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    Celso Raeder

    Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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    O PT enfrentará a campanha mais suja da história

    Numa viagem que fiz de motocicleta do Rio de Janeiro até a Bahia, pude perceber como as rádios das cidades do interior enaltecem o governo

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    As eleições deste ano vão tirar os marqueteiros da zona de conforto. Posso assegurar que qualquer estratégia de campanha eleitoral baseada no trinômio: programa de governo sedutor, recursos audiovisuais envolventes, e a positivação da imagem do cliente a partir das vulnerabilidades dos concorrentes, redundará em fracasso.  

    Vamos tomar por exemplo a hipotética situação: O candidato do PT à presidência da República apresenta à sociedade um programa de governo que é a antítese de tudo o que está aí, neste momento, destruindo o Brasil.  Lula acena para o eleitor com a retomada do crescimento econômico com justiça social, a volta de programas de habitação, educação, cultura, preservação do meio ambiente, políticas para o campo que valorizem o pequeno produtor, as riquezas do petróleo gerando benefícios para o consumidor ao invés de enriquecer ainda mais os banqueiros internacionais, enfim, uma pauta urgente e necessária para corrigir os rumos da nação. 

    Sabe qual vai ser a resposta de Jair Bolsonaro a este programa de governo do PT, elaborado por muitas mãos e cérebros? A mentira e o ódio. A campanha do presidente apoiado por militares que não merecem a farda que ostentam; pelo crime organizado beneficiado com o afrouxamento da venda de armas e munições que vão parar nas mãos de milicianos e traficantes; por lideranças evangélicas que usam o nome de Jesus para construir impérios dignos de César, será de medo e terror. 

    Não existe ética numa guerra suja. Se o PT abraçar esse purismo moral, acreditando que o eleitor saberá discernir o bem do mal, vai se lascar de forma a comprometer até a existência da legenda no futuro.  Lula e o seu partido precisam entender que esta eleição é totalmente atípica, sem parâmetro com qualquer outra que tenha enfrentado. 

    A tal facada do Adélio foi só um ensaio para o que virá em 2022. Agora, com generais empoderados, nadando em dinheiro em cargos estratégicos, quem vai largar o osso? A História é pródiga em exemplos de atentados a bomba planejados de dentro dos quartéis, atribuindo aos “comunistas” a responsabilidade do ato. E mesmo depois do fim da ditadura militar, quem não se lembra do sequestro do empresário Abílio Diniz, durante o segundo turno da campanha presidencial entre Lula e Collor, em 1989, quando no cativeiro foram ‘encontrados’ bandeiras, sacolas e material de campanha do PT?

    Essa turma da caserna não brinca em serviço. Alguns assaltos a banco, uns mascarados com camisas vermelhas quebrando umas vidraças nas capitais, a morte de um inocente para se tornar mártir da pátria, da família cristã e, pronto! Gamer over para o PT. Na outra extremidade do terrorismo eleitoral estão os sacerdotes evangélicos que controlam currais de ovelhas. Antes de prosseguir, deixo registrado meu maior respeito aos religiosos que se dedicam ao ensinamento do Evangelho, e que jamais cerrariam fileiras com simpatizantes da tortura, da intolerância e do ódio.  

    Esse é o braço ideológico da pauta de costumes. Não custa nada para essa turma patrocinar uma manifestação em frente ao MASP, com mulheres e homens despidos, defecando sobre símbolos religiosos ou outras escatologias. Uma ação dessa, num país cristão, acaba com a candidatura do PT em dez minutos. Por que é isso que a campanha de Jair Bolsonaro vai mostrar na sua propaganda de rádio e TV. 

    Lula perdeu todas as eleições em que sua coordenação de campanha se comportou reativamente. Reagir a um estrago feito pelo adversário pode até piorar a situação. Se neste ano, o PT não pensar proativamente, sofrerá sua mais dura derrota. 

    Que fique bem claro que ser proativo não significa usar as mesmas armas sujas do seu inimigo, mas ser inteligente o suficiente para antecipar esses ataques. Quem o bolsonarismo quis atingir indiretamente com a crítica moralista envolvendo o filme do Danilo Gentili? Lula, obviamente! 

    Até o fim deste texto, felizmente nenhum dirigente do PT escorregou na casca de banana jogada pelo Ministério da Justiça, que proibiu a exibição em streaming de uma película aclamada em 2017 pelos mesmos que agora jogam pedras. O governo sabe que a decisão de censurar é inconstitucional e não se sustenta em pé. Mas se o ex-presidente Lula abrir a boca para defender a liberdade de expressão, dizer que é contra a censura, etc, imediatamente será rotulado como simpatizante da pedofilia nas redes sociais.  Ficar em silêncio, no entanto, também não é uma boa alternativa, principalmente em se tratando de liberdades democráticas, bandeira histórica de lutas do PT.  Parafraseando Paulo Guedes, eu colocaria a granada no bolso do inimigo, sugerindo a Lula e ao PT as seguintes respostas, se perguntado:

    - Fábio Porchat apenas representou o papel que, na vida real, foi desempenhado por um oficial da Polícia Militar do Pará, sujeito que passava a imagem de uma pessoa de moral irretocável, mas que distribuía fotos e vídeos com sexo entre crianças. 

    - O filme faz um alerta para os pais desconfiarem de pessoas com aparência de gente do bem, mas que são predadores sexuais, como o presidente de um time de futebol infantil no Ceará, que abusou de mais de 75 meninos. 

    - A pedofilia é um crime que permeia todas as classes sociais. O ator Fábio Porchat poderia ter representado o servidor lotado no Senado, que foi preso com mais de dois mil vídeos e fotos de crianças praticando sexo com adultos. 

    Deu pra perceber como é possível desmontar a pauta de costumes dessa gente, pela desconstrução moral e hipócrita dos seus próprios atos?
    No pior cenário, onde a pandemia ainda não acabou, com uma guerra que está mexendo com a economia do planeta, com o preço dos alimentos e combustíveis na estratosfera, ainda assim Jair Bolsonaro detém 30% dos votos do eleitorado brasileiro. Desse percentual, me arrisco dizer que 20% correspondem aos que sofrem influência diária e massiva da central de mentiras do governo.

    E essa usina de desinformação e manipulação não está concentrada tão somente nas redes sociais como muitos pensam.  Numa viagem que fiz de motocicleta do Rio de Janeiro até a Bahia, pude perceber como as rádios das cidades do interior – todas irrigadas com dinheiro de deputados -, enaltecem o governo como grande realizador de obras. Até obra de Juscelino Kubitscheck entra na conta dos feitos de Bolsonaro. 

    Foi aí que percebi que o rolo compressor de Jair Bolsonaro já está pronto para avançar sobre seus adversários. E olha, com todo respeito que tenho pelos demais partidos de esquerda, não dá mais tempo de ficar negociando candidatura em determinado estado, como condição para apoiar Lula à presidência.  O PT precisa é avançar na direção de uma grande aliança com os setores civis representativos da sociedade, envolvendo intelectuais, estudantes, trabalhadores, religiosos de todas as denominações, ambientalistas, personalidades políticas de outros países, enfim, um grande escudo humano para proteger não o candidato Lula, mas a sobrevivência daquilo que entendemos como humanidade. 

    Só debaixo desse guarda-chuva é que o candidato do PT vai se proteger da avalanche de lama que virá.  

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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