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    Emir Sader

    Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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    O primeiro grande historiador do século XXI

    "O inglês Peter Frankopan é o primeiro grande historiador do século XXI", escreve Emir Sader

    Peter Frankopan (Foto: Reprodução/YT)

    O inglês Peter Frankopan é o primeiro grande historiador do século XXI. Mesmo o maior historiador do século XX, Eric Hobsbawm, pecava pelo eurocentrismo. A Ásia era uma periferia da Europa.

    As principais obras de Frankopan são: “O coração do mundo – Uma nova história universal a partir da Rota da Seda: o encontro do Oriente com o Ocidente”, “A história do mundo – Do Big Bang até os dias de hoje” e “As novas Rotas da Seda – Presente e Futuro do Mundo”.

    Frankopan se apoia na ideia das “rotas da seda”. A expressão serve para descrever as formas em que se relacionaram povos, culturas e continentes, e, ao fazê-lo, nos ajuda a compreender melhor o modo como, no passado, se propagaram as religiões e os idiomas, além de mostrar como, nesta parte do mundo, distintas ideias acerca da comida, da moda e da arte se difundiram, competiram entre si e influenciaram umas às outras. As rotas da seda ajudam a esclarecer o lugar central que ocupa o controle dos recursos e o comércio de longa distância.

    Os últimos anos deixaram claro que, por mais traumática ou cômica que possa parecer-nos a vida política nos tempos do Brexit, são os países da rota da seda os que de verdade importam no século XXI. No mundo atual, as decisões realmente transcendentais não são tomadas em Londres, Paris, Berlim ou Roma, mas em Pequim e Moscou, Teerã e Riad, Delhi e Islamabad, Cabul e no Afeganistão, Ancara, Damasco e Jerusalém. O passado do mundo foi definido pelo que ocorria ao longo das rotas da seda; e o mesmo acontecerá no futuro.

    Desde 2015, o mundo viveu uma mudança espetacular. Naquele momento, Frankopan escreveu que a vida no Ocidente estava se tornando mais difícil e desafiadora. Agora, a nova eleição de Trump projeta um futuro difícil de definir.

    A Rússia, por sua vez, introduziu um novo capítulo em suas relações com o Ocidente, resistindo e superando as penalidades impostas ao país, e retomando a iniciativa política e militar.

    Já vivemos no século asiático, uma época em que o PIB global está se deslocando das economias desenvolvidas do Ocidente para as do Oriente em uma escala e uma velocidade assombrosas. Algumas projeções preveem que, em 2050, a renda per capita, em termos de paridade do poder aquisitivo, se multiplicará por seis na Ásia, o que tornará ricos outros três bilhões de habitantes do continente. Ao duplicar praticamente sua participação no PIB global, até 52%, a Ásia recuperará a posição econômica dominante que tinha há uns 300 anos, antes da Revolução Industrial.

    O ritmo com que a Ásia está crescendo e as dimensões das transformações que está vivendo são impressionantes. Para o ano de 2027, o PIB combinado das cidades asiáticas já será maior que a soma das norte-americanas e europeias. E, oito anos depois, as superará em 17%.

    O principal dos novos projetos é a iniciativa “Um cinturão, uma rota”, pilar da política econômica do governo chinês, que utiliza as antigas rotas da seda terrestres e marítimas como base para os planos de longo prazo da China.

    As rotas da seda, afirma Frankopan, aparecem de novo. Vale a pena segui-las com atenção para entender como e por que nos afetarão a todos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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