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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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O Oriente Médio (e o mundo) à caminho do Inferno

Não há como desconhecer o potencial de tragédia que se irradia do Oriente Médio, ameaçando romper fronteiras, além dos envolvidos nos conflitos

Lula recepciona brasileiro resgatado no Líbano (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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A decisão do governo de Israel no sentido de tornar António Guterres, o Secretário-Geral da ONU, persona non grata explicita o que já se sabia. Tel Aviv imagina que, cometa os crimes que cometer, continuará impune. Não bastava o genocídio em Gaza e repete coisa semelhante no Líbano, colocando em risco populações civis sob a obsessão de eliminar inimigos. É certo que, no direito internacional, leis têm dificuldades de se implantar. 

Decisões de tribunais, envolvendo dirigentes de relevo, não pegam e palpitam escandalosamente num círculo pequeno de pessoas. Nos casos gritantes, como o dos massacres contra palestinos, repercutem na política interna dos países, vide as passeatas estudantis nos EUA e no resto do mundo, incluindo organizações judaicas.  Dificilmente, Benjamin Netanyahu disporia de um nome da grandeza de um António Guterres para fazer valer o fel das suas frustrações. 

O Secretário-Geral não chegou onde se encontra por obra do acaso. Ostenta um currículo para ninguém botar defeito. É um humanista que não pode se calar frente a atrocidades escandalosas. Antes de agir (ou falar), enumera reflexões que os culpados utilizam à sua maneira, na maioria das vezes ignorando-as. Além disso, preside uma assembleia integrada por um conjunto de nações que, de fato, e em sua maioria, não suportam a perpetuação de abusos como se estivéssemos de passagem comprada para o Inferno. A decisão de Israel, no caso, cai num vazio gritante. Ninguém em sã consciência, a não ser movido por interesses confessos, possui meios frente a isso de se fingir de surdo. A História lhes reserva um lugar respeitável na galaria dos criminosos dignos de nota. Como ocorreu no Vietnã, manifestações se fizeram ouvir e se materializaram na retirada às pressas dos soldados norte-americanos. Parece evidente que se tornar persona non grata por iniciativa de Netanyahu representa, para António Guterres, um galardão entre os muitos que figuram no seu peito. 

No entanto, não há como desconhecer o potencial de tragédia que se irradia do Oriente Médio, ameaçando romper fronteiras, além dos envolvidos nos conflitos. Mesmo sem o perigo nuclear, não obstante permaneça possível, guerras totais, já o sabemos, ferem a raiz da condição humana na dimensão de seus estragos e no rol das vítimas. Nos Estados Unidos, em plena fase de um período eleitoral, acumulando-se com os temas internos, as anomalias de Israel começam a se tornar incômodas.  

A ironia contamina o universo das responsabilidades numa sociedade que se dá ao luxo de financiar conflitos e fechar os olhos para a pobreza. Nas contradições do sistema, as verbas para o belicismo não dispõem de contrapesos com programas sociais. Eles imaginam que a miséria deve desenvolver seus próprios recursos para se transformar em riqueza. Pobres só seriam pobres por atributos pessoais e não porque os condenaram a sê-lo. Lógica esquisita saída de mentes doentias, é claro. O caminho para o inferno comporta estas aberrações.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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