O que está em jogo com a venda da Embraer
Precisamos nos opor a essa venda criminosa do patrimônio e do conhecimento nacional desenvolvido desde os anos 50 pela Aeronáutica. Ao contrário dos EUA, que estão ameaçando taxar o aço brasileiro por motivos de "segurança nacional", o governo Temer é dócil e submisso aos interesses estrangeiro
Por Carlos Zarattini e Luiz Marinho
O sucesso no mercado de aviação mundial nos últimos anos da Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, despertou a cobiça dos norte-americanos. Hoje, a Embraer é líder mundial na fabricação de aviões (com até 150 assentos) usados na aviação regional. Por isso, a Boeing quer comprar a empresa para assumir a liderança na fabricação desses jatos.
Se confirmadas as tratativas para absorção da Embraer pela gigante de aviação norte-americana, o Brasil vai perder uma organização que detém tecnologia de aviões comerciais, executivos e militares. Além disso, vamos entregar toda nossa cadeia produtiva aeroespacial e acúmulo tecnológico e científico. No momento em que o desemprego paira sobre a cabeça dos brasileiros e a indústria nacional se definha hoje com 11% do PIB (há 10 anos eram 22%), vamos entregar o que temos de mais nobre do parque industrial brasileiro?
É bem verdade que um dos focos da Boeing é o setor de engenharia da Embraer, conhecida pelo corpo técnico jovem e altamente qualificado. Já a Boeing verá em cinco anos seus engenheiros aposentados. Na prática, a empresa quer pegar nossa expertise e gerar renda e empregos nos Estados Unidos, impulsionada pelo governo Trump, que está promovendo uma intensa internalização da produção.
Hoje, as fábricas de São José dos Campos, maior polo de desenvolvimento da empresa, Gavião Peixoto, Botucatu, Sorocaba e Taubaté empregam mais de 18 mil pessoas. E têm mais de seis mil engenheiros. Essa venda é criminosa e vai obrigar o fechamento de fábricas e de milhares vagas de empregos. E ocasionará impacto significativo na economia paulista, que perderá milhões na arrecadação.
Abrir mão do controle da Embraer vai significar também um grave ataque aos planos estratégicos na área da Defesa, que não sobrevive ou tem envergadura sem o desenvolvimento das aeronaves civis. E com a venda o Brasil deixará de ter qualquer domínio sobre a tecnologia aeronáutica. Projetos importantíssimos na área da defesa nacional - como o FX-2, que está sendo desenvolvido em parceria com a empresa sueca SAAB e inclui transferência de tecnologia para a Embraer - provavelmente serão interrompidos. Também ficaremos sem saber quem vai controlar a fabricação dos cargueiros militares KC-390, desenvolvidos pela Aeronáutica e fabricados pela Embraer.
Além disso, o domínio estratégico do controle e da defesa aérea pode ficar comprometido. Isso porque a Embraer, por meio da subsidiária Atech, controla produtos e serviços nas áreas de sistemas, defesa, segurança e controle de tráfego aéreo.
O governo federal não é o controlador da Embraer, mas Michel Temer tem o poder de vetar mudanças estratégicas, a chamada "Golden Share", e impedir que essa venda comprometa os programas militares do País e a fabricação de aviões comerciais e jatos executivos. Diante do histórico antinacional do governo Temer, que promove a passos largos a maior entrega do patrimônio nacional e das nossas riquezas naturais, é preciso cautela e atenção com relação aos planos de absorção.
Precisamos nos opor a essa venda criminosa do patrimônio e do conhecimento nacional desenvolvido desde os anos 50 pela Aeronáutica. Ao contrário dos EUA, que estão ameaçando taxar o aço brasileiro por motivos de "segurança nacional", o governo Temer é dócil e submisso aos interesses estrangeiros e vende, a preços irrisórios, o patrimônio nacional e o nosso futuro.
*Carlos Zarattini é deputado federal (PT-SP)
Luiz Marinho é presidente estadual do PT-SP
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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