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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    O sábio que desmascarou Sergio Moro

    “Perdemos Cerqueira Leite, o cientista que atraiu o ex-juiz suspeito para um duelo desmoralizante”, escreve o colunista Moisés Mendes

    (Foto: Divulgação/CNPEM)

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    Todos sabiam, dentro e fora do sistema de Justiça, desde o início da Lava-Jato, que Sergio Moro tinha a missão de destruir Lula e o PT e, mais tarde, contribuir para a montagem do cenário do golpe contra Dilma. Muitos fingiam não saber.

    Poucos sabiam das limitações intelectuais do juiz apresentado como brilhante. A primeira figura com história e reputação a chamar Moro para um embate, com uma armadilha para desmascará-lo publicamente, foi o cientista Rogério Cezar de Cerqueira Leite.

    Em artigo na Folha, em 11 de outubro de 2016, Cerqueira Leite escreveu, ao comentar o fim do mais famoso caçador de ‘imoralidades’ e de corruptos da Idade Média, o dominicano Girolamo Savonarola, queimado em Florença no fim do século 15 pela própria Igreja que defendia com ardor:

    “Cuidado Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira. Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes”.

    O juiz saiu da toca de Curitiba e participou de um duelo com argumentos hilários. Escreveu para a Folha:

    “Sem qualquer base empírica, o autor desfila estereótipos e rancor contra os trabalhos judiciais na assim denominada Operação Lava Jato, realizando equiparações inapropriadas com fanático religioso e chegando a sugerir atos de violência contra o ora magistrado”.

    O juiz dava a entender que temia ser perseguido e queimado. E sugeria que a Folha censurasse o cientista, integrante do conselho editorial do próprio jornal. Cerqueira Leite teve de esclarecer, em tréplica com tom colegial publicada na mesma Folha:

    “O fogo a que me refiro é o fogo da História. Intelectos condicionados por princípios de intolerância não percebem a diferença entre metáforas e ações concretas. O juiz ainda se esquiva de responder à principal acusação que lhe faço, a de que é absolutamente parcial e está a serviço das classes dominantes”.   

    E assim o duelo foi encerrado, para o bem do juiz. Cerqueira Leite morreu na madrugada desse domingo, aos 93 anos. Apresentava-se nos artigos que publicava como “físico, professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do conselho editorial da Folha". Era muito mais do que tudo isso.

    Naquele embate desigual de 2016, Moro tentou desqualificá-lo e alertou a Folha para que evitasse “a publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor”. 

    O juiz não sabia de quem se tratava. Cerqueira Leite foi um pensador do Brasil, um dos raros oráculos que juntavam ciência e humanidades, sempre com uma abordagem histórica e gostosamente literária dos temas que o inspiravam.

    Moro, o simplório, poderia ter dito, naquela famosa entrevista que deu a Pedro Bial, na Globo, que pelo menos havia lido a biografia de Girolamo Savonarola. 

    A mesma fogueira que sua turma alimentava em Curitiba ainda o espera, no mesmo sistema de Justiça e no Conselho Nacional de Justiça, onde tramitam inquéritos e processos com indícios de envolvimento em crimes do lavajatismo.

    Estaremos aqui para ver o fogaréu que o grande Cerqueira Leite não terá mais a chance de testemunhar. Calma, Sergio Moro, que é tudo no sentido metafórico. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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