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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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O iter criminis desmente a versão de Ronnie Lessa

Falta liame subjetivo que ligue o assassino confesso de Marielle aos irmãos Brazão

Ronnie Lessa (Foto: Reprodução)

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No jornalismo, a informação mais relevante muitas vezes está naquilo que não foi dito. Foi por isso que passei quase quatro horas assistindo ao depoimento de Ronnie Lessa, matador de aluguel responsável pela morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, justamente por não me conformar com o tratamento copia e cola dado pela imprensa - dita profissional - sobre o assunto. 

Até entendo a urgência da mídia corporativa na publicação da delação premiada do funcionário do Escritório do Crime, uma exigência mercadológica imposta pelas redes sociais. Mas é na transcrição literal das palavras de um assassino que a imprensa vai buscar a verdade? Ora, no meu tempo de militância jornalística, o único lugar em que cabia qualquer tipo de informação, sem o devido cuidado na apuração, era as revistas de fofoca. 

Mas, afinal, o que foi que eu descobri de tão relevante, e que ninguém se deu conta na delação premiada do Ronnie Lessa? O Iter Criminis, um termo jurídico que aprendi no meu curso de Direito. Trata-se do caminho percorrido desde a cogitação do crime, passando pela preparação, execução e consumação do dolo. Todo esse processo, na voz de Ronnie Lessa, levou sete meses para ser concluído. 

Antes que você vá embora, peço que leia apenas mais este parágrafo, para entender aonde quero chegar. De 14 de agosto de 2017, a 14 de março de 2018, dia em que Marielle Franco e seu motorista foram assassinados, não há um só registro, na forma de discurso ou denúncia, envolvendo grilagem de terras, motivo alegado pelo matador para acusar os irmãos Brazão como mandantes dos crimes.  

Na hipótese de que seja verdade tudo o que Ronnie Lessa declarou em sua delação premiada, não seria factível supor que os irmãos Brazão desistissem voluntariamente da empreitada, situação muito comum e até descrito no artigo 15º do Código Penal? Essa é uma morte que se justificaria pelo ódio a uma pessoa, mas dificilmente para tirar a vida de alguém que já não estava mais no seu caminho. Ou não?

Nos sete meses que separam a cogitação, da consumação do crime, Marielle ‘comprou’ muitas outras brigas. Uma delas contra a poderosa indústria de armamentos, cujo lobby na câmara de vereadores, pela aprovação do uso de armas de fogo pela guarda municipal, interessava a muita gente. 

Entre agosto de 2017 e março de 2018, Marielle utilizou a tribuna para denunciar o assassinato de pelo menos uma mulher lésbica por semana, no Rio de Janeiro, e que na Cidade Maravilhosa 13 meninas e mulheres são estupradas, todos os dias. É muito devaneio suspeitar que os grupos que defendem essa pauta de costumes cristão, do bem e da família se incomodava com o trabalho da vereadora? 

Falta liame subjetivo que ligue o assassino confesso de Marielle aos irmãos Brazão. E se considerarmos as lutas históricas da vereadora por uma sociedade plural, participativa e igualitária, a bancada do estupro, na Câmara dos Deputados, é um forte indicador de que Marielle colecionava inimigos poderosos o suficiente para fazer Ronnie Lessa mentir.  

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