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    Jair de Souza

    Economista formado pela UFRJ, mestre em linguística também pela UFRJ

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    O lobby sionista nos EUA não é um lobby judaico

    "Esse conjunto de pessoas que forma a massa dos judeus estadunidenses não detém força suficiente para influenciar significativamente o rumo da política", diz

    Benjamin Netanyahu e Joe Biden (Foto: Reuters/Evelyn Hockstein)

    Ainda que não disponhamos de dados estatísticos precisos, sabemos que o número de judeus que habitam os Estados Unidos chega a ser equiparável ou superior ao daqueles que vivem em territórios administrados diretamente pelo Estado de Israel.

    Convém recordar que uma das razões que justificam a inexistência de tal precisão nesta contabilização está relacionada com a dificuldade em definir quem, de fato, pode ser classificado como judeu, e quem não. Quais seriam os fatores determinantes para que alguém venha a ser reconhecido como um judeu? Seria uma questão de fé religiosa? Ou o peso maior recairia sobre a origem étnico-racial? Mas, deveríamos levar em conta também o tema da nacionalidade?

    Como sabemos, em nenhuma dessas três principais categorias há suficiente embasamento para justificar a inclusão ou exclusão de uma pessoa na categoria de judeu. Com respeito à religião, por exemplo, boa parte daqueles que se assumem como judeus não professam a religião judaica, havendo muitos judeus que se declaram abertamente como ateus. No tocante à origem étnico-racial, basta darmos uma olhada um pouco mais apurada nas diferentes comunidades judaicas presentes em vários espaços geográficos espalhados ao redor do planeta para dar-nos conta de quão heterogêneos etnicamente são os judeus. E, se formos nos balizar por características de cunho nacional, o que já se mostrava difícil se torna ainda mais complicado, em função das acentuadas variações linguísticas entre os integrantes dessa categoria nos variados locais em que se encontram.

    Mesmo assim, é consensual o reconhecimento de sua importância numérica no interior do território que abrange os Estados Unidos. Seria devido a isto, então, que o tal lobby pró-Israel estadunidense seja considerado o de maior poder de influência política naquele país? Uma resposta positiva a esta indagação não parece ter condições de se sustentar, uma vez que, em relação com a população total dos EUA, os judeus não alcançam sequer dois por cento, ficando atrás de outros grupos bem mais numerosos.

    Portanto, por significativo que venha a ser em relação a sua contraparte que habita o Estado de Israel, esses cerca de 2% de judeus estadunidenses não teriam condições de exercer grande influência política tão somente com base em seu peso numérico. Na verdade, como vamos procurar demonstrar à continuação, a força do chamado lobby pró-Israel está ancorada em outros pontos de apoio.

    O certo é que esse conjunto de pessoas que forma a massa dos judeus estadunidenses não detém força suficiente para influenciar significativamente o rumo da política geral estadunidense. No entanto, a grande burguesia vinculada a essa parte da sociedade é poderosíssima e exerce o controle em vários ramos de atividades essenciais para a imposição de seus interesses ao conjunto da nação. Dentre os setores em que sua hegemonia se faz sentir estão as corporações midiáticas, as financeiras e os conglomerados relacionados com a indústria cultural.

    Sendo assim, é importante que tenhamos consciência de que, quando se fala do poder econômico do lobby judaico nos Estados Unidos, isto se refere a um número ínfimo de pessoas e agrupações que são detentoras de enormes fortunas, mas de maneira alguma à amplíssima maioria das pessoas comuns que constituem a quase totalidade da comunidade judaica.

    Além do mais, precisamos ressaltar que o sionismo não está composto exclusivamente por judeus, e nem mesmo majoritariamente. A bem da verdade, a esmagadora maioria dos sionistas estadunidenses não são judeus, e sim fieis de igrejas que se dizem evangélicas cristãs. São as massas de aderentes dessas igrejas “cristãs” as que são mobilizadas quando se quer fazer valer interesses caros para o lobby que zela pelas relações com o Estado de Israel. Esses seguidores das igrejas do sionismo cristão, sim, representam um número suficientemente expressivo para exercer pressão política sobre todo o espectro das atividades sócio-econômicas dos Estados Unidos.

    No que diz respeito especificamente aos judeus estadunidenses, estão ocorrendo mudanças significativas na maneira de enxergar os vínculos com o sionismo israelense. Muito embora haja importantes denominações do judaísmo religioso que se recusam a aderir ao sionismo e a seu apoio incondicional ao Estado de Israel, é inegável que uma parcela majoritária dos judeus religiosos ainda permanece vinculada às propostas sionistas. Porém, está havendo grandes abalos e significativas mudanças entre a juventude judaica.

    Os horrores da carnificina provocada pelas forças militares sionistas do Estado de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza criaram um imenso clima de revolta e sentimento de injustiça nessa juventude. As imagens de milhares de crianças e mulheres sendo destroçadas impiedosamente por um dos exércitos mais bem-armados do mundo obrigam a esses jovens a recusar a assimilar a ideia de um Estado criado para proteger o povo judeu do risco de extermínio. O que eles agora estão se dando conta é que aqueles que dominam o Estado de Israel estão longe de serem as vítimas deste novo extermínio. Mais apropriadamente, eles estão desempenhando o papel de exterminadores. E esta juventude judaica da atualidade parece estar cada vez menos disposta a aceitar que se manipule com a dor do Holocausto com o propósito de justificar uma nova e monstruosa matança.

    Esta nova geração de judeus estadunidenses vai reconhecendo o real significado da hipocrisia e está aprendendo a lutar contra a mesma. Por isso, a cada dia, vai se tornando mais evidente para todos que o sionismo e judaísmo não são conceitos equivalentes. Assim que, cada vez com mais força, muitos novos judeus vão tomando seu lugar nesta luta para pôr fim ao genocídio do povo palestino. Vai ecoando com muita ressonância o grito: NÃO EM MEU NOME.

    Um pouco do que acabamos de abordar poderá ser melhor entendido ao assistir ao vídeo que associamos a este texto. Para que não haja impedimentos devido aos recorrentes bloqueios que estão sendo colocados aos materiais que desagradam as corporações aliadas ao sionismo, o vídeo foi disponibilizado em três links diferentes.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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