O silêncio cúmplice de Bolsonaro sobre o assédio na Caixa
"As mulheres do Brasil ouviram e compreenderam o silêncio de Bolsonaro, que nada disse porque é da mesma laia de Pedro Guimarães", diz Tereza Cruvinel
Qualquer presidente com um mínimo de decência e respeito pelas mulheres teria declarado que o assédio sexual é inadmissível em seu governo, e que por isso estava demitindo sumariamente Pedro Guimarães da presidência da CEF. Fazendo isso talvez mitigasse um pouquinho a rejeição oceânica que lhe dedicam as mulheres brasileiras, de cerca de 60%, o mesmo índice de rejeição que ele devotam os nordestinos, que ele chama de cabeças-chatas.
Mas Bolsonaro fez questão de explicitar sua cumplicidade com o assediador da Caixa. Não o demitiu de forma exemplar, não deu um pio sobre o assunto e arranjou para que ele pedisse demissão divulgando uma carta hipócrita, onde se declara um campeão da ética e ainda se permite tentar politizar o assunto, sugerindo que virou "alvo do rancor político" em ano ano eleitoral. Só faltou dizer que as funcionárias denunciantes são todas petistas. Aliás, na CEF as mulheres não podiam usar roupas nem esmalte na cor vermelha para não serem assediadas com o epíteto de petistas.
As mulheres do Brasil ouviram e compreenderam o silêncio e a omissão de Bolsonaro, que nada fez e nada disse porque é da mesma laia de Pedro Guimarães. Quem já disse usar o apartamento funcional "para comer gente" e que só não estupraria a deputada Maria do Rosário por achá-la feia não tem nada contra o assédio sexual.
Alguns detalhes escabrosos do assédio de Pedro Guimarães às funcionárias da Caixa já foram conhecidos mas ainda vamos saber mais. Do alto de seu cargo e seu poder ele as constrangia com pegadinhas na cintura, sussurros indecentes ao pé do ouvido, cantadas da pior espécie. O segurança que assistiu a uma tentativa de amasso no estacionamento foi demitido. Uma que ameaçou denunciá-lo foi premiada com um curso no exterior. Muitas engoliram a humilhação, por medo ou por vergonha, até que cinco delas o denunciaram ao Ministério Público.
Para completar, nós, o povo, vamos pagar o salário dele por mais seis meses. Como ele ganha RR$ 56 mil mensais, embolsará R$ 330 mil sem trabalhar. A quarentena para ocupantes de cargos estratégicos é necessária, para que não haja o tráfico de informações privilegiadas para o setor privado. Mas remunerada a quarentena não devia ser para quem deixa o cargo por práticas desabonadoras.
Pedro Guimarães vai sumir na poeira. Suas passagens pelo setor privado terminaram sempre com demissões, por questões de desempenho somadas com outras denúncias de assédio. Já Bolsonaro vai conferir nas urnas a resposta das mulheres que, já em 2018, sabendo quem ele era, disseram "ele não".
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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