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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Operação da Polícia Federal contra ex-advogado de Adélio fortalece narrativa de Bolsonaro

Fernando Magalhães, que foi alvo de busca, já não atua no caso de Juiz de Fora, mas a PF, ao relacioná-lo a Adélio, deu oportunidade para manchetes desonestas

Adélio e um jatinho apreendido pela PF na operação (Foto: Reprodução)

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A Polícia Federal realizou nesta terça-feira operação de busca e apreensão contra o advogado Fernando Costa Oliveira Magalhães, que atuou no caso de Adélio Bispo de Oliveira. Ele integrou a banca de Zanone Manuel de Oliveira Junior, que foi o primeiro a defender o protagonista daquele episódio de Juiz de Fora que definiu a eleição presidencial de 2018.

A banca de Zanone foi afastada do caso em 2021, depois que Adélio Bispo de Oliveira enviou carta à Defensoria Pública da União (DPU) e ao magistrado Bruno Savino, da 3a. Vara da Justiça Federal em Juiz de Fora, em que acusou os advogados de atuarem contra seus interesses.

Apesar da banca estar fora do caso há três anos, veículos de comunicação como o Poder 360 informaram, erradamente, que Fernando Magalhães é advogado de Adélio e não ex-advogado. Como Magalhães foi relacionado à lavagem de dinheiro do PCC, a notícia caiu como uma luva na narrativa de Bolsonaro.

A CNN publicou imagem de Adélio no dia 6 de setembro de 2018 em Juiz de Fora, quando este observava o então candidato a presidente e escreveu: “Advogado tinha ligação com PCC, mas Adélio Bispo agiu sozinho em ataque a Bolsonaro, diz PF”

Na gestão do ex-presidente de extrema direita, o inquérito mudou de mãos quando bolsonaristas compartilhavam postagens para vincular Adélio ao PCC e este ao Partido dos Trabalhadores e Lula. Essa mudança de delegado na presidência do inquérito ocorreu em 2022, ano da última eleição presidencial..

Rodrigo Morais, que era o titular da investigação, foi transferido para um posto em Nova York, e o delegado Martin Bottaro Purper, considerado especialista em PCC, assumiu o inquérito. Bottaro Purper foi também quem conduziu a investigação que relacionou criminosos a um suposto plano do PCC para atentar contra Sergio Moro.

O que Bolsonaro tentou em sua gestão, ele agora consegue na de Lula: fortalecer a falsa narrativa de que Adélio é ligado ao PCC. Nesta terça-feira, a Polícia Federal fez questão de esclarecer que Adélio agiu sozinho. Portanto, descartou envolvimento da facção criminosa.

Porém, manchetes que contêm na mesma frase Adélio e PCC têm efeito politicamente favorável à narrativa bolsonarista. E nenhum esclarecimento da PF é suficiente para deter a máquina de desinformação da extrema direita.

A PF nunca investigou a hipótese de auto atentado de Bolsonaro, embora esta tenha sido considerada ”plausível” por um policial que participou do primeiro inquérito. Mas, segundo ele, era preciso um motivo muito forte para avançar nesta hipótese.

A expectativa era que a viúva de Gustavo Bebianno, falecido em 2020, pudesse gerar essa oportunidade no depoimento que prestou no final daquele ano.

Antes de morrer, Bebianno, que coordenou a campanha de Bolsonaro em 2018, havia dito que guardava segredo nas mensagens trocadas com o então candidato a presidente. Segundo ele, as mensagens estavam armazenadas no iPhone 10 que havia enviado aos Estados Unidos, por segurança.

Renata Bebianno, a viúva, foi intimada a prestar depoimento e fez uma afirmação que a PF não considerou crível. Renata disse que havia destruído o aparelho e que, portanto, seria impossível recuperar as mensagens.

A PF também poderia ter verificado a inconsistência da versão de que Adélio seria um militante de esquerda inconformado com as declarações políticas de Bolsonaro. Um ano antes do episódio em Juiz de Fora, Adélio defendeu enfaticamente um projeto de lei que tinha Bolsonaro, então deputado federal, entre seus autores.

Tratava-se da proposta de redução da maioridade penal, que havia sido aprovada na Câmara dos Deputados e que não foi votada no Senado por decisão do então presidente, Renan Calheiros, por inconstitucionalidade. Adélio, então, atacou Renan.

Outras bandeiras do bolsonarismo também eram agitadas por Adélio no Facebook. Uma delas era a defesa da gestão militar em centros de cultura e lazer, para supostamente evitar que os jovens usassem drogas ou fossem cooptadas pelo tráfico.

Ao tomar conhecimento de que a PF reafirmou a ação solitária de Adélio, Bolsonaro também se manifestou. Ele disse que a PF deveria ter investigado melhor a ida de Adélio ao Clube de Tiro .38, em Santa Catarina, segundo ele, para atacar Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.

Deveria ter investigado o Clube de Tiro, sim, mas por outra razão. Como Adélio sabia que Carlos estaria lá no dia 6 de julho de 2018, quando fazia o curso de tiro? Por que Adélio foi fazer curso de tiro se nem arma tinha? E ainda mais: num clube que cobrava por esse curso o equivalente a três meses do aluguel que Adélio pagava por um quartinho?

O documentário “Bolsonaro e Adélio - Uma Fakeada no Coração do Brasil”, de minha autoria, tem uma cena em que Adélio se aproxima de Carlos Bolsonaro, em Juiz de Fora, e este se tranca no carro. Em entrevista para Leda Nagle, Carlos disse que se assustou com a aproximação dele.

Se não conhecia Adélio, como diz, por que temeu? E se suspeitou dele, por que não avisou os seguranças da campanha? Perguntas que precisam de respostas. A PF poderia ter avançado nessa linha. Em vez disso, avançou na linha que vincula o ex-advogado de Adélio ao PCC.

Tudo bem, é preciso agir diante de indícios de lavagem de dinheiro por parte do advogado, mas seria ingenuidade imaginar que não haveria exploração política. Adélio pode ter agido sozinho, mas, para fazer essa afirmação, a PF deveria antes investigar e esgotar a hipótese do auto atentado.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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