e sucessivos de 2018 e de 2020 produziram efeitos catastróficos para o pleito de 2022. Os rachas internos ficaram evidentes nas prévias do partido: João Dória venceu a disputa contra Eduardo Leite para concorrer ao Planalto, mas as lideranças peessedebistas tanto pressionaram que o ex-governador de São Paulo abriu mão, de forma contrariada, de sua candidatura em função de um projeto único de uma terceira via ainda em gestação. Um golpe dentro de casa, entre os próprios golpistas.

    A verdade é que, neste ano, o PSDB não disputará a presidência da República. E em São Paulo, o “Tucanistão” corre sério risco, já que Fernando Haddad (PT), Márcio França (PSB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) figuram à frente do atual governador Rodrigo Garcia, que herdou o cargo com a saída de Dória. Pela primeira vez desde 1994, em que Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso foram eleitos governador de São Paulo e presidente da República, respectivamente, o PSDB não será protagonista nas eleições estadual e nacional. Mas isso se deve a uma nova configuração política do país.

    Durante os anos em que o PSDB governou o país (1995-2002), apesar de promover um grande avanço da agenda neoliberal de interesse das elites econômicas brasileiras, o partido garantiu uma razoável preservação do gasto social constitucional. A “direita envergonhada”, que se apoiava nos tucanos como forma de sobrevivência política, via-se compelida diante do contexto pós-ditadura e incapaz de impor uma agenda liberal radical, em função da recente promulgação da Constituição Cidadã de 1988 e do consequente agigantamento do Estado.

    Entretanto, no cenário político atual, a “nova direita” passou a rejeitar veementemente o pacto democrático de 1988 e a agenda progressista instituída na Constituição Federal em torno da universalização dos direitos sociais. Pregam um ultraliberalismo conservador e uma drástica redução do tamanho do Estado como forma de combater o legado social-democrata dos governos petistas, não enxergando possibilidades de interseções entre o Estado Social e o Estado Liberal. Dessa forma, a agenda política do PSDB é posta para escanteio pela direita tradicional, abrindo brechas para a consolidação de um projeto de radicalização neoliberal.

    Assim, o partido se apequena diante das ambições das elites econômicas que seguem em busca da rapina do Estado, passando a exercer um papel secundário na conjuntura política do país. Outros atores assumem provisoriamente o seu posto: PL e o recém-fundado União Brasil são, assim, os mais cotados a ocuparem o espaço vazio da direita tradicional deixado em aberto pelo finado PSDB.

    Resta agora saber quem herdará os votos da sigla daqui pra frente.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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