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    Davis Sena Filho

    Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre

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    O racismo é diabólico e visa garantir privilégios e dominar os mercados - Consciência Negra

    O racismo é o pai do ódio e da desunião das civilizações. Ele tem conotação diabólica e leva à tona a violência, a discórdia e a segregação

    Mobilização contra a desigualdade racial no Brasil (Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil)

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    Toda vez quando eu olho a minha sombra no chão, nos muros ou nas paredes dos prédios e das casas, percebo que a minha silhueta é a de um ser humano.

    Tal constatação me leva a afirmar que todos os cidadãos são iguais perante Deus e às leis dos homens. No caso, as que vicejam no Brasil, País sob os ditames do Estado Democrático de Direito, que é o indutor e garantidor da democracia, sob a proteção da Constituição.

    Trata-se de minha sombra, a sombra do meu corpo, que possui cor e pele, que são iguais a de qualquer corpo humano, seja ele masculino ou feminino, negro ou branco, vermelho ou amarelo. Meu corpo, indelevelmente humano.

    Tenho a consciência plena de que todos os seres humanos, homens e mulheres, nascem iguais perante a lei e a sociedade. Ter o direito de existir e ter a cesso aos serviços do Estado e a entrar pelas portas da sociedade civil organizada e assim conquista o direito ao ensino, ao trabalho, à saúde, ao lazer e à infraestrutura urbana e rural.

    Todos os cidadãos e cidadãs nascem com boa índole e, no decorrer do tempo, trilham seus caminhos, às vezes por veredas tortuosas, mas a maioria segue a normalidade da vida, que é de crescer, trabalhar, estudar, casar, criar filhos, até que estes também cresçam para darem continuidade a mais um ciclo de vida, por intermédio das gerações.

    Contudo, sabemos nós, e de antemão, que a vida tem seus percalços e barreiras, e um dos piores deles, talvez o mais infame, é o racismo praticado por certos cidadãos ou grupos que medem as pessoas por suas réguas desditosas e sórdidas, que causam dor, não somente àquele que foi alvo de racismo, mas, sobretudo, à sociedade, que sempre paga um preço alto quando ocorrem os conflitos sociais e étnico-raciais.

    Quero dizer que o racismo, tanto o dissimulado quanto o explícito é, indubitavelmente, uma caixa de Pandora, que quando aberta solta seus monstros, a causar dores e desassossegos à humanidade, porque plenos de assombros inenarráveis e indescritíveis, que afrontam a alma daquele que foi perversamente violado em sua dignidade.

    É assim que acontece no mundo e também no Brasil, quando vemos muitas pessoas de origem africana saírem às ruas para protestar quando se sentem acuadas pelo Estado policial ou sem oportunidade nos mercados de trabalho e de consumo, além de quase nenhum acesso à educação de boa qualidade.

    O Brasil é um País onde acontecem ações de racismo rotineiramente, como se vê na internet, nos meios de comunicação, no dia a dia das pessoas nas ruas e no trabalho, sendo que no Brasil vivem pessoas que qualificam e desqualificam o cidadão negro por causa da cor de sua pele, pelos seus traços e cabelos --- pela sua face ou rosto.

    Por sua vez, o mesmo indivíduo que tem a desfaçatez de avaliar seu semelhante por suas características étnico-raciais, recusa-se, perfidamente e desumanamente, a avaliar o cidadão negro, de classe social e realidade diferente da sua, por seu bom caráter, sua generosidade e solidariedade, por sua inteligência e capacidade de trabalho.

    O racismo é o pai do ódio e da desunião das civilizações. Ele tem conotação diabólica e leva à tona a violência, a discórdia e a segregação.

    O racismo tem como propósito fundamental separar a humanidade em guetos, dividi-la por intermédio das distâncias, dos muros visíveis e invisíveis, porque seu caráter é elitista e todo elitista é preconceituoso e sectário.

    O racista quer um mundo somente para ele e para os que ele considera seus “iguais”, porque, no fundo, ele é um ser fraco e medroso, pusilânime e incompetente, além de irremediavelmente covarde.

    Tal sujeito equivocado por natureza nasceu puro e humanamente bom e mereceria viver em um mundo plural e democrático, solidário e diversificado, onde todos os seres humanos respeitassem suas diferenças e combatessem as desigualdades socioeconômicas, mas os preconceitos, que são valores e princípios negativos, repassados por gerações às pessoas desde pequenas, impedem ou dificultam que tenhamos uma sociedade igualitária e respeitosa perante as diferenças e diversidades humanas para vivermos em paz.

    E são exatamente essas questões humanas e realidades sociais e raciais que fazem o mundo e as sociedades avançarem e se desenvolverem, quando, evidentemente, as  sociedades e os governos resolvem dialogar para resolverem as diferenças e, com efeito, efetivarem a igualdade de oportunidades em busca de desenvolvimento econômico e de mudanças no pensamento daquele que, equivocadamente, considera-se "superior" por causa da cor de sua pele e posição social.

    Entretanto, a face mais cruel, a mais draconiana do racismo tem como principal propósito o separatismo, a segregação, porque tem como essência erguer, tijolo a tijolo, o muro do sectarismo, que se traduz na reserva de mercado e na conquista de patrimônio por parte das classes dominantes, que têm como principal plano de fundo o interesse econômico e financeiro.

    Estas são as questões a serem analisadas, avaliadas e compreendidas com seriedade e responsabilidade para serem combatidas pelo poder público e sociedade civil organizada. 

    O racista luta, sobretudo, por privilégios e benefícios, porque sua visão de mundo é curta, rasa e estreita. 

    Porém, esses pensamentos e comportamentos toscos e tacanhos são essencialmente sem fundamentos e muito menos prezam pela racionalidade, quando percebemos que os racistas não conseguem compreender as diferenças humanas, que são propriamente as forças que movem a nossa sobrevivência por intermédio da pluralidade vivenciada pela humanidade por milênios, a sedimentar ainda mais a realidade de que raça não existe, porque o que existe de fato é a espécie humana.

    O racista quer um mundo VIP, ou seja, para poucos grupos ou pessoas em relação à maioria da sociedade. Ele, na verdade, deseja uma sociedade de castas para manter o status quo, que explicita sua luta inglória e egoísta, a ter como propósito eternizar uma educação de qualidade para poucos e um mercado de trabalho dominado pelos grupos sociais chamados de classes "superiores". 

    Sendo assim,  conclui-se que a verdadeira intenção do racista é garantir que os mais pobres permaneçam como estão, ou seja, sem educação escolar de qualidade e que seus serviços prestados sejam pagos mediante baixa remuneração ou salários baixos.

    Age assim para atingir seus propósitos infames, a se utilizar de preconceitos, a apoiar lideranças fanáticas e fundamentalistas em todos os setores e segmentos da sociedade.

    Lideranças cruéis e desassossegadas de alma e espírito, mas dispostas a dividir a humanidade, como se a humanidade não fosse uma só, pois única e indivisível.

    Portanto, afirmo que o Dia 20 de Novembro, o Dia da Consciência Negra, é mais do que tudo um dia de ponderação, reflexão, de pensar na história e lembrar das terríveis consequências que tal sentimento equivocado e perverso, como o é o racismo, que propicia às sociedades e à humanidade o que é de pior da alma humana.

    O Dia da Consciência Negra é dia de reflexão sobre todas essas importantes questões, que serão sanadas e resolvidas com mais consciência entre as pessoas. Racismo é guerra. A humanidade necessita de paz --- respeito.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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