O liberalismo de Macri derruba a Argentina
Em uma ordem mais ampla, os argentinos no acumulado deste governo (2015-2018), sofrem com aumento da energia de 1700% , de água 500% e de gás 700%. Em outro aspecto repressivo , nesta semana em um só dia o governo queimou 1,5 bilhão de dólares para frear a subida da moeda estadunidense
A narrativa desenvolvida por Mauricio Macri quando chegou ao poder, se mostrou bastante distinta da sua prática. Em agosto de 2015 respondia ao jornalista com a convicção que não falta aos neoliberais: "não, honestamente não creio, não é este o caminho". A pergunta abordava a possibilidade de implementar a subida das tarifas de energia elétrica, gás e água e uma ajuste na taxa de câmbio. Macri sentenciou como um catedrático: "temos de expandir a economia , não contrair, nunca contrair". Abril de 2018 fechou com a realidade oposta de suas promessas. Em um só mês o 'tarifaço' chegou chegou a 45% no gás, 13% nos coletivos,14% nos trens e 47% no sistema de metrô subterrâneo, para uma inflação declarada pelo governo de 20% ao ano.
Em uma ordem mais ampla, os argentinos no acumulado deste governo (2015-2018), sofrem com aumento da energia de 1700% , de água 500% e de gás 700%. Em outro aspecto repressivo , nesta semana em um só dia o governo queimou 1,5 bilhão de dólares para frear a subida da moeda estadunidense. Mesmo superando o pico histórico anterior de 645 milhões, não teve êxito e a cotação alcançou os 21,5 pesos. No dia 3 de maio uma nova pressão cambial, subindo para o patamar de 23,3 pesos , 8,3 % em um pregão. A crise evolui, mesmo o Banco Central levando a taxa básica de juros para 33, 25 % com mais 3%, acrescido dos 3% da semana passada.Na ebertura do dia 4 uma nova taxa de juros: 40%.
A teoria hayekiana do livre mercado, preconiza que flutuação cambial de forma 'natural' regularia esta crise. A verdade que se apresenta é que os rentistas com acesso ao dólar, querem remunerar seu montante numa velocidade maior que o resto da economia, diminuindo o poder de compra dos salários em pesos. A prática de delegar ao mercado a solução permite um embate entre forças desproporcionais, a favor de quem acumulou o bastante para especular. A Argentina hoje tem déficit fiscal e cambial ,com reservas de apenas 33 bilhões de dólares.
As intervenções de Macri demonstram que mesmo para um neoliberal o mercado não resolve as crises que ele originou. O sentimento da maioria do empresariado argentino é abdicar do nacionalismo para maximizar seus ganhos numa economia cada vez mais apátrida. Pode-se incluir a família Macri neste modelo. Desta forma, ao mesmo tempo que repetia a necessidade de segurança para os endinheirados portenhos repatriassem seu capital para investimento produtivo, escolheu exatamente manter escondido seus milhões em offshores no Panamá.
Em termo macro econômico, o pressuposto principal era uma crítica aos subsídios que impediria a eficiência da produção. Assim, dolarizou a economia e reduziu para um terço os subsídios, de 17,2 bilhões para 6,2 entre 2015 a 2017. Por outro lado, cresceu a participação dos juros no PIB de 1,2 para 1,7(2015-2018), reduziu em 15 bilhões(2016-2018) o financiamento agropecuário ao mesmo tempo que liberalizou a remessa de lucros ao exterior acrescendo em 29,9 bilhões de dólares. É perceptível que a diminuição de renda indireta(subsídios) a população, foi menor que o montante remetido para fora do país em lucros e dividendos.
A dominação por multinacionais dos setores estratégicos da economia e as contínua repatriação para matrizes , penaliza as camadas de menor renda que sofrem com a elevação do dólar, de um lado pela indexação de custos e por outra pela pressão de compra cambial para os envios para centrais na Europa, Estados Unidos e China.
No que concerne a sua realidade, os argentinos descobriram que os investimentos produtivos não vieram de forma significativa. A crítica aos subsídios era mais uma guerra de comunicação, ordenada entre o novo governo e conglomerados de mídia para debilitar o legado da gestão desenvolvimentista dos Kirchner.
O informe do Fundo Monetário Internacional (2015) aclarou uma veracidade bem distinta, desconstruindo o discurso oficialista. A média de subsídios de energia mundial se postou num patamar de 640 dólares por habitante. Nações líderes em políticas neoliberais superam a Argentina em valores gastos. Os Estados Unidos tinham um gasto 2177 dólares per capita, a China 1652, Canadá 1283, Austrália 1259, Japão 1240, Israel 1113 seguida da Bélgica com 909, Alemanha com 684 e Inglaterra com 635. Ainda viria a Espanha com 521 e Chile com 515. A Argentina aportou somente 413 dólares per capita, ou seja, 35% menos que a média mundial.
Macri buscou fundamentar os aumentos desproporcionais, injustos e regressivos. As referidas 'boas razões' usadas pelo presidente, visam encobrir a 'razão verdadeira'.
A subserviência da sua gestão ao capital financeiro internacional, transferiu grande montante do que circulava na população para as companhias. Esta análise pode ser comprovada pela valorização das ações de empresas de energia, como a Edenor com 484% de valorização e a TGN com 791 % ,entre 2016 a 2018.
A defesa contundente em proporcionar extraordinários lucros aos conglomerados via 'tarifaço' ,dolarização e concorrência desleal, demonstra de que lado da história Macri escolheu. Aviltar a renda das classes mais vulneráveis, retirar direitos trabalhistas e de aposentadoria, com intuito de esperar um investimento que nunca chegou, apenas hipoteca o futuro dos argentinos como um tango que nunca deveria ter sido escrito.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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