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    Paulo Pimenta

    Ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

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    O memorável 19 de junho: um dia de luto e de luta

    “As manifestações ocorridas em 19 de junho em todo o Brasil e em várias cidades do mundo devem ser vistas como se o povo brasileiro, dilacerado diante da montanha de cadáveres de seus avós, pais, mulheres, maridos, filhos, irmãos e amigos, ensaiasse seu próprio renascimento”, afirma o deputado Paulo Pimenta

    (Foto: Alexia Martins/Mídia NINJA)

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    O Brasil foi soterrado por uma catástrofe inimaginável. Segundo dados oficiais, o país que construiu um dos mais eficientes sistemas de vacinação em massa do mundo chora hoje mais de quinhentos mil mortos pela Covid-19. Dez vezes mais que o número de mortos durante a guerra contra o Paraguai (1864-1870), um dos maiores morticínios registrados na história brasileira.

    O mais grave é que as mais de 500 mil mortes foram motivadas por uma doença para a qual existe vacina e por um governo que deliberou conscientemente negar sua letalidade e concentrou seus esforços na propagação do vírus como suposta forma de imunização. E assumiu como política o criminoso charlatanismo, com o próprio presidente da República fazendo propaganda da cloroquina, medicamento cientificamente comprovado como ineficaz para combater o vírus e nocivo pelos efeitos colaterais que provoca nos usuários.

    Números subestimados - A médica infectologista Ana Luiza Bierrenbach, conselheira técnica da Vital Strategies, autora de um estudo sobre a subnotificação, alerta que o número mais realista de óbitos no Brasil alcançaria já a casa dos 700 mil. O Brasil teria algo em torno de 30% mais de óbitos e 60% mais de infectados do que apontam os números oficiais. “Na verdade, já chegamos a 500 mil mortos por volta de meados de abril”, afirma a médica à  Deutsche Welle.

    “A produção de variantes está relacionada ao número de pessoas infectadas. E nós somos o portfólio perfeito de novas variantes de vírus replicando: temos vacinação lenta com contaminação alta”, explica o imunologista Dr. Alessandro dos Santos Farias, coordenador de diagnóstico da força-tarefa contra a Covid-19 da Unicamp, também em entrevista à DW.  A perspectiva que se desenha, portanto, é sombria.

    As ruas e a esperança - As manifestações ocorridas em 19 de junho em todo o Brasil e em várias cidades do mundo devem ser vistas como se o povo brasileiro, dilacerado diante da montanha de cadáveres de seus avós, pais, mulheres, maridos, filhos, irmãos e amigos, ensaiasse seu próprio renascimento. As ruas de mais de 400 cidades despertaram sob o passo de multidões que buscam reencontrar seu lugar natural de participação política, para enfrentar a calamidade.

    O gesto das multidões de cidadãs e cidadãos de ocuparem, no último sábado, ruas e praças mescla duas dimensões da tragédia brasileira: o desespero e a esperança.

    Foi um ato de desespero na medida em que os participantes das manifestações, mesmo com todos os cuidados, ficaram sujeitos aos riscos impostos pela contaminação com o vírus da pandemia. E, ao mesmo tempo, de esperança porque aponta a única saída visível para a calamidade a que nos conduziu a estratégia negacionista e criminosa do governo de extrema-direita: a regeneração da política pela participação popular.

    Frente antifascista - O dia 19 trouxe para as ruas uma agenda emergencial, unificadora: a luta pelo direito de um povo utilizar-se dos recursos técnicos, científicos e políticos que tem à mão no regime democrático para garantir sua sobrevivência como nação.

    Engana-se quem imagina que a construção da frente antifascista capaz de derrotar Bolsonaro resultará apenas do diálogo e das articulações políticas mediadas pelos partidos e personalidades.

    A prática das lutas contra o governo de liquidação nacional de Jair Bolsonaro, demonstrada pelas manifestações de rua que ocuparam com vigor a cena política do País em menos de um mês, revela que os setores populares organizados deixaram para trás o período de apatia.

    Novo projeto de país - Sob o olhar atento da mídia corporativa, que já tratou de modificar sua atitude e a cobertura dos atos, dos setores empresariais aliados de Bolsonaro e dos militares do governo, os manifestantes ensaiaram os primeiros passos no sentido de se deslocar de uma atitude apenas de resistência para avançar na direção de construir a nova agenda com vistas a formular um novo projeto de país.

    Restabeleceram seus vínculos com os segmentos mais pobres da população entregues à própria sorte pelas políticas de Bolsonaro e Paulo Guedes e pela aposta na “imunização de rebanho” concebida pelo “gabinete paralelo” e executada pelo Ministério da Saúde, defendida nesta terça-feira (22), na CPI do Senado, por Osmar Terra Plana. A presença de contingentes expressivos das periferias nos atos demonstra isso. E avisaram: não seremos destinatários dos restos de comida oferecidos pelo parasita que ocupa o Ministério da Economia.

    O Brasil que foi às ruas – e às redes – no 19 de junho foi muito além das bolhas ideológicas, partidárias ou eleitorais. Vazou dos segmentos de esquerda iniciais, que convocaram as manifestações de 29 de maio último, para um campo social mais vasto: ali estavam os brasileiros que levantavam a dor de suas perdas levantando cartazes com os nomes dos seus familiares mortos pela Covid-19 e pela incúria delinquente do governo de extrema-direita e exigiam “Fora, Bolsonaro!”

    Governo genocida - As reações que aqui e ali se apresentam no campo do neofascismo revelam parte da estratégia deliberada pelo governo de apostar na “imunidade de rebanho”, além de vender cloroquina: evitar a pressão popular a partir das ruas contra o genocídio e contra as políticas neoliberais que se encaixam na sua lógica. E o incômodo pela presença de um componente que traz consigo a marca histórica dos momentos de mudança no Brasil: a participação decisiva da juventude.

    Neste país surpreendente é possível que estejamos testemunhando um movimento semelhante ao que se vive no Chile. Lá, a juventude se levantou contra o governo Piñera, avançou pelas ruas e pôs em xeque a Constituição do fascista general Augusto Pinochet, aquela que o parasita Paulo Guedes sonha impor ao Brasil. Os chilenos derrotaram a direita e a extrema direita, que foram  reduzidas ao seu tamanho real. O povo chileno se prepara para abrir os trabalhos com vistas a desenhar uma nova Constituição.

    Castigado por uma pandemia que deixa mais de meio milhão de mortos e mais ainda por um governo que converteu o país no epicentro dela, o povo brasileiro recupera a memória das lutas que há bem pouco tempo pavimentaram o caminho para a construção de um país generoso, inclusivo, pluralista, tolerante, democrático, soberano e com respeito à vida, ao meio ambiente e aos direitos sociais e trabalhistas.

    “Vacina no Braço, comida no prato!”

    “Fora, Bolsonaro! Impeachment Já”!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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