O inimigo mora ao lado
E segue o banho de sangue na Ucrânia protagonizado por Putin. Na falta de alvos militares nas cidades cercadas, o exército russo atira e esmo em bairros residenciais. Prédios de moradia, hospitais, escolas, o grau de destruição é amplo. Quando a guerra acabar, milhares de refugiados não vão ter para onde voltar.
Não existe guerra limpa. Muitas vezes o chamado efeito colateral, aquele que leva um míssil para um alvo errado, ou o bombardeio de uma zona próxima ao alvo desejado, acontecem. É parte do esperado. No entanto, quando as bombas caem propositadamente em locais que estão fora deste espectro, trata-se de crime de guerra.
Putin subiu na árvore e não sabe como descer. As sanções contra seu país aumentam todos os dias. O fechamento e a saída de dezenas de empresas da Rússia deixaram milhares de cidadãos desempregados. A moeda derreteu e com a incapacidade dos bancos de realizarem pagamentos para o exterior, o desabastecimento de matéria prima e outros bens é só uma questão de tempo enquanto durarem os estoques.
Se vai ficar ruim para o povo em geral, muito pior já ficou para os oligarcas que sustentam Putin no poder. Seus bens e seus investimentos no exterior estão sendo apreendidos e congelados. Perderam acesso a eles. A guerra chegou ao bolso destes milionários também.
Sim, a nossa gasolina ficou mais cara. Em muitos países, o custo do combustível vai trazer aumento de preços e uma consequente inflação. Isto tende a se acomodar na medida que os países busquem alternativas. O que não tem volta são as milhares de perdas em vidas na Ucrânia.
Poucas vezes vimos o mundo em sintonia contra uma guerra. Tivessem estes mesmos países se unido em outros momentos, talvez outros conflitos já tivessem terminado e o planeta respirasse melhor.
Talvez a maior surpresa seja sem dúvida a união dos extremos em prol de Putin. Finalmente, depois de tanto ódio e de tantas separações, extremistas de esquerda e de direita confraternizaram apoiando o açougueiro de Moscou. Nunca antes tinha visto uma união destas em torno de um ditador desta estirpe.
Eu sempre acreditei que os extremos se tocam, mas isto sempre foi uma teoria. Finalmente chegou à prova desta minha hipótese. Os apoiadores de Putin, os bajuladores do tirano são os que apoiam Bolsonaro de um lado, e apoiadores de Lula de outro. Nenhuma surpresa aqui, a motivação desta gente é exatamente a mesma.
Como muitos, eu também fiz uma limpeza nas minhas relações quando da eleição de Bolsonaro. Não se tratou de política, sempre convivi com as diferenças, afinal de contas nem todo mundo é gremista. Da mesma maneira, sempre respeitei quem vota em partidos de centro, ou de direita. A alternância de poder é sempre saudável.
O que nunca aceitei, nem jamais aceitarei é ter junto a mim racistas, antissemitas, homofóbicos, misóginos, gente que promove o ódio, ou quem os apoia. Não me importa suas convicções políticas, se são de esquerda ou de direita. Este tipo de gente é o lixo da humanidade. Representam a barbárie contra a civilização.
Até os dias de hoje eu achava que ao ficar na minha bolha, com relações e amigos que não votaram em Bolsonaro, majoritariamente companheiros de esquerda, eu tivesse finalmente podendo ter junto a mim, humanistas, combatentes contra o racismo, contra o antissemitismo, a homofobia e a misoginia. Putin, mostrou que eu estava equivocado.
Agora vou precisar limpar do meu círculo, apoiadores de mais um fascista. Só não fazia ideia de que eles estavam aqui ao lado. Confesso que não me surpreende, mas ainda assim, me dói. É a dor da constatação de que certas coisas podiam ser diferentes, poderiam ter tomado outro caminho, de que a escuridão que existe neles, ainda afasta a luz que existe em mim.
Convicções são mais fortes que ideologias. Princípios de vida sempre nortearam meu caminho e procurei nunca me afastar deles. Já me reciclei diversas vezes. Compreendi meus erros e meus equívocos para crescer como ser humano e contribuir para a humanidade. Não volto atrás no caminho da civilização.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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