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    William Robson Cordeiro

    Jornalista, músico e Professor. Doutor em Jornalismo pela UFSC e mestre em Estudos da Mídia (UFRN)

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    O viralatismo quer o Lula batendo continência

    Nossa imprensa sempre teve este perfil viralatista. Não é de agora e nem novidade

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa no Palácio do Planalto da Reunião ministerial dos 100 dias de governo - 10.04.2023 (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

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    Lula não voltou atrás de sua fala anterior. Constrangido, leu um texto em que reforçou o posicionamento formal do Brasil diante do conflito da Rússia contra a Ucrânia. O presidente sabe que este imbróglio não envolve apenas estes países. Há interesses geopolíticos gigantescos, a ameaça da derrocada americana que, incomodada, também se vê diante de poucos aliados globais.

    Em sua fala, Lula descreveu uma situação. Não precisa que representantes ucranianos, a serviço dos interesses imperialistas, demonstrem o diverso. “A paz está muito difícil. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não toma iniciativa de paz, o [presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra", disse, no dia 16 de abril, em Abu Dhabi.

    União Europeia e Estados Unidos derramam bilhões no reforço bélico da Ucrânia contra a Rússia. Recursos até criticados dentro dos EUA e que apontam para (sim!) importante contribuição à sequência do conflito. Não há inocência em perceber que a Otan, braço armado imperialista, cumpre missão de enfrentamento direto com a Rússia. Inocência é acreditar que vultosas verbas são destinadas para manter a paz ou para preservar a soberania do território ucraniano. Por favor, né?

    Lula fez uma constatação, não expôs uma inclinação formal. A Rússia não vai permitir que suas fronteiras sejam ocupadas por mísseis e estruturas nucleares apontados para o seu povo. A Ucrânia está pagando um alto preço ao servir de quintal para tal propósito americano. O mundo, em grande parte, só assiste e não apoia os seus intuitos. Veja o comportamento dos países da América do Sul, da África, do Oriente Médio e da Ásia, que buscam não se envolver,  fortemente, com esta questão. Não há, nem de longe, um apoio global aos interesses estadunidenses.

    A mídia, por outro lado, quer estabelecer uma atmosfera diferente. Impõe a Lula uma tendência ocidental ao conflito e de que os inimigos estão do lado de lá (são ditadores, sem democracia, ou seja, medem com a régua deles...). Quer um Lula batendo continência para a bandeira americana, assim como seu antecessor o fez (lembrando que Bolsonaro tornou o Brasil um pária global). Esta mídia traz uma visão reducionista de que este panorama denota somente de relação de um pequeno país invadido por um grande. Faz de conta que os EUA nada têm a ver com isso e, pelo contrário, lutam pela paz.

    Nossa imprensa sempre teve este perfil viralatista. Não é de agora e nem novidade. Para isso, o seu discurso oferece um argumento simplista para uma guerra (aí sim, uma guerra) entre nações que tendem à reconfiguração global e multipolar em pouco tempo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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