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    Diego Ricoy

    Historiador, professor e mestrando em História pela UFSJ

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    O que implica os discursos de Bolsonaro?

    Os patriotas e os “cidadãos de bem” do Brasil odeiam a democracia porque ela destrói seus privilégios de classe. Por isso Bolsonaro é exaltado por eles, pois o presidente é a personificação desse Brasil ultraconservador que defendem

    Nas manifestações pela flexibilização da quarentena e pela reabertura do comércio que aconteceram no último domingo em algumas cidades do país, protagonizadas maciçamente pelos apoiadores do presidente e que, mais uma vez, levantaram as bandeiras do ultraconservadorismo, duas cenas chamaram a atenção. A primeira, a de um policial que apontou uma arma em direção a moradores da favela do Vidigal que jogavam ovos nos carros que participavam da carreata pró-Bolsonaro no Rio de Janeiro. A segunda, a de uma mulher sendo agredida em frente ao Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, por um manifestante que participava de um ato pedindo intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).

    Ambas as cenas nos proporcionam uma importante reflexão acerca dos discursos de Bolsonaro que incitam e fazem manter acesa a chama violenta e autoritária tão arraigada em nosso escopo social.  Elas evidenciam a violência física e simbólica que parte dos setores médios e de grupos que se autointitulam “protetores da ordem” contra mulheres, pretos, pobres e homossexuais. Os “cidadãos de bem” se vestem com as cores da bandeira nacional para protegerem o Brasil concebido por eles: uma nação particular e personalista, em que apenas os “patriotas” verde-amarelos têm espaço.

    O verde-amarelo da nossa bandeira fora ultrajado por esses grupos e passou a expressar o mandonismo, o patriarcado, o racismo, a homofobia, o machismo e o ódio de uma classe média conservadora, mesquinha e colonizada, que se veste de patriotismo para defender seus interesses particulares. Talvez o verde-amarelo tenha até encontrado uma representação adequada da identidade brasileira: a da intolerância, da violência e do arbítrio.

    Mas o que potencializa e encoraja esses grupos a atentarem contra a democracia e o estado de direito são as frequentes aparições do presidente em manifestações antidemocráticas que defendem o retorno da ditadura e suas posturas de negação às ciências e de enfrentamento às recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) quanto à pandemia do Covid-19. Nesse sentido, é o discurso de Bolsonaro que confere legitimidade para que os bolsonaristas despejem seu ódio às minorias e aos que defendem as instituições democráticas, a ciência e o bom senso.

    Sabe-se que o pouco apreço à democracia e a intensificação da radicalização política são as maiores obras desse governo. Entretanto, a intolerância e o autoritarismo brasileiro possuem raízes históricas mais profundas. Apesar de plural e multiétnico, historicamente nosso país não é democrático, cordial e hospitaleiro como Gilberto Freyre queria que fosse. Ele erigiu-se como nação à luz da escravidão, do mandonismo e do patriarcado. Sendo assim, esses registros das manifestações do final de semana acabam evidenciando a perpetuação de uma mentalidade colonial racista, autoritária e machista.

    Os patriotas e os “cidadãos de bem” do Brasil odeiam a democracia porque ela destrói seus privilégios de classe. Por isso Bolsonaro é exaltado por eles, pois o presidente é a personificação desse Brasil ultraconservador que defendem. Contudo, se quisermos salvar e reconstruir a democracia no Brasil, o caminho começa pelo respeito à Constituição Federal, às instituições democráticas e republicanas e, por isso mesmo, pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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