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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    O nome dele é Luan Araújo

    “Escondido nos jornais, o nome do jornalista negro perseguido por Carla Zambelli precisa ser citado sempre, porque marcará uma decisão histórica da Justiça”

    Luan Araújo e Carla Zambelli (Foto: Reprodução/Twitter)

    Todos os jornais, sites, blogs e assemelhados, incluindo os de esquerda, com as exceções de costume, informam o seguinte: a deputada Carla Zambelli pode ser condenada e até perder o mandato por ter perseguido, com arma em punho, um homem pelas ruas de São Paulo em outubro de 2022, na véspera do segundo turno da eleição.

    Poucos informam que a deputada perseguiu o jornalista Luan Araújo. O homem perseguido e ameaçado tem um nome. Tem uma profissão que a extrema direita odeia. E é um homem negro.

    O jornalista negro Luan Araújo foi perseguido e correu o risco de morrer, porque ninguém usa arma de fogo sem saber que pode matar. Refugiou-se num bar, jogou-se ao chão e foi subjugado pela deputada, sempre armada. No momento em que Zambelli vai a julgamento no STF, ele é tratado como um homem sem nome.

    Luan Araújo deve ter o rosto exposto e ser bem identificado porque nos representa. Representa os jornalistas e todos os perseguidos pelo fascismo. Incluindo os acossados por assédio judicial de ainda intocáveis e impunes da extrema direita. Eles perseguem nas ruas, na Justiça, na tribuna do Congresso, nas milícias digitais, nas mídias de direita, onde dá pra perseguir.

    O jornalista perseguido por Carla Zambelli é paulista, tem 35 anos e se dedica às pautas de combate ao fascismo e ao racismo. Luan é um jornalista assumidamente de esquerda e escreve para várias publicações. Não é apenas um homem que Zambelli decidiu perseguir e que não mereça ter o nome citado.

    No ano passado, quando a deputada ainda estava forte e impune, Luan foi condenado a oito meses de cadeia porque teria injuriado a perseguidora. A pena foi transformada em prestação de serviços à comunidade. Dos personagens desse caso, ele é o único condenado até agora.

    Todos os veículos de imprensa deveriam assumir o compromisso de dar o nome e mostrar a cara de Luan Araújo, para que também ele não se transforme em mais uma vítima sem identidade e sem rosto das crueldades e dos crimes do bolsonarismo.

    O nome de Luan Araújo deve ser repetido, porque a perseguição de outubro de 2022 provocará a condenação da primeira figura de expressão da extrema direita, que até agora só tem manés e gente do segundo time cumprindo penas.

    Luan Araújo precisará ser lembrado como o jornalista negro do caso que finalmente afastou da política uma poderosa extremista branca. Não escondam o nome de Luan, porque o julgamento que acontece no STF, com a previsível condenação da deputada, será um momento histórico.

    (Quando esse texto foi concluído, na tarde dessa sexta-feira, os ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes, os primeiros a votar no julgamento de Zambelli pelo STF por constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo, haviam decidido que a deputada do PL deve ser condenada 5 anos e 3 meses de prisão em regime inicial semiaberto, com a perda do mandato parlamentar. A previsão é de que os ministros poderão votar remota e lentamente até a próxima sexta-feira. Carla Zambelli começa a morrer como figura pública da extrema direita nesse julgamento em banho-maria, mas em fogo alto.)

     

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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