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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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O servo da guerra e o estadista da paz

"Seria do interesse objetivo da Ucrânia iniciar negociações de paz sérias e realistas", escreve Marcelo Zero

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, EUA 25/09/2024 (Foto: REUTERS/Mike Segar)

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Zelensky continua com suas agressões gratuitas contra o Brasil e contra Lula. É algo doentio.

Agora, na ONU, Zelensky criticou abertamente a proposta de paz Brasil/China para solucionar o conflito da Ucrânia. Chamou-a de “destrutiva”, sem sequer saber de algum detalhe, pois ela ainda não foi exposta em suas minúcias.

Trata-se apenas de uma proposição de princípios básicos para a abertura de um diálogo, em torno de uma paz factível e realista.

Entre outros pontos, a proposta do Brasil e da China destaca que:

As duas partes acreditam que o diálogo e a negociação são a única solução viável para a crise na Ucrânia. Todos os atores relevantes devem criar condições para a retomada do diálogo direto e promover a desescalada da situação até que se alcance um cessar-fogo abrangente. O Brasil e China apoiam uma conferência internacional de paz realizada em um momento apropriado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz.

Como se vê, trata-se uma proposição “muito destrutiva.”

Zelensky questionou também o “real interesse” de Lula, da China e do Brasil em tal acordo. Insinuou, de forma canalha, que Lula quer ter protagonismo às expensas da Ucrânia. Que não teria real interesse em paz.

Ora, Lula não precisa da Ucrânia e de sua guerra para ter protagonismo. Ao contrário de Zelensky, Lula é um grande líder mundial que está empenhado em uma agenda positiva de combate à pobreza, às desigualdades, às mudanças climáticas, de uma nova governança global etc. E na construção de um mundo pacífico, simétrico e multipolar.

Já Zelensky apresenta ao mundo apenas seu chamado “plano da vitória”, isto é, seu plano de continuidade da guerra com a Rússia, pois a sua “proposta” implica rendição incondicional de Moscou.

Na realidade, Zelensky está investindo em uma guerra que afeta o mundo inteiro e que está se tornando cada vez mais perigosa. Uma guerra que ameaça alastrar-se e se transformar em um enfrentamento franco entre a Otan e a Rússia, dois polos militares nuclearizados.

Putin já deixou claro que poderá utilizar esse tipo de arma, caso a Otan/Ucrânia insistam numa ofensiva em território russo.

Observe-se, a esse respeito, que a Rússia dispõe de armas nucleares táticas, que podem ser colocadas em mísseis hipersônicos, capazes de atingir cerca de 8 mil quilômetros por hora. Não é bom apostar, como fazem alguns desavisados, que a recente decisão de Moscou é apenas um blefe.

Como disse Lula, se Zelensky fosse inteligente, ele apostaria na diplomacia.

Lula tem toda razão.

A Ucrânia não possui condições de ganhar essa guerra, mesmo com a montanha de ajuda que recebe do Ocidente.

Kiev já perdeu mais de 500 mil combatentes nesse esforço inútil e não tem reservas para continuar a sustentar uma guerra de degaste com a Rússia, que dispõe de reservas militares bem maiores e amplo domínio em artilharia e aviação.

Aos poucos, mas de forma sistemática, a Ucrânia perde cada vez mais território, com a continuidade da guerra. Embora o objetivo de Moscou nunca tenha sido a conquista da Ucrânia, como dizem os desinformados, as forças militares russas já dominam cerca de 23% do território ucraniano. E seguem avançando.

A tendência inexorável, com a continuidade da guerra, é a de que a Ucrânia perca mais território, tornando cada vez mais assimétricas as negociações, em detrimento de Kiev.

Por isso, analistas comprometidos com um mínimo de racionalidade consideram que seria do interesse objetivo da Ucrânia iniciar negociações de paz sérias e realistas. No mínimo, se evitaria mais derramamento inútil de sangue ucraniano.

Zelensky, no entanto, pressionado pelos EUA e a Otan, persiste no esforço bélico, e aprofunda e a alarga a guerra.

Mas Zelensky sequer é um “senhor da guerra”. É servo de uma guerra, à qual a Ucrânia foi conduzida por interesses geopolíticos dos EUA e aliados.

Já Lula, que Zelensky tem obsessão em criticar, é um estadista de nível internacional, um senhor da paz e das negociações.

Se fosse “esperto”, Zelensky ouviria Lula. Afinal, ouvir Lula é ouvir o Sul Global e a voz da razão. Não é pouco.

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