O flagelo do desemprego
Co-autor: Júlio Miragaya, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia e ex-candidato do PT ao GDF em 2018
O flagelo do desemprego e do subemprego avança de forma devastadora no Brasil de Bolsonaro. De acordo com a PNAD/IBGE, ocontingente desempregado em setembro de 2020 atingiu o número recorde de 20 milhões, sendo 14,1 milhões em desemprego aberto e 5,9 milhões por desalento. A bem da verdade este número é ainda maior, pois cresceu em 13,7 milhões o contingente na PIA fora da força de trabalho, ou seja, pessoas que, em função da crise, saíram da condição de economicamente ativas (PEA) e passaram à condição de inativos. Se considerado o efeito “migração para a inatividade”, o número de desempregados “real” salta para 33,7 milhões, uma taxa de desemprego “real” de 30,6%. Acrescente-se a este quadro desolador a existência de 33,2 milhões de brasileiros na condição de subutilizados.
À título de comparação, no Brasil do último ano de governo “normal” do PT, em 2014, o número de desempregados, incluindo os desalentados, era de 8,2 milhões (8,3% da PEA). Mesmo em maio de 2016 - quando ocorreu o golpe que derrubou a presidente Dilma, após 16 meses deescancarada sabotagem e bombardeio perpetrado pela burguesia e pela grande mídia a partir da reeleição -, o número de desempregados, incluindo os desalentados, era de 14,3 milhões (taxa de 14,2%). Portanto, em cincoanos, as reformas liberais de Temer/Bolsonaro aumentaram o contingente desempregado para 33,7 milhões, mais que dobrando a taxa de desemprego.
Em 2014, o número de pessoas ocupadas no Brasil havia atingido o recorde de 96 milhões, e, mesmo com o aumento populacional de 6%, caiu para 93,8 milhões em 2019 e despencou para 82,5 milhões em setembro de 2020 (perda de 11,3 milhões de postos de trabalho nos últimos 12 meses). Nestes seis anos, o país perdeu 7,2 milhões de empregos com carteira assinada (caiu de 36,6 milhões em 2014 para 29,4 milhões atuais). O que cresceu neste período foi o contingente de assalariados sem carteira e o que trabalha por conta própria, ambos sem acesso aos direitos trabalhistas e sociais.
No Distrito Federal o panorama é igualmente assustador. Segundo a PNAD/IBGE, a taxa de desemprego aberto (15,6%) chega a ser acima da média nacional (14,6%), mas a taxa de desalento é menor (1,4%), levando a taxa total a 17%, próxima à taxa de desemprego apontada por outra pesquisa, a PED/DIEESE, que apurou 18,5%. Também no Distrito Federal ocorre o desemprego mascarado pela passagem de pessoas economicamente ativas para a condição de inativos. Há um ano, a População em Idade Ativa (PIA) era de 2.440 mil, sendo que 1.640 mil formavam a População Economicamente Ativa (PEA) e 800 mil eram inativos (donas de casa, aposentados, estudantes e os “nem-nem”). Em outubro/2020, a PIA aumentou para 2.498 mil (mais 58 mil), mas a PEA caiu para 1.590 mil (menos 50 mil), pois 108 mil “passaram” à condição de inativos, que hoje são 908 mil. Dessa forma, embora o número de pessoas ocupadas tenha caído em 26 mil (de 1.321 mil para 1.295 mil), o contingente desempregado “oficial” caiu de 319 mil para 295 mil. Mas se considerarmos os 108 mil que “se tornaram inativos”, o contingente realmente desempregado chega no DF a cerca de 400 mil (taxa real de 24%).
A novidade no DF é a realização da PED nos 12 municípios do chamado “Entorno Metropolitano”, área com 1,2 milhão de habitantes. Foi apurada taxa de desemprego de 25,6%, mas se considerarmos o efeito da migração para inatividade, a taxa “real” salta para 33% (200 mil desempregados). Somados aos 400 mil no DF, totalizam nada menos que 600 mil desempregados em nossa Região Metropolitana, uma verdadeira tragédia social.
O povo trabalhador e pobre do Brasil, ao tempo que é assolado pela maior taxa de desemprego de nossa história, convive com uma taxa “real” de inflação de 15% a 24% (variação do IPCA-Alimentos e do IGP-M, que reajusta serviços públicos e aluguéis em 12 meses). No momento em que o Brasil supera 6,3 milhões de infectados e 173 mil mortos pela Covid-19 e o DF chega aos 230 mil contaminados e 4 mil mortos, Bolsonaro e Ibaneis se mostram incompetentes para adotar as estratégias adequadas para enfrentar a pandemia. Se não se consegue debelar ou mitigar a doença, não há como normalizar a atividade econômica e esta continuará afundando, o desemprego aumentando, a inflação acelerando e o povo morrendo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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