O pai-censor
Mandou devolver o livro que o filho comprou
Anteontem, no capítulo anterior, eu contei que, há duas semanas, mais ou menos, remeti meu livro “O dia em que conheci Brilhante Ustra” para a pessoa que o comprou, além de estar à venda nas livrarias e nos sites eu vendo pessoalmente para quem quiser autografado, foi o que fiz, ele pagou, eu enviei para ele.
Há dois dias, o livro voltou para mim. “Recusado pelo sr. João Alves”, segundo o correio.
Deduzi que seria o porteiro do prédio, descobri o telefone da portaria.
“É o sr. João Alves”?
“Sim.”
“Seu João, eu enviei um livro para um morador do prédio e o senhor recusou, segundo o correio. Por que o senhor fez isso?”
“Não fui eu não, foi o pai dele que mandou devolver”.
“Mas como? Por que ele recusou”?
"Não disse porque, só mandou devolver”.
“Então, por gentileza, quando o senhor encontrar o rapaz peça para ele entrar em contato comigo” e passei o número do meu celular “para resolvermos a questão”.
Hoje liguei de novo para o seu João, que desta vez não foi tão gentil, não quis saber de muita conversa, “se é sobre aquele assunto, eu falei com ele”, disse.
E ele disse o que?
“Nada”.
O rapaz não me procurou nem para confirmar o que aconteceu nem para pedir o dinheiro de volta, preferiu perder a grana a brigar com o pai, que certamente implicou com o título, eis a que ponto chegamos, na ditadura havia a censura oficial, mas hoje há milhares de censores invisíveis, dentro dos apartamentos, espalhados pelo país, tal como esse pai-censor.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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