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    Salvio Kotter

    Escritor, tradutor e editor da Kotter Editorial, que vem publicando grandes autores de livros de política de cunho progressista, e também livros de filosofia e de literatura.

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    O impacto global do X (antigo Twitter)

    "A gestão de Elon Musk no X só evidencia a necessidade de uma maior regulamentação das plataformas digitais", escreve Salvio Kotter

    Elon Musk (Foto: Reuters/Dado Ruvic)

    Vaidade Algorítmica e seus Efeitos

    A aquisição do Twitter, agora renomeado como X, por Elon Musk em 2022, desencadeou uma série de transformações impactantes, cujos efeitos transcendem o universo digital. Um dos primeiros indícios dessa mudança foi a manipulação do algoritmo para privilegiar a visibilidade do próprio Musk. Durante o Super Bowl, ao constatar que o presidente Biden havia obtido maior engajamento em seus tweets, Musk, em um gesto de vaidade, exigiu que o algoritmo fosse reconfigurado para que suas publicações fossem exibidas em primeiro lugar para todos os usuários. Essa atitude, além de antiética, evidencia a manipulação do sistema em prol de interesses pessoais, comprometendo a imparcialidade da plataforma.

    Desmantelamento da Moderação e suas Consequências

    Outro aspecto preocupante da gestão Musk é o desmonte da estrutura de moderação de conteúdo. O X desempenha um papel crucial em diversos conflitos e disputas globais. Existem registros de gangues no México utilizando a plataforma para coordenar assassinatos, assim como grupos terroristas, como o Estado Islâmico, que a utilizam para disseminar medo e propaganda. Antes da aquisição por Musk, o Twitter possuía uma equipe dedicada a combater essas influências nocivas. No entanto, Musk se gaba de ter demitido cerca de 80% dos funcionários responsáveis por essa tarefa, deixando a plataforma vulnerável à disseminação de discurso de ódio, desinformação e violência.

    Monetização do Acesso a Dados: Uma Nova Forma de Censura?

    Um dos aspectos mais controversos da gestão Musk é a monetização do acesso a dados que antes eram públicos e gratuitos. Até a aquisição, pesquisadores, acadêmicos e organizações da sociedade civil podiam coletar informações do Twitter para monitorar e analisar tendências, como campanhas antivacina ou discursos de ódio. Essas informações eram essenciais para entender a dinâmica da plataforma e denunciar abusos. No entanto, Musk passou a cobrar uma taxa exorbitante, cerca de R$ 11.000 por mês, pelo acesso a esses dados. Essa medida, na prática, configura uma forma de censura, impedindo que a sociedade civil monitore e denuncie as atividades nocivas que ocorrem na plataforma.

    Implicações para a Saúde Pública

    A desestruturação da moderação de conteúdo e a censura disfarçada de monetização têm consequências graves para a saúde pública. Campanhas antivacina, por exemplo, encontram no X um terreno fértil para se propagar, levando à desinformação e à queda nas taxas de vacinação. Isso coloca em risco a saúde de milhões de pessoas, especialmente crianças e idosos, que são mais vulneráveis a doenças. A falta de transparência e a dificuldade de acesso a dados impedem que pesquisadores e autoridades de saúde pública monitorem e combatam essas campanhas de forma eficaz.

    Implicações para a Democracia

    A manipulação do algoritmo e a disseminação de desinformação também têm um impacto significativo na democracia. O X é uma ferramenta poderosa para a mobilização política e o debate público. No entanto, a falta de moderação de conteúdo e a disseminação de notícias falsas podem distorcer a percepção da realidade, polarizar a sociedade e minar a confiança nas instituições democráticas. A manipulação do algoritmo para favorecer determinados grupos ou ideologias também compromete a equidade do debate público e a representatividade das diferentes vozes na sociedade.

    A Responsabilidade das Plataformas Digitais

    A gestão de Elon Musk no X só evidencia a necessidade de uma maior regulamentação das plataformas digitais. Essas empresas têm um enorme poder de influência sobre a sociedade e, portanto, devem ser responsabilizadas pelos conteúdos que circulam em suas plataformas. É fundamental que haja mecanismos de transparência, moderação de conteúdo e combate à desinformação, garantindo que as plataformas digitais sejam espaços seguros e democráticos para o debate público.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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