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    Chico Junior

    Jornalista, escritor e comunicador

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    O tal do mercado precisa é de acompanhamento psicológico

    "O mercado não fica nervoso à toa, ele age muitas vezes politicamente", escreve Chico Junior

    (Foto: REUTERS/Aly Song)

    Por Chico Junior 

    Uns anos atrás, estava eu conversando com o gerente da minha conta bancária sobre uma transação financeira. A cada etapa da conversa, ele consultava o computador para saber se o sistema permitia ou não a tal transação.

    Depois de ouvir pela enésima vez que “isso o sistema não permite”, eu perguntei, com a maior tranquilidade do mundo: eu posso falar com ele?

    “Com ele quem?”, quis saber o gerente.

    “Com o sistema; quem sabe se numa conversa ele concorda com os meus argumentos”.

    Sorrindo, ele respondeu o óbvio, que eu não poderia falar com o sistema.

    É claro que não, pois o “senhor sistema” não existe; trata-se apenas de um mecanismo maluco que os bancos criaram para infernizar a vida da gente.

    O sistema é irmão, ou primo, do tal do “mercado”, que, diferentemente do sistema, tem humor (ou mal humor), sentimentos e reações próximas às dos seres humanos.

    Na última quinta-feira (10) o tal do mercado reagiu negativamente a um discurso do presidente eleito Lula, e determinou uma queda na bolsa de valores e, não satisfeito, aumentou a cotação do dólar. Como se estivesse mandando um recado ao futuro presidente da República.  

    Lula reagiu, dizendo que o mercado estava muito estressado e que deveria ficar calmo.

    Normalmente, a mídia trata o “mercado” como se fosse uma pessoa com poderes quase absolutos de interferência na economia do país. Pessoa física ou jurídica, não importa, o mercado é um ser surreal.

    Mas, diferentemente do sistema, é possível falar com o mercado; indiretamente, é claro, pois ninguém sabe exatamente quem é ele.  

    Seja ele quem for, o mercado reagiu mal ao discurso de Lula, que propunha mais atenção às políticas sociais do que a preocupação com o “teto de gastos” (o teto de gastos é da patota do mercado).

    E por que o mercado reagiu mal ao discurso?

    Tendo a concordar com a economista Monica de Bolle, que, em entrevista ao jornal O Globo desta sexta-feira, foi clara: “a reação do mercado é ideológica”.

    “Quando teve a PEC Kamikaze, que foi a coisa mais populista e gastadora, a maior licença para gastar, o mercado nem se mexeu”, disse ela. “Foi uma cosquinha. Com o orçamento secreto, não fez quase nada. O teto de gastos já não existe há bastante tempo, desde que foi criado”.

    Ou seja, o mercado não fica nervoso à toa, ele age muitas vezes politicamente.

    E, já que, monitorado por meia dúzia de empresários e investidores, vai ficar se estressando a toda hora, o melhor é procurar tratamento psicológico. Quem sabe se, assim, ele fica mais calmo, como sugeriu Lula.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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