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    Inez Lemos

    Psicanalista e autora de "Berro de Maria", ed. Quixote.

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    O prêmio e o projeto colonizador

    "Fazer sucesso no Brasil é palavrão"

    Fernanda Torres vence o Globo de Ouro (Foto: Reuters)

    Egolatria é coisa suburbana, chamar qualquer indivíduo bem aparantado de Dr revela culto à arrogância, ostentação - traço simbólico herdado de gente endieirada que se julga especial, Vip - deflagrando nossa face colonial, escrovocrata. Por que ainda não ganhamos nenhum prêmio Nobel? Por que não nos valorizamos? Por que temos dificuldade de aplaudir o sucesso do outro? 

    O psicanalista Contardo Calligaris em Hellô Brasil tentou explicar nossa alma de Vira lata. A expressão "Esse país não presta" lhe chamou a atenção tão logo aqui desembarcou. 

    Agora assistimos de forma estarrecida a extrema-direita tosca e desletrada, desqualificar o filme "Ainda estou aqui", como também a premiação de Fernanda Torres. Realmente somos uma cultura a ser analisada com fervor. Tom Jobim cantou a pedra: "fazer sucesso no Brasil é palavrão". Grande parte do brasileiro gosta de cultuar apenas jogador de futebol e cantor sertanejo. 

    Ainda trazemos o atavismo de sermos filhos da contravenção: o português que seduziu a indígena para obter informações privilegiadas de nosso território. Nascemos de um ato de corrupção. O Brasil precisa, urgente, se deitar em um divã - há muito ressentimento a ser investigado. Ciúmes, inveja, sintomas de gente infantilizada. A maioria de nossa elite considera análise coisa de gente fresca. Para  político ignorante, desumano, devemos resolver tudo na bala, porrada e cachaça. O álcool e a arma metaforizam a onda bolsonarista que prega violência. Síndrome de miliciano. Por que o feminicídio e casos de estupros aumentaram? Arte, cultura, aplaudir gente inteligente que se destaca  lá fora com maestria, seria o esperado. Melhor não seria divulgar nossos talentos? Contudo, no lugar de receber homenagens, recebem pedradas, deboches. Somos realmente um caso patético de burrice - nós mesmos avacalhamos, nos desvalorizamos. 

    Deveríamos nos orgulhar da família Rubens Paiva, da mulher Eunice Paiva, da ex presidente Dilma Rousseff pela coragem de enfrentar a Comissão da Verdade, como também pela dedicação do presidente Lula em se entregar de corpo e alma para livrar o Brasil de mais um golpe civil/militar, como foi o 8 de janeiro de 2023. O filme chega em boa hora. Ditadura Nunca Mais. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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