O "just in time" e a ruptura de cadeia de suprimentos
A gestão capacidade produtiva frente a uma demanda instantânea de bens nunca foi tão estudada e tão falada nas escolas de administração de empresas, porém a qualquer abalo na economia surge o fantasma da ruptura de cadeia de suprimentos.
Ou seja, se aparece um vírus que obriga a compra de equipamentos, insumos médicos e outros diversos produtos, a necessidade de incrementar a compra de tudo isso leva ao rompimento das cadeias de suprimento, se o vírus desaparece e o consumo é retomado de novo rompe-se as cadeias de suprimento, se Shangai é colocado em quarentena por um mês, mais uma vez ocorre o mesmo fenômeno, em resumo tudo que ocorre um pouco fora do normal, os raios dos elos dessa cadeia de suprimentos rompem-se em alguns ou vários pontos e a culpa de toda a desgraça fica por conta da tal CADEIA DE SUPRIMENTOS.
A cadeia de suprimentos virou a Geni de tudo, qualquer incidente como um furacão em Taiwan causa o mesmo problema, mas será que ela é mesmo a culpada de tudo?
Talvez devamos olhar com outros olhos para enxergar o que realmente ocorre, para isso moderna de empresas diminuir ao máximo todo e qualquer estoque para empregarmos a produção baseada em “just in time”, ou seja, o sujeito está vendendo um automóvel que ele produzirá na próxima semana contando com um “chip” que está num container dentro de um navio que está vindo de Hong-Cong e deverá ser despachado nos dois ou três dias que seguem via um caminhão que segundo uma empresa de logística está descarregando outra carga daqui a um dia.
Claramente esse esquema todo evita que a fabricante de automóveis tenha um estoque de peças para montar o seu carro nas três próximas semanas. Com taxas de juro reais nos países do primeiro mundo beirando a zero, o custo que acrescentaria no automóvel seria muito menor do que uma campanha publicitária para vender um automóvel que não existe e não existirá por um mês se o navio que traz o “chip” encalhar no canal do Suez por duas semanas, e com o atraso no faturamento do automóvel em um mês, compensaria a manutenção do estoque.
Os modernismos dos administradores de empresas levado ao extremo pode fazer com que numa situação de uma “quebra de estoque” produza o chamado efeito “chicote”, ou seja, como o produtor final vai demandar uma encomenda maior de produtos que não podem ser conseguidos em outros mercados com a mesma celeridade ele encomendará por algum tempo uma quantidade maior desse produto, por exemplo uns 10% que se o fornecedor não possui a capacidade de produzi-lo ele ampliará sua produção não somente nos 10% exigidos, mas sim com uma pequena folga de mais 10%. Como quem produz tem a necessidade de outros produtores esses por sua vez aumentarão a produção também em 10%, no fim dessa bagunça, o que produz diretamente da matéria prima talvez vá produzir dentro da expectativa de venda vamos dizer uns 50% a mais do que necessário e que venderá no próximo ano. Geralmente como quem está abaixo dessa pirâmide de produção são pequenas empresas com produtos com baixo valor agregado ele fica endividado, cheio de material a venda sem comprador, ou entra em falência ou diminui a produção numa quantidade equivalente as vendas reais, em resumo, o sujeito além de ficar endividado vai desmanchar parte de sua linha de produção, demitir operários especializados e criar mais uma “ruptura na cadeia de suprimentos”.
Esse vai e vêm de quantidade produzida vai terminar aumentando o custo da produção, e tudo o que se queria em termos de ganho marginal de lucros, vai por água abaixo.
O mais interessante de tudo é que essa ruptura da cadeia de suprimentos está atingindo até a contenda OTAN com a Rússia. Os estrategistas da OTAN estavam pensando que a Rússia ia ficar sem equipamentos militares nos próximos meses, porém o que está se vendo é que os famosos mísseis antitanque Javelin e os mísseis antiaéreos Stinger estão passando pelo mesmo problema da produção “just in time”, a capacidade de produção dos primeiros, a capacidade dos fabricantes Lockheed Martin em conjunto com a Raytheon é normalmente 2.100 por ano e com turnos dobrados passa a 4.000. Até um mês a Ucrânia já havia recebido 5.000 mísseis ($176,000 cada um e contando com o tubo baixa para $78,000) sendo que eles provinham o estoque do exército norte-americano e de outros países da OTAN sendo que serão fabricados para primeiro repor o estoque. Já os Stinger da Raytheon como os USA deixaram de comprar há 18 anos a linha de montagem e as máquinas ferramentas foram descartadas e há uma série de componentes que já não são fabricados, logo vão projetar uma nova versão e lá por 2024 será possível começar a enviar alguns para a Ucrânia, ou seja, fora de estoque!
O mais interessante de tudo isso é que da forma que está sendo levada a produção de equipamento militar pelo ocidente, ou seja, adaptada a reposição dos estoques, parece que os países ocidentais não têm mais capacidade de entrar numa guerra de alta intensidade. Por outro lado, os russos, herdeiros da desperdiçada indústria militar soviética, que certamente nem tinha noção do que é uma produção “just in time”, provavelmente vão sofrer, mas não vão diminuir muito a produção.
Veja, sempre há algo positivo em esquemas de produção feitos pelos nossos brilhantes administradores, a diminuição da capacidade militar.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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