O sol de quase dezembro
"O Sol, tabloide do Rio de Janeiro, teve vida efêmera, nasceu em setembro de 1967 e morreu em janeiro de 1968. Mas, enquanto viveu, iluminou o Rio", diz Laurez
Faz tremular a paisagem no horizonte. Quente como o verão, o sol de quase dezembro dá cio na terra, nos bichos, tesão banhado em água de chuva. Faz o verde novo vibrar de vigor, " num precipício de luzes".
“O Sol nas bancas de revista, me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia!”
O Sol, de "Alegria, Alegria", Caetano Veloso carregava debaixo do braço para ler na praia ou em casa, e ver que o mundo se "reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas e em Cardinales bonitas”.
O jornal O Sol, tabloide do Rio de Janeiro, teve vida efêmera, nasceu em setembro de 1967 e morreu em janeiro de 1968. Mas, enquanto viveu, iluminou o Rio de Janeiro.
Uma das pessoas que deu a Caetano Veloso "Alegria, Alegria" e vida ao O Sol foi Dedé, sua grande paixão, na época, com quem se casou e viveu mais de 10 anos. Ela era estagiária, havia sido convidada para participar da experiência do jornal escola, que queria "caminhar contra o vento sem lenço, sem documento”.
Depois de inventar Big Boy, o irreverente DJ da Rádio Mundial, que se tornou ícone do radialismo brasileiro, o grande jornalista Reynaldo Jardim foi um dos inventores e editor de O Sol. Surgido inicialmente como um suplemento cultural do Jornal dos Sports. Dois meses depois, já taludinho, O Sol declarou independência e foi para as bancas sozinho.
Reynaldo Jardim assumiu o comando, "por entre fotos e nomes os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos”, foi... "Por que não, por que não?”.
Junto com os editores Zuenir Ventura e Ana Arruda Callado, e mais de 30 jovens formados nas faculdades de jornalismo, "O Sol nas bancas de revista", brilhou, com uma linguagem impactante, inovadora, influenciada pelo movimento da contracultura,
Mais tarde, brotaram nas trincheiras contra a ditadura e a repressão, O Pasquim e outros filhos libertários da imprensa alternativa. O Sol resplandeceu "Em caras de presidentes, em grandes beijos de amor, em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot”. .
Lavado pela chuva, o sol de quase dezembro brilha, "num precipício de luzes".
(*) Reynaldo Jardim viveu entre nós, em Brasília, até os últimos anos da sua vida. O Sol ganhou um documentário, em 2006, dirigido por Tetê Moraes, roteiro de Martha Alencar: O Sol - Caminhando contra o Vento.
(**) Os versos entre aspas são das músicas Alegria, Alegria, e Soy loco por ti América, de Caetano Veloso.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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