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    Emir Sader

    Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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    Oriente e Ocidente

    "A relação entre o Ocidente e o Oriente é uma relação de exploração", explica Emir Sader

    (Foto: NASA)

    O Oriente é uma invenção do Ocidente. Seria tudo o que não é Ocidente: do Japão ao Paquistão, da China à Síria, entre tantos outros países tão diferenciados. O Oriente é o que não é o Ocidente.

    Não pode haver concepção mais auto-referente como essa. A identidade das outras partes do mundo é definida pelos europeus e em relação ao que eles são. A centralidade é da Europa, os outros são outros em relação a ela.

    Foi em torno do eurocentrismo que se construiu a história universal, como ela nos foi transmitida. Uma visão em que o centro do mundo era a Europa, não apenas em termos geográficos, mas também em termos culturais, a partir da polarização “civilização ou barbárie”. 

    Uma interpretação que faz com que a história seja praticamente reduzida à história da Europa, em relação à qual os outros continentes seriam periferia.

    O Oriente aparecia quase como uma invenção europeia, sendo, desde a antiguidade, um lugar de romances, de seres exóticos, de memórias e de experiências raras. O Oriente serve para definir o outro do Ocidente, para definir a identidade do próprio Ocidente, como oposição ao Oriente que ele mesmo inventou. O Oriente serve para o Ocidente se definir mesmo como o outro do Oriente.

    A relação entre o Ocidente e o Oriente recobre, no capitalismo, a relação entre centro e periferia, entre o norte e o sul, portanto é uma relação de exploração, de dominação, não apenas econômica e política, mas também cultural.

    Para Edward Said, autor do extraordinário livro “Orientalismo”, a mente oriental é definida como uma mente que abomina a precisão. Seriam simplórios, desprovidos de energia e iniciativa, com mau gosto, intriga, simulação, seriam mentirosos, letárgicos, desconfiados. Said, como especialista em teoria da literatura, retira todas essas características da forma como a literatura define a mente oriental. Tudo oposto à racionalidade, ao caráter maduro e virtuoso da mente ocidental.

    Durante o seu apogeu político e militar, do século VIII ao XVI, o Islã dominou tanto o leste como o oeste. A partir do final do século XX, o poder voltou a se deslocar de novo para o leste.

    Até ali os orientais eram vistos não como cidadãos ou como povo, mas como problemas a serem resolvidos. A própria designação de algo como oriental já representava um juízo de valor. 

    O eurocentrismo se articula em torno da oposição entre civilização e barbárie. Em condições em que o que ele excluiu da civilização contêm as mais antigas civilizações da história. Uma forma de afirmar sua identidade pela construção de um outro que lhe convém.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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