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O que a história não leu

“O capital, em especial o capital comercial, do tráfico negreiro, que lotou navios tumbeiros, foi a chave da manutenção da Escravidão”

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Francisco Carlos Teixeira da Silva

Que tristeza descobrir que ser negro no Brasil é uma questão de humor, dependo da hora e do dia do historiador — tudo em plena guerra social onde morrem 50 mil pessoas por ano, a maioria rapazes entre 15 e 25 anos pretos e pardos!

As páginas de jornais/telas de celulares estampam casos e casos de racismo/injúria racial. Isso tem história.

Não são fenômenos avulsos. Como Exu na avenida precisa de tempo para a acontecer. Colocar tais atos na conta da disputa " por prestígio" ou "lugar" nas hierarquias sociais entre pretos e pardos sem chamar ao debate ao 350 anos de Escravidão é um espanto.

E a Escravidão só pode se manter numa sociedade pela força, a violência física, mental, cultural e simbólica mantida pela elite dona do poder.

O capital, em especial o capital comercial, do tráfico negreiro, que lotou navios tumbeiros, foi a chave da manutenção da Escravidão.

Violência pura.

Durante anos e anos a Escravidão foi naturalizada. Inclusive para salvar os índios da extinção.

A cor da pele e a Escravidão. A África e a Escravidão foram equiparadas.

Uma desigualdade "natural" e pré-existente. Estaria na raiz de todo horror da Escravidão. Mas, sempre será culpa dos próprios pretos e pardos que exigem direitos absurdos e igualdade que a elite, exausta "no fardo de construir a Nação", não pode conceder!

Alguns correm a apontar o "mimetismo social" das pessoas escravizadas.

Claro, que pretos e pardos ostentariam, por vezes, os mesmos preconceitos — séculos de analfabetismo, de combate sistemático contra a Escola pública de qualidade, de uma mídia e das igrejas que inculcam o preconceito — "a África é a casa do diabo", pregava o pastor — impunha nas "faces negras a máscara branca". Nenhuma busca de compreensão das trajetórias de sedução, revolta e acomodação com a Ordem Escravista.

Só a acomodação como resposta é apontada como possibilidade. A riqueza de formas de "resistências" na cultura e na memória não merecem registro.

Mas, nada disso importa. Importa a aparência da História, não a vida vivida das pessoas. Importa a "dor" das elites ao comprar e vender vidas .

Infelizmente o estudo das fontes não revela a história. Toda a História, em especial quando mantemos uma visão potencialmente colonial e dependente — sim, a Teoria da Dependência é viva e varia, muito além de FH Cardoso e Faletto, embora deve muito a ambos — e necessite de um mergulho num longo processo de-colonial.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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