O impeachment de Bolsonaro, fruto de um “acordão”, pode ser rápido e cirúrgico
O jornalista Laurez Cerqueira avalia que a destituição de Jair Bolsonaro está nos debates das eleições para presidência da Câmara e do Senado. "A situação é tão grave que a destituição de Bolsonaro pode ocorrer em tempo recorde com ou sem o povo na rua", afirma Cerqueira
O impeachment de Bolsonaro já é assunto tratado nas reuniões que discutem as eleições das mesas da Câmara e do Senado. O presidente chegou muito perto da zona de descarte. Pode ser destituído num processo rápido e cirúrgico. Seis meses seria o suficiente.
O vice-presidente Hamilton Mourão voltou ao trabalho, depois do tratamento da Covid-19, com declarações contrárias ao que disse recentemente Jair Bolsonaro, desfazendo os disparates do titular. Mourão disse que tanto Baleia Rossi quanto Lira são governistas, que vai se vacinar por ser uma questão coletiva e não individual e defendeu a lisura das eleições nos Estados Unidos. Declarações num momento em que o impeachment entra na pauta de debate nacional.
No vale-tudo da crise, a hipótese de um acordão no âmbito das eleições da Câmara e do Senado, para o impeachment de Jair Bolsonaro, empossar o vice-presidente Hamilton Mourão e fazer uma ampla reforma ministerial não pode ser descartada. Esses momentos são feitos de conspirações, de ações subterrâneas.
Nesse acordão, Paulo Guedes e seu staf pode ser substituído. Paulo Guedes, posto à prova, deu chabu, demonstrou ser um fundamentalista ultraliberal superado e incompetente. O Brasil está queimando suas reservas para conter a alta do dólar, voltando à perigosa vulnerabilidade externa, sujeito a ataques especulativos como os que ocorreram com o país quebrado, no período FHC. A explosão do desemprego, da quantidade de moradores em situação de rua não sensibiliza o ministro da economia. Ele acredita que as empresas vão resolver todos os problemas do país. A desistência da Ford de produzir no Brasil é um caso inconteste de que a política econômica de Paulo Guedes é um desastre.
Ernesto Araújo, um vexame internacional, envergonha a diplomacia brasileira mundo afora, posicionou-se politicamente de forma submissa aos Estados Unidos e afrontosa contra parceiros comerciais. O obtuso ministro Ricardo Salles, com sua estupidez ancestral, não cabe no século XXI. O ministro da Saúde, um burocrata paquidérmico, até o momento não fez um plano nacional de enfrentamento da pandemia. O país já ultrapassou a marca de 200 mil mortos. Uma tragédia, por absoluta incompetência. Sem falar nos outros trambolhos ministeriais.
Está claro que além de desastrado e beligerante, Bolsonaro e seu governo não dispõem de condições mínimas para enfrentar a grave crise econômica, social e política do país. O aumento do desemprego estrutural, da inflação, sem rede de proteção social, sem projeto consistente capaz de apontar uma saída para a crise, levou o país a uma situação dramática, com penosa deterioração das condições de vida da população.
A fuga recorde de capitais, com o dólar a mais de R$ 5,50, tem favorecido as exportações de produtos agrícolas, mas fazendo disparar a inflação de gêneros de primeira necessidade, afetando de forma perversa principalmente a população pobre, o fim do Auxílio Emergencial, e outros fatores, certamente fará com que a popularidade de Bolsonaro desabe muito rápido.
O disparo em massa de fake news, um recurso de comunicação criminoso, que ajudou Bolsonaro a garantir cerca de 40% de “bom e ótimo” nas pesquisas deve perder força à medida que a realidade bater à porta da população e fizer o contraponto com as noticias falsas das redes sociais.
Senadores e deputados já perceberam que a popularidade de Bolsonaro deve cair nos próximos meses com o agravamento da crise. Ele levou um susto quando soube que a bancada ruralista descolou do governo, apoia o candidato Baleia Rossi.
Para parlamentares oportunistas, que são muitos, este ano é considerado “véspera do ano eleitoral” (2022), quando é feita avaliação do desempenho e da popularidade do governo. Se estiver em alta, os oportunistas acompanham o governo, mas, se estiver caindo ou em baixa começam a pular do barco e se juntar à oposição, para salvarem suas reeleições. O “ano véspera” é um divisor na política do Congresso Nacional e isso deve ser levado em consideração.
Há crimes de sobra para instauração do processo de impeachment. O Supremo Tribunal Federal e outras instâncias da justiça, Câmara e Senado, têm sido coniventes com todos os crimes de Bolsonaro. Afinal, são instituições parceiras do golpe. O problema é que o fruto do golpe está envenenando o projeto neoliberal. Eles apostaram em Geraldo Alckmin, que também deu chabu nas eleições. Tiveram que se pendurar em Bolsonaro e em Paulo Guedes. Deu num desastre político e econômico.
No cenário de escombros do golpe, num Congresso de mais baixo nível dos últimos tempos, Rodrigo Maia, com a ajuda clemente da mídia oligárquica, despontou como articulador político nas eleições municipais e conseguiu um resultado que repercutiu no Congresso Nacional e fortaleceu a centro-direita.
Rodrigo Maia tem demonstrado trabalhar na perspectiva de dar liga a um espectro de forças políticas de perfil bastante semelhante ao que deu sustentação aos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e isolar a extrema direita e a esquerda. Só que, precisou formar uma chapa hegemônica para as eleições da Mesa da Câmara e do Senado. Sem outra alternativa, teve que agregar os partidos de esquerda.
Com a vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos e o tombo espetacular de Donald Trump, do pódio das fake news, a tendência dessas forças políticas é de se alinharem ao governo de Joe Biden. Já Bolsonaro, seus seguidores e de Donald Trump, entre eles o guru Olavo de Carvalho, estão perdidos, sem rumo, não têm mais onde se agarrar.
Por outro lado, o pilar mais importante de sustentação de Bolsonaro, as máquinas de produção e impulsionamento de fake news estão sofrendo um forte revés. Depois da invasão do Capitólio, as gigantes Twitter, Instagran,Google, Facebook, Amazon, Apple e outras plataformas bloquearam temporariamente Donald Trump. Resolveram agir nos Estados Unidos, começaram a fazer um pente fino e banir de suas redes sites, blogs e grupos de postagens de ódio.
Trump recomendou aos seus militantes a migração para a plataforma Parler e aqui Bolsonaro indicou aos seus seguidores o mesmo caminho. Isso é um sintoma de que vem restrições por aí e que ele sentiu o baque.
Existe ainda a investigação do STF de grupos de extrema direita, que usam sistematicamente fake news para atacar a instituição, ministros da corte, a democracia e pregam golpe o militar. O ministro Alexandre de Moraes, que coordena a investigação, ordenou a prisão de alguns. Responderão em liberdade, mas o caso deve voltar ao noticiário após decisão definitiva do tribunal. Alexandre de Moraes prorrogou, em dezembro, por 90 dias inquéritos que fecham o cerco sobre o Planalto.
Além disso, os filhos de Bolsonaro estão sendo investigados tanto pelo disparo de fake newscomo pelo escândalo das “rachadinhas”. Os processos devem ser concluídos ainda neste semestre e levado aos tribunais. Os filhos podem ser cassados e presos, agravando ainda mais a situação de Bolsonaro.
A invasão do Capitólio mexeu com o mundo, causou indignação por ser um atentado à democracia. A reação nos países com democracia consolidada deve ter desdobramentos no sentido de conter o avanço do fascismo em todo o mundo. Chefes de estado condenaram o atentado e devem propor medidas para enquadrar quem vandaliza a democracia.
Além de Trump, Bolsonaro é outro que deve ser contido e o país resgatado do fascismo. Não há impeachment sem povo na rua. Talvez por isso Bolsonaro sabota todas as iniciativas das autoridades sanitárias de controle da pandemia. Ele sabe que tem um grito da população amordaçado pelas máscaras. Mas a situação é tão grave que a destituição dele pode ocorrer em tempo recorde com ou sem o povo na rua.
A cúpula dos militares não tem demonstrado disposição de arcar com o ônus de dar sustentação a Bolsonaro, ao seu desgoverno e às ações criminosas dos seus filhos. Seria um estrago muito grande na imagem das Forças Armadas. Recentemente o comandante do Exército, Edson Pujol, numa palestra com a presença de Bolsonaro, disse claramente que “… as Forças Armadas são uma instituição de Estado e não de governo.”
Jair Bolsonaro segue o mesmo caminho de Donald Trump, ameaçando as instituições, colocando em risco a população e deve chagar ao mesmo destino: o impeachment
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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