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    Marcia Tiburi

    Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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    O ódio às mulheres pode ser controlado?

    "O ódio às mulheres é tão antigo e tão fundamental ao patriarcado que não há notícia de sociedade livre de misoginia", diz Márcia Tiburi

    (Foto: Nando Motta)

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    Atualmente, fala-se muito em misoginia, mas será que as pessoas sabem o que realmente significa misoginia? 

    O ódio às mulheres é tão antigo e tão fundamental ao patriarcado que não ha notícia de sociedade livre de misoginia. Esse ódio não apenas faz parte, mas é o núcleo fundador da cultura patriarcal. Portanto, se trata de um padrão de pensamento e de afetividade que gera um comportamento generalizado. 

    Em termos gerais isso quer dizer que ódio às mulheres foi naturalizado e aceito como se não pudesse ser diferente, de tal maneira que até as próprias mulheres podem acabar tendo pensamentos, sentimentos e comportamentos misóginos. 

    O problema, portanto, é de base. É o sistema patriarcal que instaura e reproduz o ódio contra as mulheres para se sustentar. A chamada masculinidade tóxica nada mais é do que o sintoma mais evidente e atual de uma “estrutura estruturante” para usar um termo de Pierre Bordieu para explicar o funcionamento de um sistema pela repetição de seu padrão. 

    Entramos em 2024 com a notícia do feminicídio de Julieta Hernandez que, no seu ofício de palhaça, atravessava o Brasil de bicicleta. Julieta se torna parte da estatística de cinco mulheres mortas por dia no Brasil. Para nosso horror e vergonha, nosso país está no topo do ranking da violência extrema que é o feminicídio, ou seja, o assassinato de uma mulher apenas por ser mulher. O feminicídio é a confirmação do ódio em seu estado mais puro que não controla seu sadismo e sua crueldade. 

    O patriarcado implica uma eterna sentença de morte contra as mulheres, contra todas e cada uma. Nenhuma escapa: mulheres de todas as raças, classes, gêneros, idades, sejam insubmissas ou obedientes, livres ou oprimidas, todas estão sentenciadas de morte e podem se considerar sobreviventes. 

    Se a misoginia é o que está na base de todas as violências e também do feminicídio, criminalizar a misoginia - equiparando-a legalmente à homofobia, à transfobia e ao racismo - é importante para cortar o mal pela raiz. Sinalizar para o fundamento do patriarcado no qual se faz o exercício do machismo de diversos modos é o que se pode alcançar em termos culturais com uma lei que aponte para a necessidade de combater o horror em seus fundamentos últimos.

    Atualmente, parece haver um gozo machista acima do habitual na cultura patriarcal, na qual homens não se contentam com seus privilégios de gênero, mas exigem a humilhação e a morte e se regozijam nela. Na contramão, homens que se dizem não machistas não abrem a boca para criticar seus pares ou defender as mulheres. 

    Raramente homens que se dizem não-machistas se manifestam contra o ódio às mulheres. Certamente acreditam que essa defesa não lhes concerne. 

    Contudo, o silêncio pode esconder conivência. 

    Precisamos que os homens ajudem a controlar o ódio que sua classe produz. E para isso os homens, principalmente os mais engajados que se dizem de esquerda e não machistas, precisam sair do seu confortável silêncio que não deixa de ser um privilégio de classe.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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