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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    O sistema podre que caça músicos negros e poupa milionários brancos

    "O Brasil repete uma pergunta cansativa a cada ação contra poderosos. Um deles será algum dia preso?", questiona Moisés Mendes

    Luiz Carlos da Cordas Justino (Foto: Divulgação)

    Por Moisés Mendes, para o 247

    O Brasil repete uma pergunta cansativa a cada ação contra poderosos. Um deles será algum dia preso por desmandos diversos, sonegação, contrabando, lavagem de dinheiro, articulação de golpe e ataques ao Supremo?

    É a pergunta que está nas redes sociais depois da ação da Polícia Federal contra os oito tios golpistas do zap. É grande o esforço para acreditar que desta vez acontecerá alguma coisa. Mas que coisa?

    Aconteceria, com certeza, se o nome de um deles, todos brancos e ricos, estivesse no sistema que guarda nomes de pobres e negros.

    O violoncelista Luiz Carlos Justino, 26 anos, da Orquestra da Grota, de Niterói, sabe o que é ter o nome nesse sistema.

    Luiz Carlos apareceu em jornais e em programas de TV nos últimos dois anos por ter sido preso por cinco dias em 2020.

    Alguém o reconheceu como assaltante por uma foto dos arquivos da polícia. O músico provou que na hora do assalto estava em outro lugar.

    Um juiz mandou que o rapaz fosse solto e lançou a pergunta sem resposta: como a foto dele foi parar na polícia? Porque, sabe o juiz, o jovem é negro e pobre.

    O caso de Luiz Carlos é exemplar das crueldades da polícia e da Justiça contra negros.

    Pois a crueldade se repetiu. Na segunda-feira, ele jogava futebol em Charitas, bairro de Niterói, a polícia apareceu e o prendeu de novo.

    Alguém o dedurou dizendo que ele estava ali. Ficou preso incomunicável na 79ª DP, até que finalmente um policial explicou: seu nome estava no sistema.

    O sistema que cadastra bandidos mantinha o nome de Luiz Carlos, como contou o jornalista Alcelmo Gois, no Globo. O sistema não poupa negros, mesmo os inocentes.

    Perceberam na delegacia, olhando o sistema, que Luiz Carlos era vítima de mais um engano. Devem ter prometido que o seu nome será finalmente retirado do sistema.

    A diferença entre o músico negro e os ricaços brancos golpistas é que os nomes desses nunca entram no sistema. 

    O sistema sabe quem deve ficar marcado como bandido, mesmo que não seja.

    Há entre os empresários gente que já enfrentou outras batidas da Polícia Federal, como Luciano Hang, o véio da Havan. 

    Ele foi alvo de busca e apreensão no inquérito das fakes news em 27 de maio de 2020. Até agora não deu em nada.

    Depois, foi ouvido como investigado no dia 29 de setembro de setembro do ano passado pela CPI da Covid. 

    Em outubro, foi incluído no relatório final da CPI entregue ao Ministério Público como disseminador de fake news. A comissão pediu seu indiciamento ao MP por incitação ao crime. 

    Agora, Hang é alvo de novo de uma operação da PF, desta vez por fazer parte do grupo acusado de tramar um golpe pelo zap.

    O véio, o paladino da liberdade de expressão, desde que seja a dele, já enfrentou investigações, denúncias e condenações por sonegação, mas escapou sempre. Por prescrição ou por renegociação ou anulação das dívidas. 

    Há reportagens aos montes sobre esses casos em que o Ministério Público perde sempre. É só buscar no Google.

    Por isso ninguém encontrará nada contra o véio da Havan em qualquer sistema. Mas o nome do músico Luiz Carlos Justino está grudado ao sistema, por engano, é claro.

    Daqui a alguns anos é provável, não duvidem, que não se encontre nada ou quase nada no sistema também contra os outros setes denunciados pela articulação do golpe e ataques ao Supremo no grupo do zap.

    Não há no sistema até agora um nome sequer de investigados e denunciados ao MP como integrantes das quadrilhas de vampiros vendedores de vacinas dentro do Ministério da Saúde.

    O sistema também ignora, porque foram considerados inocentes pela Procuradoria-Geral da República, todos os que têm foro privilegiado e haviam sido denunciados pela mesma CPI por crimes na pandemia.

    O sistema tem, como exceção entre ricos, os nomes dos caçados pelo lavajatismo para pegar Lula. E tem, claro, muitos negros e pobres, porque essa é a regra.

    O sistema sempre trabalhou para brancos, ricos e de direita ou de extrema direita que se valem de um presumido direito absoluto à liberdade de expressão que só vale para eles. 

    Se não fosse Alexandre de Moraes, o sistema continuaria trabalhando à vontade e só para eles. O sistema é podre.

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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