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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    O que vem depois do homem-bomba

    “É fácil prever que o fascismo impune não esgotou a sua capacidade de gerar fatos traumáticos”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Brasília (DF) 14/11/2024 - Policiais periciando o corpo de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, antes dele ser retirado da frente do STF. Segundo a Polícia Civil do DF, Francisco foi autor das explosões ocorridas na quarta-feira (13/11/24) na Praça dos Três Poderes (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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    Há faíscas por toda parte, desde muito antes do golpe de 2016, anunciando que alguma coisa grave pode acontecer a qualquer momento. Muitas já aconteceram e é fácil desconfiar que outros eventos traumáticos estão engatilhados.

    Mas quem previu algo parecido com o caso do homem que se explodiu em Brasília? Enquanto parte da imprensa embarca no psicologismo mais raso e tenta desvendar os problemas psíquicos do morto, o que temos, entre tantas hipóteses para o futuro imediato, é que algo semelhante ou mais grave pode acontecer mais adiante. 

    As excitações e o cenário são propícios ao aparentemente imponderável. Temos um ex-presidente inspirador, que poderia ter ficado calado, depois da morte na Praça dos Três Poderes. E temos o entorno dele, impune e revigorado pela vitória do trumpismo. 

    Se tivesse silenciado, diriam que Bolsonaro preferiu se proteger e logo sua mudez seria esquecida. Mas ele não conteve o impulso e largou um manifesto, horas depois do fato.

    Fez uma declaração que é sempre arriscada em circunstâncias como as que envolveram o homem-bomba. O que falar logo depois de fatos com essa dimensão, sem correr o risco de dizer o que não deveria?

    Bolsonaro se arriscou e tornou público um pedido de socorro. O apelo pela pacificação provocou o que qualquer um poderia prever: memes, ironia, deboche e descaso.

    Desprezaram o apelo, porque Bolsonaro não está pedindo paz, está pedindo ajuda, com uma mensagem que não tem coerência com o que sempre pregou, mesmo nos piores momentos da pandemia. Milhares morriam, ele ria, negava vacina e menosprezava a dor das famílias.

    Sempre, em todas as situações em que foi chamado a ser solidário, antes de tentar ser estadista, Bolsonaro manifestou os piores sentimentos de indiferença, arrogância, ódio, omissão e crueldade. Mas agora quer a pacificação.

    Nem seus aliados que sobraram, e são poucos com alguma relevância, levaram a sério seu apelo. A quem Bolsonaro dirigiu o pedido de paz? Aos brasileiros em geral? Aos ministros do Supremo, às elites econômicas ou ao Congresso? 

    O manifesto pela pacificação é uma farsa da primeira à última palavra e só teve o efeito de expor o que não foi explicitamente declarado: Bolsonaro está acuado e com as munições esgotadas. E sabe que, por incitação, algo grave pode voltar a acontecer. 

    Esgotaram-se como tática da gritaria as aglomerações organizadas por Malafaia. Foi um desastre a aposta feita em seus candidatos nas eleições municipais. E o apoio de líderes que sempre estiveram ao seu lado é frágil e retraído, enquanto suas estruturas se fracionam, com dissidências ressentidas, de Ronaldo Caiado a Ricardo Salles.

    Sobra como chance de resistência a eleição de Trump. Mas quem acredita que o líder do fascismo mundial poderá mesmo ajudar a salvar Bolsonaro? Com recados ao Supremo, ao lado de Elon Musk?

    É nesse ambiente em que Bolsonaro ainda respira que a velha e gasta frase dos vaticínios genéricos se reapresenta: tudo pode acontecer. Tudo, em meio à impunidade dos líderes e à agitação permanente dos ativistas de cidades de ondem saem os homens atormentados em direção a Brasília. 

    Teremos logo, se as previsões se confirmarem, a apresentação da denúncia oferecida pelo procurador Paulo Gonet pelos crimes de Bolsonaro como golpista. É previsível que as reações serão fortes e desafiadoras da autoridade do procurador e de Alexandre de Moraes. É fácil prever que a extrema direita tentará produzir novos fatos.

    Enquanto isso, parte do jornalismo patrocina simpósios virtuais sobre os transtornos do homem-bomba. Quando os transtornos que importam agora são os coletivos, que o levaram a se explodir diante da estátua da Justiça.

    Se houvesse um esforço para pelo menos espiar o mundo de onde veio o homem-bomba, lá nas pequenas paróquias fabricantes de delírios extremistas, poderíamos compreender melhor o que ele e similares já fizeram e o que outros poderão fazer mais adiante. Mesmo sem bombas e sem gestos espetaculares.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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