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    Pedro Cláudio Cunca Bocayuva

    Professor do PPDH do NEPP-DH/UFRJ

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    O novo tipo ideal e a máquina mortífera

    Na vida como na ficção o chefe da horda não desiste de seu intento de destruição, quanto mais o planeta esta devastado, quanto maior o deserto, quanto maior a escassez mais forte o seu modo de governar o desamparo alimentado pela vida nua

    (Foto: Divulgação)

    Por Pedro Cláudio Cunca Bocayuva

    No cinema a caracterização pós-apocalíptica aparece quase sempre montada em algum tipo de máquina. Os personagens são sedentos por matar e são como que caricaturas de si mesmos. Sempre seguidos por hordas de seres marcados pela dor, pela frustração e pelo medo. 

    O rebanho segue sempre um tipo como o caracterizado por Dennis Hopper em "Waterworld". Na vida como na ficção o chefe da horda não desiste de seu intento de destruição, quanto mais o planeta esta devastado, quanto maior o deserto, quanto maior a escassez mais forte o seu modo de governar o desamparo alimentado pela vida nua. 

    O terrível é que estas caricaturas da desumanidade se convertem em objeto de culto dos arrebanhados. A diferença esta sempre em saber o que permite, em cada momento histórico, que esta lógica prospere? Quem busca conscientemente abrir o caminho para máquinas mortíferas avançarem na produção do deserto do real? Alguns afirmam que estas formações de grupo nascem da articulação bifronte entre capitalismo e fascismo mas, sabemos que existe alguma dimensão pessoal e coletiva de escolha, que se faz no terreno da ideologia.

    Algo como um inconsciente político exige uma cena, um espetáculo no qual a "coisa" ganha sentido pelo fato da crueldade sobredeterminar a pulsão de morte. No “experimento” a que somos submetidos  se destaca uma espécie de puro instrumento de gozo perverso, por meio da intenção e do gesto que furam os velamentos. 

    A amoralidade se revela na pobreza simbólica e na miséria psíquica que banaliza a crueldade, neste quadro de passagem ao ato que revela o real na fúria. Este “mais-de-gozar” é revelador do resto que retorna como a encarnação do "fantasma" de cada um. Na figura bizarra dos pequenos narcisismo prospera a morbidez política na cena contemporânea, ainda que antes do apocalipse. 

    No convite ao "banho de sangue" temos o que parece ter sido pensado como suicídio do social. Vivemos no limite desta repulsa ao encontro com o outro ao trombarmos com o espelho em que Medusa se olha. A guerra perde sua força de mobilização idealizada, as virtudes guerreiras são agora reveladas pelo desejo de manejar máquinas de guerra, objetos mortais. O prolongamento do falo falho, da falta de recursos, avança até mesmo diante da religião. Estamos sem recursos discursivos para lidar com a emergência do lado sombrio e das fantasmagorias, que sintetizam o momento culminante da servidão humana que nos envolve como regime de colonialidade e guerra difusa. 

    Quando só a ideia de "força bruta" nos habita nos tornamos instrumento da destruição da cultura, tomados pela  paranóia de só nos vermos entre inimigos. Quando a horda começa atacando os outros até o limite de se autodevorar. O tema do "nomos da terra" retorna na leitura do Anjo da História que nos coloca diante da necessidade de pensarmos do avesso. Nos colocando na perspectiva do resgate da memória como a verdade expressa rompendo o silêncio dos vencidos. Mas como fazer isto sem a força imanente do amor pela vida, sem as ilusões que nos faziam acreditar em falsos profetas?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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