O nordestino, um forte
Brasileiros, não mercadejem, com suas consciências, no balcão dos interesses escusos dos donos do poder econômico e político
Por Agassiz Almeida
Forjado nas adversidades da vida e nas intempéries da natureza, o nordestino é um forte. Quanto maiores forem os embates com as forças humanas e naturais, mais ele resiste. Resistente é o seu nome. Lembro-me desta canção espanhola: “Resistiré”, hino dos anos 1980 que gritava contra o trauma da tirania franquista.
Hoje, após a eleição presidencial, calejado pelos sóis da Caatinga, o nordestino brada ao Brasil e ao mundo: Nós resistimos a um derrame escancarado de recursos financeiros do governo federal, que procurou mercadejar com a nossa fibra, sobretudo dos homens e das mulheres mais simples. Resistimos, brada o sertanejo a legiões de fanáticos ensandecidos que fizeram de Messias Bolsonaro um tipo de guru tibetano.
Resistimos a pastores mercenários, que transformaram o sagrado templo religioso em comitê eleitoral. Pregava o seu “messias”, cinicamente: esta eleição é a luta do bem contra o mal, nós somos filhos de Jesus e eles filhos do Satanás. Resistimos a torrentes de fake news lançadas em massa com mensagens criminosas.
Resistimos, gritam os vaqueiros da Caatinga. Resistimos, exclama a valente mulher nordestina. Os donos do poder central tentaram manipular a eleição, com todas as formas de pressão dos órgãos públicos, do perturbador Ministro da Defesa, Paulo Sérgio, até, mesmo no dia do pleito, o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, que se converteu em sátrapa do presidente Bolsonaro, procurando impedir os nordestinos de votar, amedrontando-os.
Amargaram o fel da derrota nas urnas os mercadores de consciências livres. Evocaram até Lúcifer para dentro das igrejas evangélicas, pregando que o candidato opositor ao presidente da República apoiava o endiabrado. O preço da alma nordestina é não ter preço.
As páginas da História do Brasil têm as marcas e pegadas dos nordestinos, na expulsão dos holandeses, no século XVII, na consagrada e heroica Batalha dos Guararapes, comandada pelo paraibano, Vidal de Negreiros. Elevaram-se bem alto, na têmpora de Frei Caneca, que liderou a Confederação no Equador contra o absolutismo monárquico. Pagou com a vida por seu heroísmo. Um braço se levantou, na Bahia, em 2 de julho de 1922, pela nossa Independência. Era a valente Maria Quitéria.
Esta é uma nação, resumida nestes episódios, chamada Nordeste, em cujo solo o Brasil deu os primeiros passos. Ao mesmo tempo, aponta aos apequenados e acovardados que envergonham a nossa pátria: a independência e a gratidão forjam o caráter de um povo. Tristes dos endinheirados que, de tanto se curvarem aos poderosos, jogaram no lixo sua dignidade e respeito próprio.
A chegada do filho de Dona Lindu à Presidência da República fez calar os fanáticos imbecilizados. O mundo aplaudiu o Brasil. E a liberdade e o desenvolvimento flamejam nos horizontes da pátria. Durante quatro anos, um presidente se metamorfoseou em guru do ódio, perturbando o país com bravatas e insanidades, chegando a causar a morte de quase 400 mil brasileiros em face do atraso na compra da vacina contra a Covid 19.
Os nordestinos do longínquo ontem, com Vidal de Negreiros, seus bravos conterrâneos de hoje, retratados na fibra do paulista Alexandre de Moraes, todos irmanados com os inconfidentes de Minas Gerais, deixaram esta lição à história: Libertas quae sera tamen.
Brasileiros, não mercadejem, com suas consciências, no balcão dos interesses escusos dos donos do poder econômico e político. O Brasil é sua gente! Eis, afinal, a democracia da resistência! Bradam os nordestinos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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