TV 247 logo
    Jeferson Miola avatar

    Jeferson Miola

    Articulista

    1204 artigos

    HOME > blog

    O “salto para os evangélicos” é uma ameaça gigantesca à democracia

    "É um passo a mais na colonização das instituições do Estado por agentes perniciosos da extrema-direita que avança o projeto de hegemonização das Forças Armadas, das finanças, da política, do Congresso e do judiciário", escreve Jeferson Miola

    (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    Na sabatina no Senado, o tremendamente hipócrita André Mendonça disse que “Na vida, a Bíblia; no Supremo, a Constituição”.

    Ele ostentava implante de cabelo. Talvez para desviar a atenção e camuflar seu real caráter de agente extremista de direita.

    Bastaram, contudo, poucos minutos para Mendonça despir-se da fantasia ensaiada com mídia trainers e usada na pantomima na comissão de constituição e justiça do senado [em minúsculo].

    Nos corredores do senado, cercado de familiares e evangélicos parlamentares, um Mendonça “genuinamente evangélico”, como se autodefiniu perante o colegiado, fez seu primeiro pronunciamento como ministro da Suprema Corte como se estivesse pregando na igreja presbiteriana Esperança, na Asa Sul, em Brasília, onde é um reconhecido pastor fundamentalista.

    Nesta primeira pregação depois de já escolhido ministro do STF por 47 senadores/as, o pastor terrivelmente evangélico parodiou o astronauta Neil Armstrong e declarou que sua escolha “é um passo para um homem, mas um salto para os evangélicos”.

    Na peroração de cerca de 5 minutos em que agradeceu sua escolha à Frente parlamentar evangélica e aos senadores evangélicos, Mendonça fez 7 menções a deus, 6 menções aos evangélicos e uma menção à bíblia, mas nenhuma menção à Constituição!

    Devo tudo da minha vida a deus”, disse ele, recheando o sermão com referências à família supostamente “tradicional” e a deus, sendo correspondido com “améns” dos fiéis que o acompanhavam na “marcha da vitória” pelos corredores do senado.

    Na sabatina, entretanto, Mendonça mentiu sobre sua atuação como ministro bolsonarista que defendeu o emprego da Lei de Segurança Nacional para perseguir jornalistas, ativistas, críticos e opositores do governo.

    Ele também mentiu quando tentou se desmentir que não havia dito que brasileiros não foram mortos na luta pela conquista da democracia no Brasil. Dissimulado, o pastor treinado por mídia trainers fez um falso pedido de desculpas às vítimas da ditadura e aos seus familiares.

    A má escolha de Mendonça para o STF é uma unanimidade no mundo jurídico sério. Walter Maierovitch, por exemplo, sustenta que Mendonça não possui notório saber nem reputação ilibada.

    Para Conrado Hubner, “a notória indigência jurídica e a reputação abaixo da linha da torpeza venceram outra vez”.

    A nomeação de Mendonça como 11º ministro do STF representa uma ameaça gigantesca à democracia. É um passo a mais na colonização das instituições do Estado por agentes perniciosos da extrema-direita que avança o projeto de hegemonização das Forças Armadas, das finanças, da política, do Congresso e do judiciário.

    O fundamentalismo religioso funciona como o cimento ideológico que confere à extrema-direita a base social de massas que abarca a classe trabalhadora, setores pobres, proletarizados e sub-proletarizados da sociedade brasileira.

    O ramo da igreja evangélica que subverte os valores cristãos cresce espantosamente na América Latina e no Brasil. É preciso separar o joio do trigo pentecostal e neopentecostal.

    Este setor nefasto – anticristão e anti-humanista, na realidade –, não é uma religião e, menos ainda, a representação de uma visão humanista de mundo, porque se caracteriza como um agrupamento político de extrema-direita que combina acumulação financeira com conquista de espaços de poder a partir da exploração da fé.

    A escolha de André Mendonça pelo minúsculo senado é um passo perigoso que pereniza a presença deste facínora por quase três décadas na institucionalidade do país.

    O meu compromisso de levar ao Supremo um ‘terrivelmente evangélico’ foi concretizado no dia de hoje”, vangloriou-se Bolsonaro sobre Mendonça, considerado por ele “uma pessoa capacitada para a missão”, na linguagem militar

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: