O voo em círculos e os desafios de Lula: uma metáfora para a esquerda no Brasil
"Assim como o avião presidencial, o governo opera com menos força devido à oposição raivosa, resistência no Congresso e dificuldades econômicas herdadas"
Na noite de 1º de outubro de 2024, o avião que transportava o presidente Lula do México para o Brasil sofreu um problema técnico e precisou voar em círculos por quatro horas e meia, com apenas um motor funcionando. O destino original ficou para depois, e a comitiva — composta por ministros e senadoras — acabou sobrevoando a base aérea de Santa Lucia, de onde havia decolado. Esse episódio inusitado pode ser lido como uma metáfora perfeita dos desafios que Lula e a esquerda brasileira enfrentam desde o início de seu governo: uma travessia cheia de imprevistos, com pressão constante, onde mesmo os avanços parecem lentos e exaustivos.
Assim como o avião presidencial que se viu forçado a girar no céu por horas, a esquerda, sob o comando de Lula, tem experimentado um período em que o governo parece estar voando em círculos, tentando manter-se no ar apesar dos desafios. E, assim como o motor avariado, o governo opera com menos potência do que o desejado: uma oposição conservadora cada vez mais raivosa e delirante, resistência cínica no Congresso e as dificuldades econômicas herdadas do piloto kamikaze anterior que forçaram Lula a buscar soluções alternativas e negociar constantemente para não cair.
Mas, além disso, a falha técnica do avião evidenciou outra urgência para o presidente: sua presença física nas cidades onde a esquerda pode chegar ao segundo turno das eleições municipais. Com o Brasil inteiro prestes a encarar uma rodada decisiva de votações locais, Lula sabe que ele é a única figura capaz de impulsionar candidaturas progressistas. O presidente, apesar do cansaço e dos problemas de agenda, precisa estar presente em campo, especialmente nas cidades em que o segundo turno está em disputa, como São Paulo, Natal, Porto Alegre e Fortaleza. Se a campanha de 2024 é um voo turbulento, Lula é o piloto experiente que, embora lidando com uma cabine cheia de sistemas em alerta, tem de manter o foco para garantir que a esquerda continue sua rota. A presença de Lula nessas cidades pode ser o "combustível" que falta para que candidatos aliados decolarem e alcancem a vitória. No caso de Fortaleza, talvez tenhamos mais sucesso com uma inesperada e tóxica visita de Bolsonaro no último momento, para lembrar aos alencarinos do vôo turbulento que quase nos jogou ao solo.
Na aviação, a capacidade de um piloto de administrar problemas técnicos e encontrar soluções sob pressão é o que muitas vezes separa um voo seguro de um desastre. No caso de Lula, ele vem se mostrando esse piloto resiliente: mesmo com os motores falhando, mantendo a calma, negociando com adversários e navegando por um Congresso suicida, cujo líder está disposto a derrubar o avião se seus desejos egoístas não forem atendidos, tudo para garantir que o Brasil não perca seu rumo. Mas como em qualquer voo longo e difícil, é inevitável que a exaustão comece a aparecer. Depois de tantas manobras, o pouso seguro é uma necessidade, mas chegar a esse destino vai exigir ainda mais esforço e resiliência, sobretudo com uma tripulação completamente dependente de Lula.
Lula, após voar em círculos por tanto tempo, não tem margem para descanso: as eleições estão à espreita, e a esquerda, tão dependente, precisa dele em terra firme. O cansaço de uma liderança que tem enfrentado turbulências constantes, a responsabilidade de identificar e preparar novas lideranças que possam seguir sua rota, e o pouco falado medo de se aproximar de quem já caiu, começam a pesar. O presidente deverá estar em São Paulo no final de semana, impulsionando a candidatura cada dia mais promissora de Boulos (PSol), mas outros pousos são incertos. O avião, sobrecarregado por tantas responsabilidades, parece cada vez mais difícil de manter no ar, mas segue teimando em círculos e quando o tempo permite em rotas mais ousadas. Afinal, no governo como na aviação, por mais habilidoso que seja o piloto, longos voos sem descanso cobram seu preço — e, neste caso, não temos paraquedas.
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