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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O mundo dos héteros inseguros de Tallis Gomes é o mesmo de Pablo Marçal

“O Deus que livraria o empresário da ameaça das mulheres poderosas é o mesmo que orienta a idiotia pregada pelo ex-coach”, escreve o colunista Moisés Mendes

Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YT)

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Um sujeito que teme a liderança das mulheres pode falar de crise climática, empreendedorismo e preparação do mundo para as novas pandemias? Pode vender seu modelo de liderança como inspirador de condutas, inclusive entre as mulheres?

Dizer que não pode é mais ou menos como afirmar que Pablo Marçal não está habilitado a tratar de questões éticas e morais, ou que Malafaia não pode falar em nome de Deus.

Todos eles falam sobre o que quiserem, porque liberou geral. Eles só não existiriam como são se o brasileiro levasse em conta regras mínimas do que é sensato e razoável, como as que ainda existiam no século de 20, mesmo que precariamente. E se a idiotia não tivesse se alastrado.

Pois o jovem milionário mineiro Tallis Gomes, um sujeito que teme o poder feminino em postos de comando, disse que Deus deve livrá-lo do risco de ver uma mulher como principal executiva da empresa em que trabalha. Esse sujeito seria ouvido por mulheres em evento com líderes inspiradores em Porto Alegre. 

Gomes foi cancelado na palestra e nas redes sociais por ter falado com desprezo pelas mulheres, no Instagram, às vésperas do encontro no Instituto Caldeira, um reduto do pensamento liberal. E perdeu o cargo de CEO de uma das suas empresas, a G4 Educação. Foi substituído por uma mulher, Maria Isabel Antonini. 

Por que Gomes havia sido convidado para um evento que tratará dos temas citados lá no alto? Porque é um cara de apenas 37 anos, que ganha muito dinheiro e deve ser visto como exemplo de ousadia, prosperidade, meritocracia e liderança.

Mas pode um empresário misógino, que desqualificou a liderança feminina (mulher deve cuidar da casa e dos filhos e evitar se masculinizar), ser modelo para quem busca referências para a própria vida e para a vida dos outros? Muitos desses institutos liberais continuarão achando que eles podem.

Basta que seja um empreendedor de sucesso, incapaz de refletir não só sobre mulheres, mas sobre a vida em seu sentido coletivo. Basta que tenha lições de como ficar rico. Que saiba contar como ficou milionário e consiga convencer os outros de que, com esforço individual, qualquer um também pode.

Thallis Gomes e Pablo Marçal são diferentes apenas nos detalhes, mas na essência vendem os mesmos sonhos. Mesmo que os aplicativos de Thales funcionem e os cursos de Marçal sejam acusados de pilantragem na Justiça, ambos são da mesma turma.

São a imposição do macho hétero que tem Deus acima de tudo. Um Deus que deve estar orientando as ações de Marçal, já condenado como estelionatário, e pode livrar Gomes de ser liderado por mulheres em altos cargos. Eles não seriam nada sem esse Deus. 

Gomes é um Marçal Nutella, sem a ambição de ser prefeito ou presidente da República, mas com a pretensão de ser guru de quem busca prosperidade no mundo mágico dos milagres analógicos e digitais.

Ambos reproduzem os modelos de Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg. O sentido do coletivo para eles só existe sob o ponto de vista de que há coletividade apenas em mercados e consumidores, não em grupos sociais.

Marçal tem soluções para a pobreza em Angola e Gomes aposta em descobertas que resolvam os problemas da humanidade fora da Terra. Como Elon Musk deseja e que talvez se torne possível, se Gomes desenvolver um aplicativo para as viagens a Marte.

Desprezar as mulheres não é um detalhe, é da essência da maioria dessas figuras, porque o ativismo ultraconservador só existe por ser liderado por machos brancos. A extrema direita é também um fenômeno da insegurança de héteros vacilantes ativistas ou não de facções de red pills.

Gomes teme mulheres em postos de chefia e não gosta de contratar empregados de esquerda, como já disse em entrevistas, porque se parecem com nazistas. 

Ele e a maioria dos fabricantes de mágicas digitais são, com seus aplicativos, os caras dos espelhinhos do século 21. E até conseguem, com frases genéricas, falar de crise climática e soluções para o mundo. 

É como Pablo Marçal fala, dirigindo-se ao seu eleitorado, que ele mesmo define como idiota, das soluções para São Paulo e para a humanidade.

Esses são os jovens da nova elite empresarial brasileira, que vendem prosperidade inspirados no que existe de pior no mundo corporativo das big techs, sempre exaltando o dinheiro a qualquer custo, se possível com o aval de um Deus que teme mulheres.

Empreendedorismo, dinheirismo, aquisitivismo, individualismo, machismo. Há todas as rimas possíveis para o fascismo nas suas mais diversas formas de se expressar.

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