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    Tereza Cruvinel

    Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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    O que esperar da CPMI do golpe

    As forças democráticas saem em vantagem mas não podem se iludir. O jogo vai ser baixo e bruto

    Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, lê requerimento de criação da CPMI dos Atos Golpistas de 8 de janeiro (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

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    Vem ai a CPMI do golpe de Estado fracassado de 8 de janeiro, que não será como as outras que já vimos. Os bolsonaristas, em minoria, e diante de um pelotão qualificado de governistas, não conseguirão reinventar a verdade dos fatos e poderão sair dela mais enlameados, deixando mais expostas as responsabilidades de Bolsonaro e auxiliares. Mas a verdade para eles é secundária.  O que eles querem é fazer da CPI uma arena da luta política, para realimentarem a extrema-direita ressabiada desde a derrota do ano passado.

    O Brasil inteiro sabe que houve uma tentativa de golpe contra o presidente legitimamente eleito e contra os outros dois poderes da República. Sabe que o governo anterior e seus apoiadores estiveram envolvidos nisso até o pescoço. O inquérito comandando pelo ministro Alexandre de Morais não está deixando pedra sobre pedra. Então qual é a narrativa que eles querem criar? Ficarão o tempo todo repetindo que o general G. Dias não preparou o palácio para repelir os terroristas? Mas como, se o GSI ainda era comandando exatamente pelas turma deles?

    Será cansativo, será exasperante, porque desta vez eles irão a limites impensáveis na negação da verdade, na distorção dos fatos, na inversão das responsabilidades. Se na CPI da Pandemia vimos o negacionismo científico ao vivo, agora veremos o espetáculo da pós-verdade em todas as suas cores.

    Vai depender da competência dos governistas impedir ou limitar o espetáculo. Com maioria, os governistas e os democratas poderão selecionar os depoentes. Tendo o relator, terão o controle sobre os interrogatórios. Quem sabe teremos o prazer de ver Bolsonaro tentando explicar todas as manifestações golpistas que fez ao longo dos últimos dois anos, preparando suas falanges para o 8 de janeiro. Ele não estava aqui? Isso é o de menos. Quem semeou o golpe foi ele.  Ou dirá Bolsonaro que estava dopado também nos dois 7 de Setembro em que pregou o golpe, ou na reunião com embaixadores em que difamou nosso sistema eleitoral?

    Os bolsonaristas poderão mesmo se arrepender de terem inventado a CPI,  mas não nos iludamos. Com as sessões sendo transmitidas ao vivo, eles estarão de olho é nos 35% (algo em torno disso) da população ainda identificados com a extrema direita. Eles vão usar a CPI para energizar esta base social que anda deprimida desde a derrota eleitoral do ano passado, tratando de mantê-la coesa e alinhada para as novas disputas.

    Durante quatro anos foi Bolsonaro que alimentou a extrema-direita com seus discursos, suas lives, suas motociatas, suas declarações estarrecedoras. Mas ele agora está ferido de morte, pode ficar inelegível,  pode ser condenado penalmente, pode ir para a cadeira. O bolsonarismo precisa continuar sem Bolsonaro, e eles enxergam na CPI uma chance de  se reconectarem com este universo, produzindo novos discurso e novas mentiras.

    As forças democráticas saem em vantagem mas não podem se iludir. O jogo vai ser baixo e bruto.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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