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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Oficiais inativos, do Exército, fazem defesa da conspiração golpista direto dos EUA

    "O coronel Gerson Gomes, em seu canal ultraconservador, fez uma defesa inflexível, do general Augusto Heleno", aponta a jornalista Denise Assis

    Denise Assis (Foto: Divulgação | Exército Brasileiro)

    Enquanto o Alto Comando do Exército exige retratação e silêncio de oficiais que se manifestam pelas redes sociais a respeito da crise que se instalou na instituição, desde que se misturaram com o cenário político - fase inaugurada no golpe de 2016, por Michel Temer, o primeiro governante a retornar com militares par o cargo de ministro da Defesa -, que a instituição não sai da mídia.  Ora alvo de denúncias do ponto de vista moral – que vão desde a compra de prótese penianas até uso indevido de aeronaves oficiais -, ora acusados de envolvimento em pesada e grave conspiração para matar o presidente, seu vice e um ministro do STF.

    Após vir a público um detalhado relatório da Polícia Federal, com 221 páginas (à beira de virarem 800) que resultou no indiciamento de 37 pessoas, a maioria oficiais e generais, com passagem por cargos de confiança e de ministro, do ex-governo, a reação (conforme detalharam e sugeriram as investigações compiladas nesse mesmo relatório), tem vindo de fora para dentro. Oficiais do Exército Brasileiro radicados nos Estados Unidos, têm cumprido o papel de defender o indefensável: houve uma tentativa de golpe de Estado, com raízes na conspiração nascida nas fileiras da instituição. 

    Nesses dias, pós indiciamento dos envolvidos, um coronel inativo, egresso da AMAN – Academia Militar de Agulhas Negras – oficial de cavalaria, assim como o general Heleno (AMAN 1969) e o General Braga Netto (AMAN 1978), passou a transmitir falas contundentes, em defesa dos ex-ministros de Jair Bolsonaro, ressaltando as “qualidades” desses senhores e seus títulos e condecorações. 

    Alguém precisa dizer para ele que o que está em jogo não são as medalhas e honrarias. E, se essas tivessem de ser defendias, deveriam ter sido pelos seus próprios portadores. Se eles, como altos oficiais, não se preocuparam com a carreira, por que haveremos de aliviá-los, quando metidos na enrascada golpista? 

    Esse coronel inativo, que continua recebendo soldo – a título de garantir que se apresente no dia que uma guerra futura surgir no horizonte do Brasil, como justifica as FAs -, já deu entrevistas na CNN Brasil à época das manifestações golpistas nas áreas militares, em frente aos quartéis, ratificando as pautas. (Sem nunca ter sido incomodado pelos superiores). 

    Agora pulula de segunda à sexta, das 20 às 21 horas, na companhia de figurinhas carimbadas da ultradireita, tais como: Vitor Brown, Rodrigo Constantino, Ricardo Salles, num portal no You Tube intitulado “Bradock Show”. O coronel é o Gerson Gomes, do quarteto de oradores. “Análises” para o público seguidor do inelegível, à luz do que pregava o guru da turma: Olavo de Carvalho.

    Na sexta-feira (22/11), por exemplo, o Gerson Gomes fez uma defesa inflexível, do general Augusto Heleno, com o seguinte discurso: 

    “Entre os oficiais citados eu faço questão de destacar o general Heleno. “O general Heleno é alguém tri-coroado, o que para a audiência, talvez vocês não saibam, mas existe uma medalha nas Forças Armadas, que quando você é o primeiro colocado de um curso, essa medalha vem com uma coroa. E quando você é tri-coroado, significa que você foi primeiro lugar na academia militar, no aperfeiçoamento da ESAO e também na Escola de Comando do Estado Maior do Exército. A chance de isto acontecer é mínima, porque é muito difícil. A competição é muito grande. E o Heleno, o general Heleno, ele não é só um ex-ministro e talvez um dos grandes conselheiros do presidente Bolsonaro. Ele é uma das maiores lideranças militares do Exército. E nós estamos tocando numa estrutura e essa orquestração para desmoralizar, por que não dizer, as Forças Armadas, atacando as suas Forças Especiais, colocando uns contra os outros, prendendo oficiais da ativa...”, protestou. 

    Aí é hora de perguntar: e somos nós, vítimas da sanha golpista de Augusto Heleno, é que temos de zelar pelos seus títulos e “coroas”? Desde quando? 

    E Gerson Gomes prosseguiu: “Onde é que está a Justiça Militar? Como é que o Supremo Tribunal Federal avoca a si, tudo no Brasil? Não existe mais Justiça Militar? Quer dizer que tudo o que está acontecendo agora o ministro Alexandre de Moraes que será o gestor, ele que se diz vítima, ele também será o gestor?”, empolgou-se entoando o discurso disseminado pela ultradireita, e até mesmo reverberado por alguns elementos progressistas.

    E, mais enfático, em tom de ameaça, alertou: “Então eu quero dizer uma coisa. Estão tocando na honra das Forças Armadas. Sim, estão tocando. Porque estão mexendo com lideranças históricas das Forças Armadas. Atacar a reputação do general Braga Netto ou do general Heleno, e eu friso: o general Heleno tem uma liderança e um respeito de gerações nas Forças Armadas.  Não é só do governo Bolsonaro não. Quem não lembra, ele era o primeiro nome do presidente Bolsonaro para ser candidato a vice-presidente da República. Chegou no general Mourão, que era o quinto nome, porque o general Heleno foi impedido pelo partido”.

    Sr. Gerson Gomes, venho por meio deste lhe informar que ninguém está “tocando nas Forças Armadas”. Foram esses elementos, para ficar no jargão, que se despiram de anos de caserna, guardaram na gaveta a lataria das honrarias e, com a maior desfaçatez e contra todos os princípios da Constituição que juraram defender, tentaram por todos os meios contrariar a vontade das urnas, as regras da democracia e nos jogar de novo nas sombras de um regime autoritário. 

    Está lá no relatório da PF, descrita a previsão de censura, de prisões, de “controle” na base do “custe o que custar”. Agora, o que os aguarda são os rigores da Lei. Que zelassem eles, por suas histórias, seus currículos e as próprias trajetórias. A nós, o que cabe é defender a todo custo a liberdade duramente conquistada, depois de anos de arbítrio e violência jamais admitida pelas Forças Armadas. Essa mesma, que se desmoralizou, desde que admitiu acampamentos terroristas na frente dos seus quartéis. Cedeu água, luz, toneladas de carnes e os seus oficiais mais bem treinados, os “forças especiais”, para impedir a posse do novo presidente. Com que fito? Acabar com a democracia, assassinando os escolhidos pelo povo brasileiro. Que mofem na cadeia, cumpridos todos os preceitos legais! (O vídeo com a fala do coronel Gerson Gomes está no seguinte endereço: https://www.bradockshow.com.br/)

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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