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    Pedro Benedito Maciel Neto

    Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

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    O que fazer?

    Se estou ouvindo tanta bobagem é porque nossos líderes não estão trabalhando educação política, nem ao menos informação política

    Fomos ao Facca Bar aqui em Campinas com os primas Vera Maciel, Vilma Gryzinski Maciel e Bruce Frankel. Aliás, fica a dica para quem não conhece o FACCA e esteja passando por Campinas: lá você encontrará o melhor chopp do mundo e os melhores sanduíches “boca de anjo”, um clássico da cidade e reconhecido como patrimônio cultural e gastronômico (o sanduíche “boca de anjo” é um estilo de corte de lanche criado na década de 1960 por um chapeiro do tradicional Giovanetti, outro tradicional bar da cidade; o nome do chapeiro era Moleza, eu o conheci).

    Voltando à história.

    As irmãs Vilma e Vera são primas do meu pai, mas há mais de duas décadas ficamos amigos e nos encontramos regularmente.

    Bruce e Vilma são jornalistas, ela foi editora executiva da Revista Veja por quase três décadas, hoje assina a coluna “Mundialista” na mesma revista; Bruce é um prestigiado repórter fotográfico de uma revista em Nova York, que hoje vive às voltas com exposições fotográficas de sua obra entre Nova York e Paris; Vilma e Bruce viveram experiências únicas, cobriram guerras e são o que se convencionou chamar de “profissionalmente realizados”, são cidadãos do mundo e uma parte importante do mundo afetivo deles está em Campinas.

    A Vera, professora e diretora de escola pública, vive com alegria e intensidade as contradições de Campinas, nos divertimos com sua percepção dos tempos e movimentos aqui da província.

    Mal chegamos ao Facca, eu estava ainda na calçada, e um conhecido de longa data, cujo nome prefiro não declinar, me abordou e me questionou sobre as contradições do governo federal, governo que eu apoio e ao qual ele se opõe.

    Pensei: “Meu Deus do céu! Quem sou eu para responder uma questão de tal complexidade”, o pior é que nem filiado ao PT eu sou, lembrei do Jacó, que dizia: “a gente sai do PT, mas o PT não sai da gente”. Enfrentei a impertinência do conhecido, enquanto Celinha e as primas se acomodavam no salão, sob os cuidados do Zidane, o garçom que nos atende há pelo menos uma década.Perguntei: “a quais contradições você se refere?”, ele falou tanto e tantas coisas que nem sei... Eu só pensava: “por que um “Zé Mané” como eu tem de responder essa pergunta, se os líderes partidários não se ocupam de cuidar de proteger o governo e a militância?”.

    Ele falava sem parar e eu nem ouvia o que ele dizia, mas pensei na falta que faz a educação política e da incompetência dos partidos de esquerda em falar para a militância e para além dela.

    Lembrei das aulas de Carlos Matus, economista formado na Universidade Harvard e ministro do presidente chileno Salvador Allende, que esteve em Campinas visitando o Jacó Bittar em 1990.Guardo o material com muito cuidado até hoje; foi com Matus que aprendi sobre a importância do “Planejamento estratégico situacional”, que, resumidamente, se caracteriza pela discussão sobre os atores sociais em situação de governo, suas relações, a identificação de problemas e tipificação, o estudo do cenário em momentos de Planejamento: explicativo, normativo, estratégico e tático-operacional. Ali na calçada me senti abandonado pelos nossos líderes e pior, eles estão cada vez mais distantes dos nossos sonhos, planos e projetos e não tem sequer um MÉTODO para enfrentar a doutrinação que a extrema-direta vem promovendo há pelo menos dez anos e parece que não estão preocupados em retomar a construção de uma sociedade de iguais, pois, para eles, “o Lula resolve tudo”.Nossos líderes, me refiro aos burocratas encastelados nos escaninhos dos partidos, não sabem se são comunistas, socialistas, social-democratas, social-liberais ou liberais clássicos (merece ressalva o PSB, que recentemente viveu um processo de conferências preparatórias, que culminou mo XV Congresso, que aprovou por unanimidade o novo Manifesto e o novo Programa do PSB, quem puder consulte: https://www.autorreformapsb.com.br/).

    Minhas primas já haviam pedido o chopp e eu ainda na calçada, com o sujeito falando sem parar.

    Então lembrei de Lenin, que na obra “O que fazer?”, escrito entre meados de 1901 e publicado em março de 1902, introduziu a noção de “organização revolucionária” como uma necessidade para o avanço das lutas proletárias e propôs a organização para a ação; ele propôs, dentre outras coisas, a fundação de um jornal.

    Pensei, se estou ouvindo tanta bobagem é porque nossos líderes não estão trabalhando educação política, nem ao menos informação política, pois, já em 1902 Lenin sabia a importância da educação política através de um jornal e em 2024 me perguntei: o que as fundações do PT, PSB, PCdoB, PSOL e PDT estão fazendo para combater o criminoso “Brasil Paralelo”, uma empresa (sociedade anônima) que há oito anos produz vídeos sobre política e história, com viés revisionista, de extrema-direita e conversador? Eu respondo: não estão fazendo absolutamente nada; e são preguiçosos, pois, após dez anos com Lula e cinco com Dilma, essas fundações deveriam ser faculdades ou centros universitários, ou seja, deveriam estar abertas para a sociedade.

    Lembrei também de Marx e Engels, que no “Manifesto Comunista” orientaram que a unidade da classe trabalhadora deveria ser promovida através dos crescentes meios de comunicação, para colocar em contato trabalhadores de diversas localidades; enquanto a extrema-direita criou o Brasil Paralelo, o que os partidos de esquerda e suas fundações criaram? Não criaram nada.

    Onde estão os partidos de esquerda? Respondo: inertes, amedrontados, esperando que Lula resolva tudo; Lula resolve muito, mas não resolverá tudo, por isso, com esses partidos de esquerda e com seus dirigentes, o problema não será apenas um chato de direita sendo inconveniente na porta de um boteco, mas o resultado das eleições em 2026, 2028, 2030, etc. será catastrófico.

    Essas são as reflexões.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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