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    Alex Saratt

    Alex Saratt, professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS e dirigente sindical do Cpers/Sindicato.

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    O negacionismo

    O neonegacionismo é a nova roupa do Imperador. De neo só o fato de ser a mais recente manifestação de uma velha prática que conduz a sociedade a uma fascistização medonha e de consequências ainda desconhecidas. Não se deixe enganar, o perigo desses sujeitos e concepções é muito maior, porque nada pior do que um inimigo dissimulado

    (Foto: Reprodução)

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    Fenômeno curioso vem tomando forma e ganhando conteúdo. Vou, à guisa de melhor definição, chamá-lo de neonegacionismo, política, discurso e narrativa aparentemente mais sofisticada, dialógica e argumentativa, mas que no fundo guarda os mesmíssimos elementos do negacionismo tosco, bruto e virulento que caracteriza a fala bolsonarista.

    Diferente de seu estágio mais primário, o neonegacionismo não combate frontalmente as questões levantadas pela Ciência, ao contrário, as admite e as afirma, mas desloca o debate para o campo da Política propriamente dita, tergiversando e relativizando as constatações científicas. Também se mostra sensível e comprazido com as demandas sociais ou subjetivas que o problema da pandemia traz consigo. Com uma postura de diálogo e discursiva voltada ao conjunto da sociedade, procura legitimar uma atitude de interesse geral, geralmente inconteste dada a veracidade inexorável de suas premissas e máximas.

    O neonegacionismo é, portanto, insidioso, penetrante no tecido e mentalidade societária, afinal tenta - e consegue - passar uma noção de que suas arguições são a expressão inquestionável dos fatos e sentimentos de uma maioria ou totalidade (algo tão ao gosto do fascismo).

    Os neonegacionistas assumem a gravidade da pandemia ou a necessidade da vacinação ou a justeza de reivindicar o fechamento de escolas, mas pragmático que se apresenta acaba se escorando nas alegações de que não é possível simplesmente parar o funcionamento da economia ou que bom seria ter vacinas à disposição ou que as crianças não podem sofrer com a exclusão escolar (em especial, as mais pobres, que passaram a existir para os mesmos que apoiam as políticas de redução do Estado, de Direitos, Inclusão e de Bem Estar Social).

    O neonegacionista aceita regras, normas, protocolos, mas logo adiante diz que são impraticáveis, que a situação está normalizada, que há exagero e até mesmo algum tipo de conspiração contra os esforços do Governo que apóiam. Para ele, o problema da saúde pública não tem nada de novo (o que é uma verdade, mas que tem explicações históricas) e que, portanto, o que há agora é histeria e tentativa de instalar o caos. A excepcionalidade da pandemia não altera em nada o quadro, é só um "dadozinho" insignificante.

    O neonegacionismo é, em suma, afável aos desavisados e crédulos. Problemas complexos são reduzidos a raciocínios simplistas, não raro sofismáticos e demagógicos, com o fito principal de engambelar a platéia. Enquanto fala manso, o neonegacionista crava a faca lentamente. São eles os promotores das carreatas (???) pela reabertura de escolas dentro do conforto e segurança de seus carrões; falam em vacina, mas defendem Cloroquina; estão solidários aos trabalhadores, mas estribilharam quando do auxílio emergencial; manipulam dados, estatísticas e não tem pudor em divulgar fake news desde que feito de modo cordato e em defesa da liberdade de expressão.

    O neonegacionismo é a nova roupa do Imperador. De neo só o fato de ser a mais recente manifestação de uma velha prática que conduz a sociedade a uma fascistização medonha e de consequências ainda desconhecidas. Não se deixe enganar, o perigo desses sujeitos e concepções é muito maior, porque nada pior do que um inimigo dissimulado.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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