O presidente marmota
"Não dá mais para aguentar tamanha passividade. Assim perderemos um ou dois anos só pensando no que deixamos de fazer. Além do vírus que acometeu o planeta fomos tomados por um pesadelo sem fim que vai ser dramático para nossas vidas", escreve Miguel Paiva
Não é certamente um efeito do isolamento e da pandemia. Este vazio que nos ronda como um fantasma transparente é um fato real. O país parou pelo vírus e pelo governo Bolsonaro. Não vemos nenhum movimento, seja ele político ou emergencial, que demostre alguma dinâmica. O que vemos, na realidade, é um espetáculo decadente onde os atores não têm mais nada a dizer do pouco que tinham no início e a cena se repete ad nauseum.
A grande imprensa apesar de não poder mais evitar as críticas ao governo parece estar sempre esperando o menor sinal vindo de Brasília para poder bater palmas novamente. Dificilmente virá. Ministros inócuos continuam sendo escolhidos e sendo ridicularizados em seguida. Decretos não avançam porque são absurdos. Atitudes do planalto são reprováveis e personagens desta história tosca entram e saem direto para o esquecimento ou para a cadeia. Processos até existem contra essas pessoas. Deputados, senadores, ministros, esposas e assessores estão na mira da justiça mas, a sensação que temos é que nada avança. Parece que estão todos cansados desse cenário vazio e preferem acreditar que não é bem assim e que acordarão deste pesadelo em seguida.
Mas é bem assim, sim. Estamos construindo um fosso enorme diante da nossa própria população e diante do mundo. Não podemos mais viajar para a Europa e aqui dentro o clima está de sufocante para pior. O país precisa se mexer novamente. Precisamos sair desta letargia, fazer o que for preciso para tirar do governo Bolsonaro, tratar da pandemia como se deve e reencontrar o caminho da roça como se diz.
O Brasil não merece esse dia da marmota. Repetimos o mesmo marasmo a cada dia e nem mesmo as novidades mais picantes e interessantes, os escândalos mais apetitosos e as prisões mais sensacionais satisfazem a necessidade do país de andar pra frente. Colecionamos notícias falsas, mentiras absurdas e patinamos na lama deste governo sem saber como isso vai acabar.
As pessoas estão loucas para sair de casa. Depois desse tempo todo numa quarentena bem mais ou menos começamos a ficar ansiosos. As capitais empurraram o vírus para a periferia e para o interior. Estão com a mão na maçaneta da porta prontos para ligar o dane-se e continuar a vida, mesmo com o vírus na espreita fora de casa. Nem as máscaras o brasileiro consegue usar. O distanciamento então, para quem precisa sobreviver sem um estado mais forte é praticamente impossível. E que vida é essa que queremos retomar? Que país é esse que nos restou mesmo sem ter derrotado o vírus? Um país sem personalidade, sem projeto, sem presidente e sem governo.
Não dá mais para aguentar tamanha passividade. Assim perderemos um ou dois anos só pensando no que deixamos de fazer. Além do vírus que acometeu o planeta fomos tomados por um pesadelo sem fim que vai ser dramático para nossas vidas. Se nós que moramos nos grandes centros estamos desse jeito , imaginem quem sobrevive no interior, no Brasil profundo sem hospital. sem informação, sem escola, sem comida e sem futuro.
O Brasil não merece terminar assim sua história. Vivemos momentos extremamente gratificantes no passado recente e devemos ter isso em mente na hora de esticarmos as pernas, alongarmos os braços e partir para a retomada. Vai ser mais difícil do que imaginamos mas se ficarmos parados vai ser quase impossível. A História tem vagas também para governos como o nosso. Fica lá no porão, no meio dos entulhos, entre vírus, ratos e sujeira. É praticamente o fundo do poço.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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