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    Jeferson Miola

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    Objetivo real com PL da anistia não é anistiar os presos do 8/1, mas provocar confronto e tumulto

    “Aqueles pobres coitados” e as “senhorinhas inocentes presas com a bíblia na mão” são massa das manobras diversionistas dos bolsonaristas

    Estátua do STF 'A Justiça' vandalizada no 8 de Janeiro de 2023 (Foto: Joedson Alves/Agência Brasil)

    Ainda em setembro de 2023, cinco meses antes do Bolsonaro lançar a bandeira da anistia em ato na avenida Paulista, a PGR tinha proposto um acordo de não persecução penal a 1.125 denunciados por crimes no 8 de janeiro de 2023 com penas de até quatro anos de reclusão.

    Pelo Acordo, os réus deviam se comprometer a prestar serviços à comunidade, pagar multa de R$ 5.000 a R$ 20 mil [com isenção nos casos de hipossuficiência], participar de curso de 12 horas de duração sobre Democracia, Estado de Direito e Golpe de Estado, e a não manter contas abertas nas redes sociais por dois anos. Com a adesão, também receberiam de volta os passaportes retidos.

    Na prática, portanto, o acordo equivale à anistia nos seus efeitos, porque restituía a liberdade imediata à enorme maioria dos golpistas presos.

    Apesar, contudo, da enorme atratividade deste acordo, mais da metade dos 1.125 réus ou recusaram ou não responderam à proposta oferecida pela PGR.

    Na verdade, o objetivo real do bolsonarismo com o Projeto de Lei da anistia não é o de anistiar os condenados do 8 de janeiro de 2023, mas sim provocar confronto e tumulto no país diante da iminente condenação e prisão do Bolsonaro e do núcleo dirigente da “organização criminosa armada”.

    A anistia foi planejada como a bandeira central da extrema-direita para o atual período. Foi lançada por Bolsonaro mais de um ano atrás, no ato da avenida Paulista no dia 25 de fevereiro de 2024.

    A bandeira da anistia foi concebida porque surgiam “no horizonte as condenações e prisões do Bolsonaro, de alguns dos generais e oficiais implicados, e outras lideranças do golpe” [ver artigo Com bandeira da anistia, extrema direita se posiciona uma conjuntura à frente, de 27/2/2024].

    O evento nasceu como reação à operação Tempus Veritatis [“hora da verdade”] realizada pela Polícia Federal dias antes, em 8 de fevereiro de 2024, que teve Bolsonaro como um dos alvos.

    A ação da PF, que resultou na retenção do passaporte do Bolsonaro, foi deflagrada após as descobertas da minuta de golpe e da gravação da reunião ministerial para preparar a conspiração.

    No ato da Paulista, Bolsonaro defendeu demagogicamente “uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília”. “Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos”, disse.

    Com sua cretinice infinita, Bolsonaro pediu “a conciliação”. “Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Agora nós pedimos a todos 513 deputados, 81 senadores, um projeto de anistia para seja feita justiça em nosso Brasil”, declarou.

    O objetivo real dos extremistas sempre foi, portanto, o de obter perdão antecipado, sem qualquer julgamento, para o próprio Bolsonaro, para altos oficiais das Forças Armadas e outros líderes do plano criminoso.

    “Aqueles pobres coitados” e as “senhorinhas inocentes presas com a bíblia na mão” são massa das manobras diversionistas dos bolsonaristas.

    O boicote ao acordo de não persecução penal evidencia o nível de radicalização política e ideológica dos extremistas.

    Com esta postura radicalizada, posam de vítimas da perseguição do STF e alimentam a estratégia do bolsonarismo para promover crise política e caos institucional com o PL da anistia que objetiva, na verdade, garantir impunidade a Bolsonaro, aos militares e a todo bando criminoso.


    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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